Espiritismo - 156 anos
Por por Nestor F. Fidelis
31/07/2013 - 12:18
Somos convidados à reflexões profundas nesta data em que se comemora o marco histórico exordial da Doutrina Espírita, com a publicação de O Livro dos Espíritos na primavera parisiense daquele 18 de abril de 1857.
Enquanto filosofia de vida que encontra suas bases na ciência, a Doutrina dos Espíritos tem nos mostrado a importância da evolução intelecto-emocional de todas as criaturas, oferecendo-nos, para tanto, Jesus como o maior modelo em quem podemos nos inspirar, e guia para nos orientar no rumo da autoiluminação.
Naturalmente, quando as pessoas de bem entram em contato pelo estudo com tais conhecimentos, tem a tendência amorosa de buscar compartilhá-los, na esperança da construção de um mundo de mais paz, solidariedade e união. Em razão disso formou-se o Movimento Espírita como meio organizado de difusão e vivência do Cristianismo dos primeiros séculos da chamada Era Comum.
Como sabemos, ainda trazemos inúmeras carências íntimas e, não raro, e em razão disso, elegemos a ação instintiva em detrimento do sentimento. Desta forma, formado por seres humanos, o Movimento Espírita sempre experimentou provas desafiadoras, somente deslindadas pelo esforço individual de autossuperação, nos facultando concluir ser o amor, como sentimento maior do qual decorrem todas as virtudes, o único recurso capaz e indispensável para que transmutar o egoísmo e a vaidade, filha do orgulho, a fim de que o Espiritismo alcance seu fim colimado, contribuindo eficazmente para o progresso da humanidade.
Jesus nos adverte não ser possível servir a dois senhores, ou a Deus e a Mamon. Ora, se o Pai e Suas Leis estão em nossa consciência, todas as vezes que agimos em desacordo com Suas orientações estaremos servindo a outras forças, mas não a Deus. Cabe a pergunta: se nossa omissão em relação à atitude do bem já configura a própria prática do mal, e se o mal é a ausência do bem, quando afrontamos nossa consciência, ou tentamos enganá-la (como se isso fosse possível), estamos a serviço do que, ou de quem? De que lado queremos estar? A que senhor queremos servir?
Por mais que vivamos numa sociedade viciada em diversos sentidos, culturalmente acostumada a praticas perniciosas, como cristãos, de quaisquer filosofias ou religiões, somos convocados pela nossa consciência – Deus – a assumirmo-nos como tal, deixando de repetir os “costumes do mundo” para melhorarmos o mundo, assumindo Jesus como verdadeiro guia e modelo, ao invés de transformá-lo em mero símbolo comercial e, muitas vezes, num mágico para pessoas que não querem se esforçar por se realizarem sua transformação moral e aguardam algo especial que lhes salvará de fora para dentro.
O Movimento Espírita, desde as primeiras viagens de Allan Kardec pelo interior da França em 1862, deve perseverar, portanto, no sentido de sugerir à humanidade, pelo exemplo de seus trabalhadores, a fazer mais do as aparências, quebrando paradigmas em benefício do progresso social, que é inevitável, mas depende das pessoas. Ainda que exista uma onda energética de pessimismo devidamente organizada pelas sombras, é inegável a evolução, senão vejamos: no passado mais distante era normal escravizarem-se pessoas sob a absurda justificativa de que habitantes da África foram amaldiçoados por Deus, como se Ele não fosse Nosso Pai, a causa primária de todas as coisas, fato que muito alegrava os fazendeiros da época, que não precisavam pagar pelo trabalho-exploração; mas até bem pouco tempo atrás, no Brasil, os empregados domésticos não tinham direitos como se não fossem trabalhadores normais, fato que, atualmente, vem causando revolta por muitas pessoas, de modo similar ao que ocorreu em 1888. No passado mais remoto, pessoas eram assassinadas nas fogueiras por serem consideras bruxos e hereges pelo fato de ousarem manifestar seu pensamento, de orar diretamente a Deus e na sua língua de origem (em vez do latim), de buscar a prática do Evangelho sem mistificações e invenções desassociadas de seu real sentido; porém, até poucos anos atrás, centros espíritas eram queimados em cidades do interior de Mato Grosso, como em Araputanga, por exemplo, somente pelo fato de seus estudantes e frequentadores buscarem praticar a caridade e o amor, fato que trouxe ainda mais força, coragem e fé para os mesmos.
Jesus é o maior exemplo de quebra de paradigmas sociais. Certa vez, interrompido em seu mister de levar a Boa Nova, redarguiu “quem é minha mãe e quem são meus irmãos?”, nos demonstrando que fazemos parte da mesma família universal e espiritual. E assim também cada obreiro do Movimento Espírita é chamado a fazer. É bem verdade que todas as vezes que cada pessoa busque mudanças para melhor, encontrará obstáculos, tais como os adversários internos, representados pelas paixões, pelos costumes equivocados, etc. Ademais, pessoas acomodadas em relação à vida espiritual lhes ridicularizarão, agredirão e se afastarão. Todavia, o esforço por agir de acordo com a consciência sempre vale a pena, porquanto a satisfação de oferecer a outra face, a face essencial, é imediato, e mesmo aqueles que optarem por se apartarem, logo mais adiante procuram a pessoa de bem nos momentos mais difíceis para receberem a luz que podemos ofertar.
É trabalhoso, com certeza, mas para alcançar nosso propósito existencial é preciso caminhar, e Jesus foi claro ao dizer que Ele é o Caminho da Verdade da Vida. Agir com autenticidade consciencial é fazer que nosso sim seja “sim” e nosso não seja “não”, sempre, onde quer que nos encontremos. Sem aguardar reconhecimentos e aplausos, mas no labor individual de crescimento com Jesus, do modo como tantos já testemunharam, seja nos primeiros séculos da Era Cristã, seja nestes 156 anos do advento da Doutrina Espírita, o Movimento Espírita, formado por pessoas vigilantes e amorosas, tem muito a contribuir com a transformação interior de cada um de nós, alterando, por conseguinte, a arquitetura espiritual do planeta regenerado.
Nestor F. Fidelis
Diretor de Atendimento Espiritual da FEEMT
* artigo escrito originalmente para o site da Federação
Espírita do Estado de Mato Grosso
http://www.feemt.org.br/artigos/28/index.html