Então a onça resolveu vir para a cidade, cansada de viver no pantanal, ou talvez atraída pela caça que anda escassa, veio parar na área urbana, causando espanto e alvoroço, afinal não é todo dia que um animal desse porte decide desfilar sua beleza, e nós moradores da Princesinha estamos encantados mas amendrontados pela presença do felino. Dizem que é um “onço”, ou seja, uma onça macho, outros dizem que é um casal, já que a onça não é dada a andar junto com seu companheiro, vivem uma relação casual, e só ficam juntos no acasalamento, como muitos casais “modernos”.
Enquanto isso, nós do lado esquerdo da margem do rio Paraguai ficamos a pensar no que trouxe a nova moradora, porque ela escolheu a cidade para habitar, será que o pantanal está deixando a desejar, há pouca caça, ou ela foi mal acostumada pelo homem que vive jogando carne para atrair os olhares vantajosos dos turistas ?
Resta-nos aguardar o que dizem os especialistas na área, mas muitos concordam que esse lugar inusitado escolhido pelo animal deixa vulnerável tanto a onça como nós cidadãos. Fico imaginando quando o rio secar nessa região, será que ela vai em busca de novo lugar e novas caças, e se ela resolver atravessar para esta margem, será um deus nos acuda, para não dizer o horror que ela pode causar, outro dia meu cachorro latia muito de madrugada, e eu fiquei com medo, pensando na possibilidade da onça vir até o nosso quintal, exageros à parte, a onça anda mexendo com a nossa imaginação.
Mas a presença desse exótico e assustador animal deveria servir como um alerta para que nós olhássemos para o pantanal com mais cuidado, maior zelo, não só por representar o maior reservatório de água doce do mundo, e por ser um lugar rico com animais exuberantes. Será que esta onça não está pedindo socorro, vindo até aqui e chamar a nossa atenção para a preservação do pantanal ? Pois é evidente que o homem tem desrespeitado seus limites, e contribuído para o desequilíbrio da natureza, e suas reservas naturais. A onça parece dizer isto: olhem para nós, somos seres vivos, e merecedores de amor e muito respeito. Não nos matem, jogando lixo, não destruam as margens dos rios e os animais que ali vivem. Temos visto animais se suicidando, em outros continentes, como os golfinhos e baleias, o mundo animal pede socorro, estão sofrendo pelo desequilíbrio ecológico, a exemplo de nós humanos, com a diferença de que não são os causadores dessa devastação.
A natureza pede ajuda, mais respeito, maior consciência, antes que seja tarde demais. Pois desde que Adão cometeu a primeira infração, os animais não vivem em harmonia com o homem, a não ser pelas exceções que vemos, uma vez ou outra. O que vimos aqui foram casos que foram marcados pelo trágico, pela dor, em que o bicho dilacera o homem como resposta ao modo como seu habitat tem sido invadido.
É chegada “a hora da onça beber água”, enquanto ela existe, porém do jeito que as coisas caminham os animais acabarão vindo disputar o mesmo pedaço de terra que a gente, já que nós estamos destruindo seu espaço, o homem tem ocupado o lugar da fera, e se
bestializado mais que o animal. Dessa forma não restará mais alimento para eles, a não ser o próprio homem.
Cristhiane Ortiz Lima é graduada em Letras na Universidade do Estado de Mato Grosso. Mestranda em Linguística na Universidade do Estado de Mato Grosso.