Oito empresas, nacionais e estrangeiras, manifestaram interesse na futura concessão da hidrovia do Rio Paraguai. Elas participaram de sondagem promovida pelo Ministério de Portos e Aeroportos (MPor), etapa que antecede a publicação do edital e serve como termômetro para avaliar o interesse do setor privado pelo projeto.
Segundo Dino Antunes, secretário nacional de Hidrovias, a iniciativa de ouvir o mercado — conhecida como “market sounding” — busca receber contribuições antes da análise final do Tribunal de Contas da União (TCU), que examina o processo desde agosto.
O secretário enfatizou que as sugestões não devem provocar mudanças substanciais no projeto, apenas ajustes pontuais em alocação de riscos e detalhes técnicos. “Estamos avaliando apenas algumas questões de alocação de risco, detalhes. Muitas vezes são pontos que não percebemos. Mas são questões bastante pontuais”, afirmou.
Trâmites internacionais e extensão internacional
Além das discussões técnicas, o governo enfrenta interlocuções diplomáticas. Paraguai e Bolívia defendem que o empreendimento só avance com autorização em seus territórios. O trecho compartilhado com o Paraguai é de cerca de 300 quilômetros, enquanto o com a Bolívia chega a aproximadamente 50 quilômetros.
No caso paraguaio, a concessão precisa ser aprovada pelo Congresso do país. Antunes afirmou que, embora essa exigência exista, não deve causar grandes embaraços.
Modelo, investimentos e cronograma
O projeto inaugura o modelo de concessão de hidrovia no Brasil. O objetivo é aumentar a segurança e a previsibilidade do transporte aquaviário, além de garantir dragagem de manutenção, sinalização e navegação noturna.
O contrato inicial previsto terá 20 anos, com possibilidade de prorrogação sucessiva até 70 anos. A concessão abrangerá 600 quilômetros no chamado Tramo Sul, entre Corumbá (MS) e a foz do rio Apa, na fronteira com o Paraguai.
Para os cinco primeiros anos, o MPor projeta aportes de R$ 43,2 milhões.
A disputa pela concessão deve ocorrer em duas etapas, conforme modelo defendido pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ). Na primeira, a mineradora LHG Mining – principal usuária da hidrovia – ficará impedida de participar, podendo concorrer apenas na segunda fase, caso não haja interessados.
A LHG responde por cerca de 75% do volume de cargas da hidrovia e já mantém operações com a Hidrovias do Brasil. Em 2025, adquiriu 400 barcaças e 21 empurradores, reforçando sua atuação estratégica.
Leilão em 2026
Inicialmente previsto para 2025, o leilão foi adiado por questões burocráticas. A expectativa agora é que ocorra nos primeiros meses de 2026, embora o edital possa ser publicado ainda neste ano, dependendo das interlocuções com o TCU.
O governo afirma que eventuais atrasos não comprometem o resultado final, desde que a modelagem seja sólida.