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O poder de cura é o poder da palavra
Por por Cristhiane Ortiz
28/11/2018 - 15:18

Foto: arquivo

A palavra está presente desde o começo do mundo. Quando Deus disse faça-se o mundo e o mundo foi feito, quando Moisés leu os dez mandamentos, presentes no livro Êxodo 20, sobre os ensinamentos que deve(ría)mos seguir.

Há tempos atrás bastava dar a palavra e faziam-se acordos, perdia-se ou ganhava-se terras, e impérios, bastava uma palavra e estava tudo acordado. Não havia cartões, nem cheques, a palavra valia mais do que um papel.

A palavra tem seu poder, através da palavra podemos abençoar, curar, a palavra pode ser bálsamo ou veneno, pode ser usada como uma arma, e ferir, magoar, humilhar, oprimir, denegrir, produzir infortúnios, inclusive matar! Depois de lançada, a palavra não tem volta, podemos nos arrepender, desculparmos, mas ela continua a exercer o seu poder, a palavra ecoa, no pensamento, continuará a pulsar, e a vibrar no íntimo de quem a proferiu.

Leandro Karnal afirma que “em nome da liberdade de expressão, a gente acha que pode dizer tudo, sobre todos, as palavra ferem, podem reduzir as pessoas, podem atacar, as palavras podem representar, inclusive diminuição de questões profissionais das pessoas”.

Karnal diz que o homem sempre foi detrator, considera mais fácil apelarmos aos estereótipos aos arquétipos, a tudo aquilo que nos ensinaram, forças atávicas, tradicionais, como por exemplo é mais atávico falar da forma física feminina, do que a masculina, essa cobrança é mais comum, falar da mulher, como aquele aprendizado de quando era menino, e ouvia meu pai falar da mulher ao volante, ”tinha que ser mulher”, Karnal considera uma tradição misógina, primitiva que nos foi passada há tempos !

Segundo o filósofo, toda detração tem como objeto alguém, mas toda vez que apontamos o dedo a alguém, há três dedos apontados a nós. É a teoria psicanalista básica freudiana, “quando Pedro fala de Paulo, Pedro diz mais de Pedro do que de Paulo.”

Leandro nos adverte de que “se eu lhe acuso de alguma coisa, obviamente essa coisa encontrou um eco em mim, difícil de ser resolvida”, por isso exemplifica a homofobia, como creem os psicanalistas, ser sempre o choque entre dois homossexuais, o que aceita a sua sexualidade e o que não aceita, daí entram em choque!

Ou seja, segundo Karnal, falar mal é uma forma de falar do que nos dói, do que nos incomoda. Por isso, devemos ter cuidado, porque é uma espécie de raio x da nossa alma!

Então penso que, se pararmos para refletir quantas vezes dizemos coisas que depois nos arrependemos, iremos nos lembrar de muitos momentos, em que damos vazão à insensatez, e nos adiantamos materializando pré-conceitos que depois nos conscientizamos que foram equívocos, que muitas vezes acabamos cometendo, com aquela pessoa que nos antipatizamos sem ao menos tê-la de fato conhecido. Porque certas pessoas nos irritam, nos aborrecem, e porque determinadas coisas ditas em certas bocas nos incomodam, ao passo que ditas por outras pessoas não nos afligem? E achamos normal, natural? Seria a forma de falar que nos irrita?

Reitero Karnal ressaltando que desde a Grécia já havia o preconceito, Aristófanes ao falar de Sócrates, e ao falar da Democracia em suas comédias, cometia o mesmo tipo de preconceito.

O autor diz que preconceito é um dos elementos que estabelece uma tentativa de aliança entre mim e o outro. Ele nasce da ignorância, e nasce também do medo, afirma que se tivesse pai e mãe para o preconceito, um seria a falta do conhecimento, o outro é angústia do medo, essas duas coisas que existem em todas as pessoas, porque todos nós temos medo, e faz emergir isso. Karnal pondera que no alvo de nosso preconceito está o nosso desejo, a todo instante, aquilo que projetamos no outro, o preconceito é muito forte, livrar-se dele é quase impossível, para que ele seja superado precisamos de duas coisas, uma é a Educação, que é o consenso, e a outra é a coerção, que é a Lei. Compreende a necessidade de se ter campanhas e debates para a conscientização, pois a junção destas duas coisas podem resolver a média e a longo prazo, imediatamente Não, porque nós temos uma sociedade preconceituosa!

A MPB já eternizou em suas músicas que “o mal é o que sai da boca do homem”. E de acordo com pesquisas realizadas na área de saúde, o que o corpo não consegue processar, acaba se transformando em doenças. Nosso poetinha “vagabundo” já confirmou que “é melhor ser alegre, do que triste...,” Dessa forma não devemos reprimir o que passa no nosso íntimo, desde que isso não fira, nem prejudique a ninguém, nem que seja um palavrão, eu sou dessas, quando vejo já soltei, sempre fui desse modelo, talvez seja o meu ascendente em áries, mas não me arrependo, prefiro ser daquelas que dizem, do que as que fazem. Nunca gostei do tipo que nunca profere palavras de baixo calão, mas em compensação, não representam modelos de santidade, mas a sociedade exige que sejamos hipócritas, “damas na sociedade ...”

Assim, que a palavra, positiva, seja verdadeira, que dispensem lisonjas, e excessos, e sobretudo que prevaleça em nossas vidas e possam se cumprir em nossos caminhos. Nem que seja em forma de um palavrão, é preciso soltar os demônios guardados, depurar, fazer uma alquimia, “que meu alimento seja meu remédio, e o meu remédio seja o meu alimento”, logo é essencial rever o que lemos, o que ouvimos e assistimos, largar mão de acessar coisas tristes, que nos perturbam e nos deixam carregados e pesados. Já que temos nossos “quartinhos de fundo” que revisitamos sempre que a nossa memória teima em nos fazer pagar pelo que (não) fizemos, ou pelo que nos fizessem.

 

Cristhiane Ortiz é graduada em Letras na UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO

Mestranda em Linguística na UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO.

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