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CPI constata que fechamento de friforíficos provocou caos na economia dos municípios afetados
Por Sandra Costa
21/05/2016 - 13:01

Foto: Karen Malagoli/ALMT

Com o auditório da Câmara dos Vereadores de Mirassol d’Oeste (a 311 km de Cuiabá) lotado, os deputados que compõem da Comissão de Inquérito Parlamentar (CPI) dos Frigoríficos realizaram a primeira reunião especial nas cidades-polo das regiões mais afetadas com o fechamento das plantas frigoríficas.
 
Doze testemunhas foram convocadas para prestar depoimentos nesta tarde, das quais 10 compareceram, entre eles prefeitos e presidentes de Câmaras dos municípios de Cáceres, Mirassol d’Oeste, São José dos Quatro Marcos e Pontes e Lacerda
 
O primeiro a ser ouvido foi o atual prefeito de Mirassol d’Oeste, Elias Mendes Leal, que foi questionado pelo deputado Eduardo Botelho (PSB) sobre o impacto no município com o fechamento, em 2015, da planta frigorífica Mato Grosso Bovinos S/A, que fez fusão com a BRF S/A e, na sequência, com o grupo Minerva Foods.
 
O prefeito explicou que a empresa em nenhum momento avisou ao governo municipal que fecharia as portas e que isso acarretou um lastro de prejuízos, com mais de mil desempregados e outros 250 vagas de empregos diretos.
 
“Nessa microrregião, estamos com rebanho de 3,7 milhões de gado em pé e, hoje, para que o abate seja feito fora do estado, o custo para o setor agropecuário é de algo próximo a R$ 2,2 milhões com contratos com terceiro para movimentação de carretas”, declarou Leal.
 
O prefeito também destacou que a diminuição da arrecadação do ICMS também foi grande, com perda imediata de R$ 239 mil na arrecadação em 2015 e R$ 528 mil de Valor Agregado (V.A.) “Ano que vem o baque será maior. A BRF tem que ser colocada nesse contexto pois fez a fusão e o grupo Minerva veio para fechar”, avaliou.
 
A segunda testemunha ouvida foi o presidente da Câmara de Mirassol d’Oeste, Sérgio dos Santos, que disse ser necessário elaborar um incentivo para a planta frigorífica não ficar fechada.
 
“Os municípios não estavam preparados para isso, estivemos junto ao Executivo e ao Legislativo estadual para encontrarmos uma saída. Espero que a CPI traga uma solução para melhorarmos a situação do emprego, principalmente nesse momento que o país passa por uma crise econômica”.
 
Também na condição de testemunha, o prefeito de Cáceres, Francis Maris Cruz, falou que, em novembro de 2010, o frigorífico JBS fechou as portas no município, que é o detentor do maior rebanho bovino no estado, com mais de um milhão de cabeças de gado.
 
“Era a única planta frigorífica da nossa cidade e o fechamento dessa empresa trouxe enormes prejuízos, tendo a prefeitura que oferecer assistência social aos familiares de mais de mil desempregados. Tanto que hoje Cáceres faz parte do grupo dos 100 municípios mais pobres do Brasil, o G100, no que diz respeito à renda per capita”.
 
Logo após, foi a vez do prefeito de Pontes e Lacerda, Donizete Barbosa de Nascimento, falar sobre o fechamento da planta frigorifica Vale do Guaporé, em 2010, empresa esta que entrou em recuperação judicial dois anos antes.
 
“Apesar de termos uma economia não somente baseada na planta frigorífica, assim como no comércio, agricultura e pecuária, sentimos os reflexos do fechamento, principalmente os problemas judiciais, no que diz respeito às questões trabalhistas. Os serviços terceirizados dessa cadeia também tiveram impacto com perdas significantes para nossa cidade”.
 
Donizete lembrou ainda que logo após o fechamento da planta Vale do Guaporé, chegou a funcionar o frigorífico Independência, ainda em 2008. “Mas a situação só teve uma melhora com a chegada da JBS em janeiro de 2013. Hoje são abatidas 1,2 mil cabeças de gado por dia”.
 
Já o presidente da Câmara de Pontes e Lacerda, Pedro Vieira, fez uma fala sucinta, destacando como o principal impacto os desempregos decorrentes do fechamento da planta da Vale do Guaporé, bem como na área de transportes. “Temos gados parados no pasto, o que representa desemprego na zona rural”, pontuou.
 
Por fim, o último prefeito ouvido pela CPI foi o de São José dos Quatro Marcos, Carlos Roberto Bianchi. Ele destacou que o município tinha duas empresas geradoras de emprego: o laticínio e o frigorífico. “Com o fechamento da planta, só sobrou o comércio local para movimentar a economia. O pior é que a ruptura foi de uma hora para outra”.
 
Também foi ouvido como testemunha o presidente da Câmara de São José dos Quatro Marcos, Renilso da Silva. Lá, a planta fechada em 2015 foi a da JBS, que fazia o abate de 600 a 700 cabeças de gado por dia, o que acarretou a perda de 600 a 700 empregos diretos.
 
OITIVAS – Até o fechamento dessa matéria, ainda estavam previstos os depoimentos do representante da Famato, o engenheiro agrônomo João Oliveira Gouveia Neto; do diretor da Acrimat, o produtor rural Amarildo Menotti; e do gerente da Minerva Foods, Roberto Cezar dos Santos.
 
O diretor da JBS, Marcelo Zanatta Estevam, não compareceu, mas encaminhou uma carta com justificativa. O presidente da Câmara de Cáceres, Márcio Paes Lacerda, também não atendeu à convocação da Comissão, mas encaminhou documentos e, se os mesmos atenderem às necessidades da CPI, a sua oitiva não será redesignada.

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