Diario de Cáceres | Compromisso com a informação
Filha, liga pro governador, vou pedir pra ele não fechar a escola
Por por Maritza Castrillon Maldonado
10/12/2020 - 21:16

Foto: arquivo
“Quando eu tinha 5 anos mudamos do sítio para Cáceres, meu pai dizia que era hora de colocar a mim e minha irmã mais velha para estudar. Foi ali, na escola Esperidião Marques, que aprendi o B – A – Ba. Foi ali que estudei até a quarta série primária, quando retornei para o sítio. Ah... eu adoro essa escola.
Mari, ligue para o governador filha, vou falar com ele para não fechar o Grupo”.
Assim foi a resposta que mamãe, hoje com 84 anos, me deu quando disse a ela que a sua escola iria fechar. E ela começou a se lembrar...
“Minhas professoras foram maravilhosas. Graças a elas eu sei tabuada como ninguém. Dona Delmira, ah... ela era um encanto. Ela foi minha primeira professora. Acredita que me levou para declamar um poema no cine Poerinha? A mulher do sargento Coleta fez até um vestido de organza para mim. Era todo listado, lembro-me bem. Fui lá, toda bonita, declamar a poesia. Eu e a dona Delmira.
Pega lá Mari, o livro que eu escrevi. Mostre para o governador, fale para ele ler o poema que fiz para o grupo escolar. Mostre a capa do livro Mari. Fale que ele não pode fazer isso. Quantos professores vão ficar sem trabalho? Quantas crianças vão ficar sem escola? O que vão fazer com aquele prédio? É tão bonito... é tão grande”.
Peguei o livro e li o poema que fez para a homenagear a escola (apresento nas fotos do livro “Minhas Recordações de Cáceres”, de Paulina Maciel Castrillon, publicado em 1999).
Bem... minha conversa terminou por aí com mamãe. Mas, a escola e o e-mail recebido por sua direção, informando seu fechamento, não me saíram da cabeça. Fiquei pensando porque fechar uma escola centenária? Qual o projeto eles têm para aquele espaço? Trata-se de um patrimônio histórico... será considerado enquanto tal, cuidado, protegido... será transformado em um museu???
Ouvi dizer que o transformariam em uma escola militarizada. Seria esse o projeto? Por que não conversar com a população cacerense sobre ele? Por que não se sensibilizar com as pessoas que movimentam e movimentaram aquele espaço-tempo por mais de cem anos?
Museu? Escola Militar? ou “tombamento”?
Tombado pelo Patrimônio Histórico aquele prédio já está... mas estou falando de “tombamento” de fato... o que acontece com muitos prédios históricos de nosso município.
Sabem aquele sentimento de topofilia, de Ifu Tuan, ao qual sempre me refiro? Sim... o elo afetivo da pessoa com o lugar. É disso que estou falando. Penso que falte esse elo para essas pessoas... penso que falte, além disso, compreensão do que seja Educação, do que seja escola e todos os seus elementos e movimentos.
Triste... eu, enquanto aluna da UNEMAT, de quantas assembleias participei ali... enquanto professora, de quantos movimentos aquele pátio foi palco?
É... trata-se de um espaço-tempo que movimentou vidas, muitas vidas... que movimentou tempo, muitos tempos... constituiu histórias, muitas histórias... do ensino fundamental à universidade.
Aí fiquei pensando mais e mais, e fui conversando com amigas professoras que já passaram por aquela escola. Conversa vai, conversa vem, falamos de outras escolas do Centro da Cidade. Boas escolas, que também movimentam vidas... que também constituem subjetividades... que também transformam estéticas de existências em outras estéticas possíveis!
Foi nessas conversas que me falaram que a escola Estadual “União e Força”, que se localiza há uns 500 metros da Escola Espiridião Marques, não tem prédio próprio (nota-se, na mesma rua). O prédio da escola, segundo minha amiga, é da Maçonaria e o Governo do Estado, pasmem, PAGA, aluguel para que a mesma funcione ali. Além de pagar o aluguel, promove reformas e melhorias estruturais no prédio. Na realidade, não sei se essa informação procede. Mas, caso proceda, seria, no mínimo, importante que investigassem a questão. Paga de fato? Paga quanto? Quem se beneficia com o recurso público? As crianças que estudam nesse espaço alugado não poderiam estudar no prédio próprio da Escola Esperidião Marques?
Vamos FECHAR uma escola que tem um prédio próprio, lindo, representativo... e continuar pagando aluguel para a maçonaria?????
Ai gente... me cortou o coração.
Que meus amigos vereadores se informem e nos informem sobre essa questão. Que o prefeito se manifeste! Que a vice-prefeita, professora, eleita prefeita, tome partido! Que o partido seja o da educação. É só isso que queremos... que se pense na educação. Que ela não seja objeto de decretos e de desgovernos.
Pronto, falei!
Desculpem o desabafo...
 
 
Por Maritza Castrillon Maldonado, professora em Cáceres
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