Comandada por Luís Carlos Prestes e Miguel Costa, a Coluna Prestes começou em abril de 1925 e, em dezembro do ano seguinte, chegou em terras mato-grossenses. Nos jornais impressos que circularam em Mato Grosso ficaram imortalizados os registros do medo provocado pelos jovens tenentistas que são descritos como “bando ameaçador” e “revoltosos”.
Em uma edição do jornal A Capital, impresso em 1926 quando a Coluna Prestes marchava por Mato Grosso, um correspondente do veículo viajou para Cáceres (MT) e conversou com fazendeiros que tiveram os bois roubados pelos militares.
“Entrevistei ontem o fazendeiro sr. Pedro Alves da Cunha que esteve prisioneiro revoltosos no retiro Tarumá, na região do Pantanal, informando esse sr. que a força que o prendera é a mesma que atacou Barra do Bugres, compõem-se de cento e trinta homens, mais ou menos sob o comando dos officiaes Siqueira Campos, Miguel Costa, João Gualberto, Muller e Brasil”.
O fazendeiro afirmou ao jornalista que mais de 250 animais foram levados e que a Coluna Prestes devastou a região por onde passou, sendo “uma tropa infrene e sanguinária”.
“Os revolucionários levaram mais de 250 animaes, seus e de seus vizinhos, que puderam arrebanhar na preciptação da jornada, e, mais cerca de cincoenta vaqueiros. Onde passa - informa ainda o entrevistado - tudo devastam; nos saques nivelam-se os officaes pouco moralisados. A tropa é infrene e sanguinaria, pois cevam seus instinctos barbaros nos proprios animaes que não podem conduzir, sacrificando-os a tiros. Transportam fuzil metralhadora, muitos fuzis mauser, winchester e revolvers. Seus prisioneiros são obrigados a cavalgar em pello, como aconteceu ao entrevistado”. Na sessão “Lendas e Tradições Cuiabanas” do jornal O Estado de Mato Grosso, Francisco Ferreira Mendes relembra como a notícia de que a Coluna Prestes “bem armada e municiada” pretendia tomar o governo de Mato Grosso depois da Revolução de 1924, que aconteceu em São Paulo (SP) e culminou na criação da marcha que percorreu Brasil adentro.
“As notícias insólitas recebidas pelo presidente Mário Correa da Costa sobre os rumos da revolução, aterrorizavam a população da Capital, para onde, diziam, a coluna Prestes bem armada e municiada se dirigia, com o intuito de apoderar-se do governo de Mato Grosso e assentar as bases do movimento, contando com os recursos que a região pantaneira do Estado lhe proporcionaria, para a continuação da luta e a vitória final da causa que defendia”.
O texto ainda relata que “moços, velhos e a juventude do Liceu Cuiabano” se prepararam para defender Cuiabá diante das notícias que chegavam de que a Coluna Prestes estava avançando pelo interior do estado. Na estrada de Diamantino, uma ponte foi incendiada e os militares avançaram pela região do Pantanal.
O Natal de 1926 ficou marcado pelo medo provocado pela Coluna Prestes, fazendo com os cuiabanos fossem em busca da fé no Senhor Bom Jesus de Cuiabá.
“O grande dia da família, 25 de dezembro de 1926, fora de presságios os mais pessimistas no espírito do povo cuiabano e preces se erguiam em todos os lares, invocando as bênçãos do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, em defesa da cidade e do povo ameaçado. Os últimos dias de dezembro de 1926 foram de terríveis apreensões. Sem notícias do Rio e do comando de Circunscrição Militar de Campo Grande [que na época pertencia ao território de Mato Grosso], a gente cuiabana permanecia na expectativa”.
Em outra edição do jornal O Estado de Mato Grosso, Francisco Ferreira Mendes narra a passagem da Coluna Prestes pela Colônia Salesiana de Meruri, localizada na região leste do estado de Mato Grosso, Brasil, próxima ao Morro de Meruri e às margens do Córrego Barreiro.
“Em 1926, quando a Coluna Prestes, como bando ameaçador atravessou o Estado em busca das fronteiras bolivianas, assustando e amedrontando a população sertaneja, parte do agrupamento acampou na colônia salesiana de Meruri. Durante mais de quarenta e oito horas irmã Luiza e outras abnegadas missionárias salesianas, sem dormir, cuidaram da cozinha, na azáfama do preparo da alimentação dos soldados, que lhe retribuíram a acolhida generosa, depredando a farmácia do estabelecimento e conduzindo na retirada, roupas e agasalhos do colégio indígena”.