Quase 10 anos depois, Porto de Cáceres será reativado e deve reduzir custos do agro
Por Canal Rural
08/08/2020 - 12:30
Construído na década de 1970, o Porto de Cáceres fica na margem esquerda do Rio Paraguai. Ele é da União, delegado ao estado de Mato Grosso, e desde 1998 era administrado pela Companhia Mato-grossense de Mineração, que suspendeu as atividades do modal em 2012, após o término de vigência da licitação. De lá pra cá a estrutura ficou parada, até que em setembro do ano passado o Governo Estadual compartilhou a gestão com a Prefeitura de Cáceres, possibilitando a concessão do terminal à iniciativa privada.
A mudança veio ao encontro do interesse de produtores rurais da região. Eles se uniram e criaram a Associação Pró-Hidrovia do Rio Paraguai (APH) que no início deste ano assumiu a responsabilidade sobre o terminal. “Nós fizemos todos os investimentos necessários para reformar, reestruturar o porto para voltar a operar. Agora o porto já está pronto e a gente espera agora só melhorar um pouco mais o nível de água do rio para nós começarmos a operar com segurança. Ainda em 2020 o Porto de Cáceres volta a operar e a ser mais uma opção para o produtor rural, para o empresário mato-grossense poder exportar os nossos produtos e também importar o que precisamos”, explica Vanderlei Reck Junior, agricultor e presidente da APH.
Reformado, terminal está pronto para voltar a operar
A hidrovia Paraguai-Paraná liga o Brasil aos países da Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai. Em Mato Grosso são 485 quilômetros de extensão. O canal possui 45 metros de largura e 1,80 metro de profundidade, o que comporta o tráfego de comboios “dois por três”. A área de influência do Porto de Cáceres se estende por um raio de até 400 quilômetros, onde são cultivados mais de 4 milhões de hectares de soja, 2 milhões de hectares de milho e quase 600 mil hectares de algodão. A reativação do porto pode representar redução das despesas com logística.
“Com mais de um modal de logística, eles acabam competindo entre si e quem ganha com isso é o consumidor final, nesse caso o produtor. Então, com a abertura a mais de um canal a mais de importação e exportação esse benefício vai chegar aos produtores, porque vai ter uma nova formação de preço tanto para entrada de produtos quanto para a saída de produtos do nosso estado”, comenta Reck Junior.
Entre as apostas está a importação de uréia da Bolívia, que começou a vender o insumo para o Brasil em novembro de 2017, utilizando o estado de Mato Grosso do Sul como porta de entrada. Na última semana, uma delegação do governo boliviano esteve em Mato Grosso para discutir o escoamento também pelo Porto de Cáceres. O avanço das negociações anima o setor. “Nesse momento a fábrica da YPFB na Bolívia, em função da mudança política no país, está parada. Mas tem previsão para retornar com as atividades daqui a 2 meses, com a capacidade de produção de 600 mil toneladas de ureia por ano. Pelos números que temos da safra passada, Mato Grosso consome em torno de 700 a 800 mil toneladas de ureia por ano”, explica o presidente da APH.
Outra esperança está na venda de soja para o país vizinho. “A Bolívia é uma exportadora de soja mas tem uma demanda reprimida por parte das esmagadoras que estão instaladas lá. Para atender a essa demanda reprimida, estima-se que seja necessário em torno de 1,5 milhão de toneladas do grão, para que as fábricas trabalhem em sua totalidade. A gente espera que nos próximos meses a gente consiga avançar nestas tratativas comerciais entre Mato Grosso e Bolívia para que a gente consiga importar as matérias-primas e exportar nossa produção para este mercado importante que é a Bolívia, o próprio Chile e o Peru. Eles estão ‘ao nosso lado’, com uma população com mais de 60 milhões de habitantes que precisam de alimento e nós temos esse alimento para oferecer para eles”, conclui Reck Junior.