Osires Fanaia, pantaneiro de muitas atribuições
Uma vida simples, saudável, com a felicidade conquistada fazendo a alegria de outras pessoas
Por Redação
14/04/2012 - 20:24
Foto: Clrice Navarro Diório
Quando setembro chegar, canários, sabiás, sanhaços, massas barro, rolinhas, cavalarias, pássaros pretos, azulões, pombas do mato, bens te vi e beijas flor têm endereço certo em Cáceres. Fugindo da seca do Pantanal, eles se saciam no quintal da casa do tintureiro aposentado Osires Fanaia, na rua Cândido Mariano, número 200, no bairro São Miguel. A rotina já tem mais de 15 anos. O cacerense, pantaneiro da cidade, diz que sempre gostou de aves, mas soltas. Então, a cada ano, ele prepara o quintal da casa e passa os meses de seca cuidando das aves. São 50 quilos de ração por semana, além de frutas como mamão e banana. Alguns ainda se esbaldam na ração do cachorro. "É um espetáculo. Se demoro, algumas entram em casa procurando o alimento"-conta ele. Uma, mora no quintal o ano todo. É uma mariquitinha, que espera, nos finais de tarde, que o "seo" Osires vá aguar as plantas. Então canta, pedindo um banho, e se delicia no jato da mangueira.
Mesmo aposentado, ele continua na ativa e faz serviços de tinturaria a clientes cativos. Casado há 52 anos com a costureira dona Joana, tem quatro filhos, 12 netos e uma bisneta. Além das aves, que abandonam a casa na ápoca da cheia no Pantanal, ele tem outros afazeres: roda peão, joga beroquê, toca flauta e faz pipas. De todas as formas e cores. De times de futebol, de acordo com a encomenda -ele é corintiano, mas capricha em todas. "A pipa carambola é a mais difícil de fazer. Ela sobe mesmo sem vento. Minha esposa fez o molde para mim"-conta o segredo. Ele, além de fabricar e vender, empina pipas. "Trabalhei a vida inteira e decidi voltar às brincadeiras da infância. São muito prazerosas".Ele ainda tem fôlego para, no final do ano, se vestir de Papi Noel e fazer a alegria dos moradores do Abrigo dos Velhos.
O segredo da vida é a simplicidade, ensina Osires. Ele caminha bastante e se diverte. Ama a esposa, a quem ainda corteja. A chama carinhosamente de "papai". Uma reclamação? tem sim: os netos não empinam pipas. O hábito de fabricar pipas lhe deu e lhe dá muitas alegrias, pois são elas, as suas pipas, as vencedoras nos vários concursos realizados todos os anos por escolas e clubes da cidade.
O casal se conheceu em Cuiabá. Dona Joana é do interior de São Paulo. Antes do endereço no bairro São Miguel, onde construíram a casa, moraram de aluguel em várias outras, todas no centro da cidade: rua Seis de Outubro, rua da Manga...Hoje os filhos adultos, os netos crescidos, eles ocupam o tempo com o que gostam. Dona Joana que foi costureira a vida toda, conta que está pensando em parar. É ela que cuida da casa, e de forma carinhosa conta dos hábitos do marido. Quando brinco, perguntando a ele o que ganha ela, "aguentando" tantas estrepolias, a resposta sai pronta: "ela ganha todo o meu amor".
Sem dúvida, uma manhã agradável na companhia do casal, que, na prática, ensina que o amor e os hábitos simples e saudáveis são como um elixir para a saúde e a longevidade. Fica a promessa: em setembro eu volto, para fazer a matéria com o "seo" Osires rodeado por seus pássaros.