Escudo humano: Trauma para toda vida
Por Diário de Cuiabá
19/11/2012 - 12:20
Na semana em que Lindomar Alves de Almeida, líder de uma quadrilha do “novo cangaço”, foi preso, uma de suas vítimas resolveu quebrar o silêncio e contar, ao Diário, o drama que é ficar sob a mira de assaltantes perigosos.
Funcionário do Banco do Brasil em Campo Novo do Parecis (384 km de Cuiabá) em 2010, o bancário, que prefere não se identificar, lembra em detalhes do dia 2 de dezembro daquele ano, quando oito homens
armados de fuzis, com fardas do Exército e capuzes escondendo o rosto entraram na agência em que trabalhava, anunciando o assalto. “Eles entraram, todos armados, mandando os homens tirarem as camisas. Eles atiravam a toda hora, acertando os vidros, os computadores, o teto”, recorda. A Polícia Civil diz que Lindomar chefiou aquela ação.
Segundo o bancário, era visível que a quadrilha havia passado alguns dias observando a agência e os funcionários, pois seus integrantes se dirigiam a muitos deles pelo nome. “Estava todo mundo sem camisa e sem crachá, mas eles sabiam os nomes, e sabiam quem era funcionário e quem era cliente”.
Depois de anunciado o assalto, o líder da quadrilha dizia a todos que eles eram profissionais, que queriam apenas o dinheiro do banco, e que não machucariam ninguém. “Eles falavam que se ninguém bancasse o herói, iria acabar tudo bem. A única preocupação era se aparecesse a polícia. Se isso acontecesse, eles disseram que haveria troca de tiros e algum de nós poderia morrer”.
Usando várias pessoas como escudo humano na fachada do banco, os assaltantes obrigaram o restante a carregar os sacos de dinheiro até a caminhonete. “Dava para perceber que alguns deles estavam muito nervosos, como se fosse o primeiro assalto. Eles atiravam muito para o teto, gaguejavam na hora de falar e tremiam demais. Mas tinha os mais experientes, os líderes. Estes eram sérios e davam as ordens, mandavam todo mundo fazer alguma coisa e tentavam manter a calma das pessoas, falando que queriam só o dinheiro do banco”.
A morte de dois assaltantes do novo cangaço – um de 25 anos e outro de 31 - pela polícia na semana passada, em Várzea Grande, comprova exatamente o que o bancário diz: bandidos mais experientes recrutam os mais jovens para participar das ações.
Quanto aos reféns, o bancário conta que todos estavam muito nervosos, muitos choravam, mas obedeciam às ordens dos assaltantes. “Ninguém reagiu, nem falou nada. Mas todo mundo estava com muito medo. Eu tremia, estava muito tenso, preocupado com a possibilidade de haver uma troca de tiros”.
Depois de carregar a caminhonete, a quadrilha colocou algumas das vítimas no veículo e foi embora. “No meu caso, eles me forçaram a colocar fogo na agência antes, e depois me levaram junto com umas dez pessoas”.
Dirigindo em alta velocidade, os assaltantes ainda assim tentavam manter os reféns calmos, dizendo que logo seriam liberados, que o assalto já estava quase no final. Depois de passar a ponte sobre o Rio do Sangue, a quadrilha mandou todos saírem de uma das caminhonetes, atearam fogo nela, e foram embora, deixando as vítimas a cerca de 30 km da cidade.
“Depois disso, nós caminhamos até a ponte e conseguimos carona com um fazendeiro que estava passando. Ficamos cerca de uma hora na estrada. Até voltar, foram umas duas, quase três horas fora”, conta o refém.
O assalto ocorreu na quinta-feira de manhã. “No outro dia eu fui pra Cuiabá, que é onde minha família mora”. Atualmente, o bancário continua trabalhando no Banco do Brasil, mas em outra cidade.