A literatura chamada de autoajuda costuma emplacar best-sellers com tiragens de milhões de livros traduzidos para o mundo todo. O primeiro exemplar dessa espécie foi publicado em 1859, exatamente com o título “Autoajuda” e seu autor garantia que “o céu ajuda aqueles que ajudam a si mesmos”, frase muito semelhante ao ditado popular “Deus ajuda a quem cedo madruga”.
Ambas, claro, não têm a mínima consistência, porque quem ajuda a si mesmo não precisa da ajuda do céu, e quem cedo madruga é porque tem saúde e disposição para o trabalho, não precisando de nenhum socorro de outra dimensão.
Os livros desse segmento costumam ser escritos para executivos e empreendedores e direcionados para leitores que buscam novidades e um caminho rápido para o sucesso.
Os autores, quase sempre, são escritores, psicólogos, consultores, pessoas ligadas ao network marketing, blogueiros e empreendedores ainda não solidificados. Tem também esportistas, palestrantes e vaidosos empresários dispostos a ensinar aos comuns o caminho das pedras.
Todos apresentam soluções milagrosas, embora cada autor tenha seu próprio método a maioria tenta botar na cabeça dos leitores que é possível conseguir tudo o que quer seguindo o caminho proposto por eles.
Garantem alguns que a chave é saber influenciar pessoas, outros dizem que o segredo é o esforço, há ainda os que afirmam que é necessário ver oportunidade onde outros veem obstáculos. Muitos defendem o exercício do pensamento positivo para resolver problemas, tem ainda os conselhos de se colocar como um parafuso na engrenagem, fora os que sugerem ficar atento a qualquer perigo, antecipando-se a ele.
Essas teorias prosperam porque existem muitas pessoas dispostas a acreditar em qualquer irracionalidade e prontas a pagar palestrantes e consultores que lhes vendem fantasias de rápido acesso à prosperidade.
Como sou do tempo que creme dental era dentifrício e resfriado, defluxo, inúmeros exemplos me ensinaram que a prosperidade é muito simples porque não exige sofisticada formação acadêmica, mas ao mesmo tempo custosa, pois o preço a ser pago por ela sempre é alto e as pessoas concordam em pagá-lo. Este custo pode ser disposição de mudar para lugares ermos, a capacidade de trabalhar mais que os outros, a decisão de adiar os gastos e a disposição de assumir riscos.
Entretanto, mesmo os bem preparados, os dispostos a deixar o conforto da cidade natal e os que têm sustentação psicológica para assumir riscos alcançam a prosperidade, porque há um detalhe indispensável para vencer: a sorte.
A sorte aqui não é essa coisa mística que alguns acreditam que entes superiores dão a alguns e negam a outros, mas simplesmente a aleatoriedade da vida, ou dito de outra forma, os acontecimentos inesperados ou imprevistos, sobre os quais não temos nenhum controle.
Ao contrário do que garante a literatura de autoajuda não se alcança o sucesso somente com preparação, foco ou determinação. Há inúmeras variáveis influindo no processo, e algumas delas estão totalmente fora do nosso controle.
RENATO DE PAIVA PEREIRA é empresário e escritor