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Ser mulher, ser de luta, ser ninja
Por por Jandira Maria Pedrollo
07/03/2021 - 21:55

Foto: arquivo

Por diversas ocasiões acontecem comemorações do dia das mulheres com eventos festivos onde há distribuição de flores. Uma demonstração de carinho, homenagem singela pela passagem do dia. Mas, que comemoração é essa afinal! Não, não é em razão à graça, à beleza e à candura da mulher. 

 

O dia da mulher é dia de luta, dia de lembrar que você pode, que nós podemos! A data comemorada diz respeito às manifestações das mulheres por melhores condições de trabalho, ocorridas no início do século passado e oficializadas pela ONU em 1975, portanto, nada a ver com flores, mas com nossas conquistas.  

 

Há menos de 90 anos a mulher brasileira conquistou o direito a votar e a ser votada, foi em 1933, na eleição da Assembleia Nacional Constituinte, porém, os debates antecederam a Constituição de 1824. No entanto, em países como a França e a Suíça, esse direito só foi conquistado após 1944 e 1971, respectivamente. Quanto ao acesso aos estudos, no Brasil o ensino superior chegou com a Coroa Portuguesa, em 1808, mas foi facultado à mulher após a Reforma Leôncio de Carvalho, em 1879, sendo a primeira brasileira a se graduar no Brasil, Rita Lobato Velho Lopes, em Medicina, na Bahia, em 1887.  

 

Anteriormente a mulher tinha o direito (dever?) a casar e tratar dos deveres domésticos: casa, filhos, marido e, quiçá, pais e sogros. Se tivesse serviçais ótimo, caso contrário, se virava conforme podia. Apesar das lutas e das conquistas, já em meados da primeira metade do século 21, continuamos em embates para nos impor e conquistar o espaço que é devido, apesar da competência e da qualificação adquirida. 

 

Conforme IBGE, 52,8% da população brasileira é feminina e 23,5% com 25 anos ou mais têm curso superior completo. Homens com graduação superior são 20,7%. Apesar dos números, a supremacia dos homens é observada nos postos conquistados em cargos eletivos, nos primeiros e segundo escalões de órgãos/instituições públicas, nos conselhos de classe, nas direções de empresas e por aí vai. Normalmente, na posição de comando lá está o homem, para coordenar a maioria de mulheres. Mas por que se somos em maioria? 

 

Um dos possíveis motivos diz respeito à nossa agenda atribulada. Poucas tomam frente em posições de destaque porque os deveres domésticos sugam o tempo e a energia.  Sem dúvida é um reflexo da cultura secular à qual a mulher está inserida e que traz prejuízos às suas atribuições profissionais. Da mulher é exigida a dupla ou tripla jornada de trabalho se almejar voos mais altos, o que não é para qualquer uma, mas não podemos esmorecer. É preciso desempenhar as funções com maestria pois a competitividade do mercado de trabalho é grande.  

 

Há aquelas que possuem companheiros que assumem as atividades caseiras para que a mulher deslanche em sua profissão, ou mesmo que partilhem em condições de igualdade, porém dificilmente assumem a coordenação da casa, o que também é exaustivo. E assim, enquanto nos ocupamos com tarefas corriqueiras, repetitivas e exaustivas, somos mantidas na insignificância. As decisões sobre nossas vidas são resolvidas por outros que nem ao menos sabem das nossas necessidades, pois não passaram por elas.  

 

Em se tratando de cargos eletivos, as mulheres em cargos públicos, apesar da política de cotas, são pouquíssimas e mesmo raras. Diversas das que conseguem se eleger vêm de famílias de políticos, como esposas ou filhas desses, ou ainda as possuem um suporte financeiro que lhes dê apoio.  

 

Pouquíssimas são as que se elegem por seus próprios méritos. No Senado e na Câmara Federal apenas 15% dos representantes são da bancada feminina, representante de Mato Grosso, apenas uma, e assim é a composição na maioria dos estados brasileiros. Na bancada estadual, dos 24 representantes há apenas uma deputada mulher. Mas por que, apesar de lutas seculares, não estamos sendo representadas? Oras, porque não nos apoiamos, e a união faz a força.  

 

Compreensível que as tarefas cotidianas absorvam os esforços, mas é preciso uma luta a mais para podermos ter a representatividade que nos é de direito. É preciso que as mulheres deixem de ser “do lar” e sim que o lar lhes pertença para que lhes seja possível a maior integração e atuação na sociedade. Parabéns a todas as mulheres, vocês são realmente “ninjas”! 

 

Jandira Maria Pedrollo, arquiteta e urbanista, membro da Academia de Arquitetura e Urbanismo de Mato Grosso (AAU-MT) 

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