Nesta semana, de segunda-feira a quarta-feira (26 a 28 de abril), o defensor público-geral de Mato Grosso, Clodoaldo Queiroz, visitou Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, para conhecer de perto o sistema de vacinação contra Covid-19 no estado vizinho, um dos líderes no ranking nacional, e na volta encaminhar as informações aos prefeitos dos 141 municípios mato-grossenses com o intuito de melhorar a eficácia da vacinação em Mato Grosso, que está entre os estados que, proporcionalmente, menos vacinaram.
“Estamos colhendo essas informações com o objetivo apresentar aos gestores de todos os municípios de Mato Grosso que estão atrasados na vacinação, ou que estão tendo qualquer dificuldade, mostrando essas soluções que estamos vendo aqui, que estão funcionando”, afirmou Queiroz.
A capital de Mato Grosso do Sul vacinou até agora mais 183 mil moradores com a primeira dose, cerca de 20% da população total do município, estimada em 906.092 pessoas (IBGE/2020), e mais de 67 mil já receberam a segunda dose. Campo Grande é uma das capitais brasileiras com mais doses aplicadas das vacinas Coronavac e Oxford/Astrazeneca.
Por outro lado, segundo o defensor público-geral, a vacinação em Mato Grosso está muito abaixo do ideal. “Infelizmente, em Mato Grosso, uma parte da população, aquela mais vulnerável, atendida pela Defensoria Pública, está ficando para trás. Muitas pessoas não estão conseguindo se cadastrar para ser agendadas para vacinar, o sistema é meio burocrático, muitas estão perdendo a data de vacinação, estão perdendo a oportunidade de se vacinar”, relatou.
Queiroz foi recebido pelo governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), pelo prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad (PSD), e pelo secretário municipal de Saúde, José Mauro Filho. Em reunião, a equipe da Prefeitura detalhou o sistema de cadastro e o vacinômetro. Também foi realizada uma visita ao drive-thru (quando a pessoa é vacinada dentro do carro) do Parque Ayrton Senna, um dos mais de 50 pontos de vacinação na capital sul-mato-grossense, e à sede da Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul.
“A impressão que temos aqui é que o sistema funciona muito bem, é muito ágil, e a maior prova disso é que Campo Grande está agora vacinando a população com 59 anos de idade, ou seja, já vacinaram todos os idosos, de 60 anos para cima”, disse.
Quatro eixos – Segundo o defensor público Fábio Barbosa, coordenador do Grupo de Atuação Estratégica em Defesa da Saúde Pública (Gaedic Saúde), que também participou da visita, existem quatro fatores principais que explicam o sucesso da vacinação no Mato Grosso do Sul.
“A descentralização da vacina, o cadastramento antecipado, a base de dados vinculada ao Governo Federal para migrar os dados de forma automática e essa parceria público-privada fazem toda a diferença”, afirmou.
De acordo com Barbosa, os 55 pontos de vacinação em Campo Grande, que incluem parcerias com a iniciativa privada, foram organizados de forma a facilitar a vida do cidadão. “Tem vacinação no PSF, próximo às pessoas nos bairros, em hospitais particulares, sedes de planos de saúde, com estrutura fornecida pelas empresas. Essa ramificação do sistema facilita o acesso a todos, não traz transtorno à população”, ressaltou.
No tocante ao cadastramento antecipado, o defensor público destacou o planejamento dos grupos prioritários. “Como não tem vacina para todo mundo, eles separam por grupos, depois fazem uma análise dos cadastros, um cruzamento de dados, e liberam a vacina. Claro que ainda reservam uma quantidade de doses para quem não se cadastrou. E essas pessoas não são dispensadas de tomar a vacina. Se chegar e mencionar que não fez o cadastro, nos postos de triagem há pessoas com computador para fazer o cadastro na hora e a pessoa já é vacinada”, disse.
Outro ponto importante é a atualização do banco de dados. “Todo dia, meia-noite, o sistema estadual alimenta o sistema federal, que tem que receber essas informações. Por isso, Mato Grosso do Sul mostra quase que em tempo real todas as vacinas que são aplicadas de fato”, destacou.
Enquanto isso, muitos municípios mato-grossenses ainda utilizam um sistema rudimentar. “Aqui em Mato Grosso, tem município que anota as informações em uma planilha manual e só depois o servidor passa os dados para o sistema informatizado. É uma confusão”, narrou Barbosa.
A vacinação no estado vizinho também gera um QR Code, que pode ser consultado por qualquer pessoa, com informações sobre qual vacina foi aplicada, o número do lote do imunizante, o responsável pela vacinação etc. “Isso pode ser pedido em viagens internacionais no futuro, por exemplo. Estão sempre pensando lá na frente”, pontuou o defensor.
Além disso, os cadastrados recebem uma mensagem via WhatsApp confirmando o horário, a data e o local de vacinação. Como forma de dar ainda mais publicidade aos dados da vacinação, a Prefeitura de Campo Grande disponibilizou as informações do vacinômetro no Relógio da 14, no Centro, um dos pontos mais tradicionais da cidade.
Por último, Barbosa citou a importância das parcerias público-privadas firmadas no Mato Grosso do Sul. “Aumenta os postos de vacinação, dá maior tranquilidade para aquele determinado público que já está ambientado ao local, e desafoga a Prefeitura, pois os hospitais particulares usam pessoal e insumos próprios para fazer a vacinação. A Secretaria de Saúde coordena os trabalhos, mas há uma economia para os cofres públicos”, detalhou.
Agora, já estão se preparando para a aplicação da vacina da Pfizer, cujo primeiro lote chegou ontem (29) ao Brasil, e que deve ser armazenada em caixas com temperaturas entre -25ºC e -15ºC por, no máximo, 14 dias. “Mato Grosso do Sul verificou se os municípios do interior tem geladeiras para receber as doses da Pfizer e fez um acordo com empresas privadas para levar essa geladeira para as cidades que não tinham”, explicou Barbosa.
A situação é semelhante em Mato Grosso e em quase todo o Brasil, já que os municípios do interior têm menos estrutura de saúde do que as capitais. “Vamos enviar um ofício a todos os gestores dos 141 municípios mato-grossenses para propor melhorias no sistema de vacinação em nosso estado”, frisou o defensor.
Depois de receber queixas de muitas pessoas que alegavam que não conseguiam efetuar o cadastro de vacinação em Cuiabá, a Defensoria Pública de Mato Grosso colocou à disposição da população, no dia 13 de abril, dois telefones para auxiliar o cidadão que não tem acesso à internet ou tem dificuldade para preencher o cadastro no site da Prefeitura.
Foram atendidas 270 pessoas somente no primeiro dia de oferta do serviço. Os aparelhos estão aptos a receber inclusive ligações a cobrar, além de áudios, fotos e mensagens de texto via WhatsApp. Nesses 14 dias de funcionamento do serviço, 1.243 cidadãos já foram atendidos, 84 finalizaram o cadastro e 40 já foram vacinados.
“Em relação especificamente à vacinação em Cuiabá, nós da Defensoria Pública temos recebido reclamações por parte da população, que relata diversas dificuldades no acesso à vacina. Muitas pessoas não conseguem utilizar o sistema de cadastramento da Prefeitura porque tem dificuldade de lidar com a internet, mesmo com aparelho celular. Alguns idosos, que são sozinhos, por exemplo, não tem outras pessoas para auxiliar e não têm condições sequer de fazer o cadastramento. Muitos que conseguem fazer o cadastramento não conseguem fazer o acompanhamento do agendamento”, descreveu Queiroz.
O cidadão tem que entrar no sistema de cadastramento, no site Vacina Cuiabá, para verificar quando será vacinado. “Esse agendamento é feito pela Prefeitura automaticamente e a Prefeitura não manda nenhuma informação para essa pessoa da data da vacinação. Ela é que tem que acessar o sistema todos os dias. E muitas pessoas, mesmo quando conseguem se cadastrar, não conseguem ficar olhando o sistema e perdem a data da vacinação”, pormenorizou o defensor-geral.
Queiroz defende o cadastro prévio, mas acredita que o sistema precisa ser aperfeiçoado. “Se a pessoa chegar no dia da vacinação, sem ter feito o cadastro prévio, não consegue se vacinar. Entendemos que essa é uma dificuldade que deveria ter uma solução. A Prefeitura tem que exigir o cadastro prévio, sim, mas tem que dar uma alternativa para as pessoas que não conseguem fazer o cadastramento”, sustentou.
No dia 23 de abril, Cuiabá abriu o quinto polo de vacinação, na Assembleia Legislativa de Mato Grosso. Os outros pontos de vacinação são o Sesc Balneário, no bairro São João Del Rey, o Centro de Eventos Pantanal, no bairro Bela Vista, a Universidade Federal de Mato (UFMT), no Boa Esperança, e o Sesi Papa, na Morada do Ouro. Os polos drive-thru funcionam no Sesi Papa e na UFMT.
De acordo com o portal Vacina Cuiabá, 120.306 doses da vacina contra a Covid foram aplicadas até ontem (29 de abril) na capital mato-grossense, sendo 88.667 da primeira dose e 31.639 da segunda. Ainda segundo o site, foram recebidas 91.609 doses para a primeira dose do imunizante, 55.584 doses estão reservadas para a segunda aplicação e 2.750 doses foram usadas pelo Governo do Estado.
Enquanto isso, o vacinômetro de Campo Grande registrou, até as 15h20 desta sexta-feira (30), 183.638 aplicações da primeira dose, 67.295 da segunda, o que corresponde a 20,27% da população da capital do Mato Grosso do Sul. De acordo com a Prefeitura, a aplicação da vacina demora apenas 4 minutos nos postos drive-thru para quem já fez o cadastro.
Diante dessa situação e de posse das informações levantadas no estado vizinho, o defensor público-geral luta pelo avanço da imunização contra a Covid em Mato Grosso. “Vamos encaminhar essas informações aos gestores para que tenham conhecimento disso e possam melhorar a eficácia da vacinação”, assegurou.