Ainda sobre biografias
Por por Gabriel Novis Neves
04/11/2013 - 14:07
As biografias previamente concedidas, a meu ver, anulam em parte a
sua veracidade, uma vez que passam a funcionar mais como uma
autopromoção do que propriamente de um relato verdadeiro sobre a
vida do biografado.
Mas, creio que essa não é a maior discussão, e sim, o
desencanto
que figuras artísticas proeminentes, veneradas pelo público,
provocam quando assumem, no relato biográfico, uma opinião que
contradiz convicções anteriormente assumidas.
Pessoas que sempre se manifestaram contra qualquer tipo de
cerceamento, seja ele político, musical, literário ou até
religioso, quando se sentem invadidas em sua privacidade, mudam
rapidamente de comportamento e passam a vociferar contra supostos
agressores.
Fácil entender que ninguém é tão seguro assim a ponto de ver
com
distanciamento os seus pontos fracos devassados, mesmo sendo figuras
públicas.
Criaturas fazem de tudo para se tornarem conhecidas, inclusive
para
auferir sucesso financeiro, mas rejeitam veementemente as
consequências desse mesmo sucesso, tais como: exposição de vida
pessoal, maledicência e até mesmo projeções fantasiosas
comprometedoras. O preço vem sempre a galope.
Acontece que, quando se faz a opção por uma profissão que traz
no
seu bojo a anulação da privacidade, deve-se ter em mente que, como
seres humanos, imperfeitos que somos, é impossível passar pela vida
com uma postura perene de heróis. Isso é lindo nos romances de
ficção, mas na vida real oscilamos entre heróis e vilões,
dependendo do momento vivido.
Todo o resto é pura balela, dependendo da maior ou menor
autoestima
de cada um. Num país como o nosso, em que a justiça é
extremamente
lenta, o que realmente preocupa é o ressarcimento de uma honra
denegrida injustamente.
Por que então não fazer leis especiais que penalizem forte e
rapidamente, todos os biografados considerados injustiçados por seus
biógrafos?
Imagino que essa problemática está bem mais ligada à vaidade
pessoal do que às verdadeiras razões da discussão em curso.
Numa época em que a privacidade pessoal já foi destruída, não
consigo ver motivos para tanta polêmica.
Por que maximizar tanto a opinião pública se já nos expomos
tanto
nas redes sociais, buscando uma notoriedade rápida a qualquer custo?
Estamos sempre fixados nos bônus, esquecendo-nos, com
frequência,
dos ônus que existem em todas as situações.
Pessoas com um passado despido de conotações morais
constrangedoras, geralmente aparecem menos, e só os que estão à sua
volta tem a real dimensão de sua integridade.
Os seus atos, coerentes com o seu bem estar pessoal e social, são
automáticos e, por isso mesmo, não despertam nenhum interesse, muito
menos para biógrafos sensacionalistas.