Dante de Oliveira, autor da emenda da eleição direta, é citado por seu suposto lado ambientalista enquanto criador de parques e reservas. Não vejo nesse rótulo o cerne de seu perfil, pois a verdadeira biografia é aquela esculpida pelo passar do tempo.
A polêmica sobre a questão de Serra Ricardo Franco abre uma avenida pra que se possa mostrar a parte visível do Dante dito ambientalista, mas longe de mim a intenção de alterar ou acrescentar algo a sua biografia - isso é tarefa do tempo.
Quando Dante chegou ao governo, Mato Grosso concluía o alicerce que lhe daria o título de maior polo do agronegócio tupiniquim. Sua saída do rudimentar e a entrada na tecnologia de ponta no campo era uma metamorfose que não agradava a Europa, os Estados Unidos e o Japão.
Organismos internacionais acenaram com empréstimos polpudos para Mato Grosso desde que Dante estancasse o crescimento rural com a bandeira ambiental. Programa de Perenização de Travessias, BID Pantanal e tantos outros acenderam a chama da criação dos parques e reservas. Mais: o Homem das Diretas fortaleceu o MST chegando a desafiar o Judiciário ao impedir que a PM garantisse reintegrações de posse. Seus assessores e deputados, juntamente com sindicalistas, lhe davam cobertura. Frederico Müller, Antonio Joaquim, Riva, Antero, Satélite, Carlos Brito, Hilário Mozer, Pedro Nadaf, Valter Albano, Daltro, Wilson Santos, Silval, Novelli, Bosaipo, Romoaldo, Berinho, Leitão e muitos outros formavam o pelotão verde que deveria funcionar como gazua para arreganhar os cofres da dinheirama. Paralelamente a isso, ONGs supranacionais criavam raízes em municípios.
No período, por lei ou decreto surgiam parques sem o menor critério ambiental, sem ouvir os donos ou ocupantes das áreas arrebanhadas pela maré ambientalista. Serra Ricardo Franco é bom exemplo disso e vale salientar que sua criação foi motivada também por fazer fronteira com o boliviano Parque Nacional de Noel Kempff Mercado.
Insisto que o tempo é o verdadeiro senhor da verdade e, assim sendo, creio que ainda estamos longe da biografia de Dante. Mas mesmo distante de seu histórico, volto o olhar ao Ministério Público, ora tão aceso sobre Serra Ricardo Franco, e vejo promotores insistindo na manutenção do status quo das nossas reservas, quando num raro momento de lucidez parlamentar a Assembleia tenta mantê-las, mas fazendo as devidas correções na forma como foram criadas. Esse mesmo tempo renova o MP, hoje com poucos remanescentes da era Dante e que em silêncio presenciaram o fluxo da citada maré.
Acho que o momento exige grandeza. O MP precisa dar a mão à palmatória pelo ontem entendendo que há correções a serem feitas e que um erro não justifica o outro, biografia à parte.
EDUARDO GOMES DE ANDRADE é jornalista
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