Reconhecida pela OMS (Organização Mundial de Saúde) e pela OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde) como uma doença negligenciada, a doença de Chagas foi descoberta há mais de 100 anos e ainda mata mais de 10 mil pessoas por ano devido a complicações clínicas da doença. O dado é da OPAS, que estima, ainda, cerca de 30 mil novos casos por ano, decorrentes das diversas formas de transmissão.
O médico Pável Miranda Barreto explica que a doença de Chagas tem cura, quando o tratamento é iniciado ainda na fase aguda. Ou seja, quando o protozoário ainda circula pelo sangue do paciente. Mas, o médico alerta que a doença seria evitável se a população, principalmente a mais vulnerável, tivesse melhores condições de moradia, por exemplo.
“A Doença de Chagas compõe um grupo de mais de 20 patologias que são reconhecidas como sendo doenças negligenciadas, principalmente na nossa região, o continente americano. Isso significa que há um descuido, uma falta de zelo, por parte dos responsáveis políticos e dos sistemas de saúde dos países que compõem a nossa região, e que vem acontecendo há décadas. Estamos falando de condições evitáveis e tratáveis, que estão praticamente ausentes da agenda global de saúde com pouca atenção e financiamento”, afirma o médico e professor do IDOMED (Instituto de Educação Médica) Fapan.
O crescimento da população e das cidades, as condições precárias de infraestrutura das casas, o desmatamento e a ocupação por parte dos seres humanos do habitat do inseto transmissor da doença são fatores que aumentam as chances de contágio.
“A doença de Chagas está diretamente relacionada com a situação econômica, especificamente com as condições de moradia e com a desassistência em termos de atenção à saúde das populações mais carentes. Com um aumento do número de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, com condições de moradia precárias, podemos esperar um aumento dos casos nos próximos anos. Para diminuir esse risco, precisamos da vontade política dos governantes para melhorar as condições de moradia, planejar de forma adequada o crescimento das cidades, controlar o desmatamento, assim como de um maior esforço e recursos para realizar campanhas de educação em saúde”, alerta Pável Barreto.
De acordo com o médico, a doença de Chagas tem duas formas de apresentação: uma aguda, com sinais e sintomas inespecíficos, que podem ser confundidos com várias outras patologias, e a crônica. Esta última pode evoluir de forma assintomática ou apresentar sinais e sintomas de acometimento em dois principais sistemas de órgãos, o cardiovascular e o digestivo. Os pacientes podem apresentar sinais e sintomas de afetação cardíaca e/ou digestivas.
Na fase aguda, febre, dores de cabeça, fraqueza, inchaço no rosto e nas pernas são alguns dos sintomas que podem aparecer. Se o paciente não for diagnosticado e tratado adequadamente na fase aguda, as chances de evoluir com uma forma crônica da doença são maiores.
“Por conta da dificuldade no reconhecimento dos sinais e sintomas e pela dificuldade ou precariedade na avaliação do contexto epidemiológico, quase 90 % dos pacientes acometidos pela doença são diagnosticados na fase crônica, com as complicações já instaladas. O tratamento não vai ter os mesmos resultados que quando usado no início, na fase aguda”, explica o professor do IDOMED.
O diagnóstico precoce e o tratamento podem diminuir significativamente o risco de evoluir para a fase crônica e, portanto, diminuir as chances dos pacientes desenvolverem as complicações cardíacas ou digestivas características da doença de Chagas crônica.
Nesta sexta-feira (14), quando é comemorado o Dia Mundial da Doença de Chagas, o médico explica que o tratamento é feito com medicamentos de uso oral. No Brasil, estão disponíveis no SUS (Sistema Único de Saúde), dois medicamentos para tratamento da doença de Chagas.
Conforme a OPAS, o Dia Mundial da Doença de Chagas é celebrado no dia 14 de abril para aumentar a conscientização sobre essa doença negligenciada. Foi comemorado pela primeira vez em 14 de abril de 2020 após a aprovação e endosso recebido pela Assembleia Mundial da Saúde na OMS em maio de 2019.