Dezembro de 2015. A pedagoga Vânia Silveira de Souza, de 39 anos, estava tomando banho e quando foi passar o sabonete na mama direita, sentiu um pequeno nódulo próximo ao mamilo. “Logo eu me organizei, pedi para o médico fazer um ultrassom e apareceu como um grãozinho de arroz”, relembra.
Ela estava no Maranhão. Lá deixou deixou seu emprego, expectativas e sonhos, chegou a Cuiabá em julho de 2016. Em 15 dias, Vânia já perdia seus cabelos. “É uma das partes que mais fragiliza a gente. Eu fui me reinventando dentro das minhas possibilidades. O câncer entrou na minha vida, e a princípio não me tirou só a saúde e o medo de morrer, ele me tirou todas as possibilidades. As minhas perdas no tratamento, a principio, foram tremendas. Vendo a quantidade de coisas que ficaram para trás, percebi que na realidade o que mais importava era a possibilidade de lutar pela vida”.
Em uma de suas buscas por uma peruca, Vânia descobriu o trabalho que o MTmamma realiza com auxílios para pessoas portadoras de câncer de mama. “Me vislumbrei e me encantei. Dentro da casa eu pude encontrar pessoas que estavam passando pelas mesmas dificuldades que eu. Eu vi mulheres, que mesmo diante da morte riam e celebravam. Queria entender como isso acontecia, as minhas perdas eram tantas, mas eu via que elas tinham as mesmas perdas e ainda estavam ali. Foi o momento em que me apaixonei pelo MTmamma”.
Ela conta que a cada dia aprende mais sobre amor, caridade, amizade e companheirismo, dentro da instituição. O MTmamma, conforme Vânia, possibilitou que ela tivesse uma melhor qualidade de vida dentro do seu tratamento.
“Desde que o meu cabelo caiu, minha sobrancelha caiu, eu fui me reinventando com as coisas que eu via e aprendia dentro da casa. Eu sou muito grata a Deus pelo privilegio de poder participar dessa casa de amor”.
Inspirada no MTmamma, Vânia buscou criar uma casa de acolhimento, no Maranhão. “Quero que a casa cresça lá e quero continuar minhas atividades dentro do MTmamma. Isso me faz muito feliz. Eu não me paralisei apenas na minha dor e nas minhas desgraças. Através da minha dor, eu pude me refazer, assim como a fênix. Colorida, buscando espelhar, iluminando as pessoas. Eu digo, a MTmama me fez ser um ser humano melhor”.
Após as cirurgias e o tratamento, a possibilidade de cura do câncer da Vânia é de 95%. Seu processo de cura tem um controle por 10 anos. Mas ela já se considera uma paciente curada.
“O que eu espero do futuro é apenas a possibilidade de viver um dia a mais a cada dia. Mesmo com esse carimbo de uma paciente oncológica, com esse carimbo de que a qualquer momento eu posso voltar, eu espero coisas boas. Eu me considero uma pessoa abençoada, uma pessoa feliz. Uma pessoa que tem todas as coisas que necessita para ser feliz”.
MTmamma
A MTmamma, criada oficialmente, em março de 2009, é reconhecida pelo governo do Estado e pelo município, como entidade pública sem fins lucrativos. Atualmente, tem cerca de 100 voluntários e 300 assistidas (pessoas em tratamento e pós-tratamento do câncer de mama), sobrevive com as mensalidades dos associados, doações e colaboração da sociedade.
As assistidas participam das atividades realizadas por voluntários gratuitamente, como aulas de hidroginástica, yoga, reiki, meditação, oficinas de artesanato e customização, bate-papos mensais e grupo de psicoterapia. A MTmamma tem ainda o primeiro Banco de Perucas do Estado, disponibiliza sutiãs com bojo para as mulheres que passaram por cirurgia para retirada do seio afetado, fisioterapia, entre outros.