Diario de Cáceres | Compromisso com a informação
Pai de Rodrigo Claro acompanha outro caso de tortura
Por Rayane Alves
16/09/2017 - 11:47

Foto: arquivo

Antônio Claro, pai do soldado Rodrigo Claro, que morreu depois de passar mal durante um treinamento do Corpo de Bombeiros, em novembro do ano passado, ficou por uma semana, em Cuiabá, para acompanhar o depoimento das testemunhas à Serviço de Polícia Interestadual (Polinter), em que a tenente Izadora Ledur de Souza aparece mais uma vez como acusada no crime de tortura durante a formação do curso de soldados da Corporação. 

A tenente já responde por uma ação penal por ter praticado o crime de tortura contra Rodrigo Patrício Lima Claro, durante uma atividade aquática para a 16ª edição do Curso de Formação de Soldado Bombeiro do Estado de Mato Grosso, na Lagoa Trevisan, em Cuiabá. 

No começo de agosto, o Ministério Público encaminhou um ofício a Polinter para que a tenente fosse investigada pela segunda vez. E, na segunda-feira (03), os depoimentos iniciaram, e o pai de Rodrigo que ocupa o cargo de 2º tenente do Corpo de Bombeiros, viajou 503 quilômetros, de Sinop até Cuiabá, para acompanhar o andamento da Justiça no caso do aluno Maurício Júnior dos Santos. 

Neste segundo crime, em que a tenente Ledur tem o nome citado em crimes de tortura, o Ministério Público Estadual busca apurar se a tenente e outros envolvidos no 15º Curso de Formação de Bombeiros, realizado em 2015, que Mauricio participava teriam cometidos crimes de tortura. 

Em depoimento, o aluno contou que teria sido submetido a sessões de afogamentos e chegou inclusive a desmaiar. Por conta disso, ele desistiu da carreira de bombeiros por temer a vida dele. 

Ao DIÁRIO, Antônio Claro contou que Mauricio temeu em denunciar o crime na época. Mas, devido à gravidade da situação do filho dele, a família do jovem, ficou mais encorajada a denunciar os “castigos” sofridos. 

Conforme Mauricio, era de conhecimento de todos a metodologia de afogamentos durante os cursos de soldado. Pois, os instrutores afirmavam, que a prática era para força a desistência deles no curso, e as afirmações geravam receio e medo para quem tinha dificuldades no nado. 

Durante a 15ª edição, o aluno contou que nadou aproximadamente 40 metros e de repente sentiu muitas câimbras nas pernas. Os colegas de sala pararam para ajuda-lo e uma boia foi lançada por um tenente que facilitava a travessia deles. 

Mas, neste exato momento Ledur determinou que todos que o ajudavam largassem ele. Com isso, ele ficou para trás com ela e a mesma o humilhou com palavras de baixo calão. 

Segundo o aluno, Ledur teria invertido a boia e deixou ele apenas com a corda passada em torno do pescoço e axila. E, nisso ela fazia movimentos em que o forçava a submergir. 

As sessões de tortura foram repetitivas, tanto que num momento ele segurou nos braços de Ledur, e implorou que ela parasse com aquilo. 

Mas, ela disse: “você está louco, aluno encostando em tenente”. E as sessões de afogamento continuaram até que ele desacordou. No entanto, o aluno não soube dizer a Justiça por quanto tempo ficou desacordado e quando retornou com a consciência estava fora da água com fortes dores de cabeça e vomitando muito. 

Diante do condicionamento físico o aluno disse que não iria voltar. Mas, mesmo assim, Ledur gritava e afirmava que ele precisava retomar a atividade. E, por causa da pressão, voltou e as sessões de tortura voltaram a se repetir e, por causa, disso ele perdeu a consciência mais uma vez e ao acordar pela segunda vez estava dentro de uma ambulância de resgate. 

Depois do episódio, Mauricio desistiu do curso e ficou calado. Mas, ao ver o esforço da família Claro decidiu ir a frente e também “Clamar por Justiça”. 

“No caso dele teve a felicidade de ficar vivo. Meu filho não. Minha família ficou destruída depois do caso. Já são 10 meses e todos passam por sessões com psicólogo porque foram diagnosticados com depressão. E, eu estou afastado das minhas funções da Corporação uma das coisas que não consigo é vestir o uniforme. Olho e me dá tremedeira. Tive que esconder em um dos cômodos do guarda-roupas onde posso esquecer”, lembrou. 

Um dos momentos marcantes em que o filho iniciou na carreira do pai, que já tem 23 anos de profissão e trouxe alegria, foi Rodrigo ter escolhido o nome de guerra como Claro. 

“Foi uma imensa homenagem para mim. Sorri e falei vou ver meu filho lutando e salvando vidas. Nós dois fazíamos curso eu para o cargo de segundo tenente e ele para soldado, mas há 17 dias de finalizar o curso Rodrigo morreu. No dia 18 de outubro, ele completaria 22 anos. Morreu novo e meus outros dois filhos tinham sonho só que a falta de profissionalismo que ainda falha na corporação deixou o sonho deles morrer. É lamentável, mas hoje vivo apenas na memória e lembranças de que um dia ele tentou ser como eu. E vou lutar até o fim por Justiça”, finalizou.

Carregando comentarios...

Meio Ambiente

Três locais impróprios para banho em MT

16/09/2017 - 11:41
Artigos

Você tem fé?

15/09/2017 - 09:31