Marcelo, há 9 anos
Por por Onofre Ribeiro
08/12/2013 - 13:50
Precisamente ontem, dia 7, completou nove anos que meu terceiro filho Marcelo nos deixou, vítima de um acidente de moto, em Salvador. Prometi escrever um artigo a respeito, a cada ano, durante os dez primeiros anos, pensando em outros pais que como Carmem e eu, tivemos as asas quebradas com a passagem do Marcelo, aos 29 anos. Metade das mortes que acontecem em Mato Grosso são de jovens.
Frequentamos desde então um grupo chamado “Evangelho das Mães”, que se reúne na primeira quinta-feira de cada mês na casa de Zécarlos Branco e Nara Nardez, em Cuiabá. A cada reunião, mais e mais mãe e pais chegam e entram na jornada junto conosco. Chegam muito fragilizados e doloridos com a passagem recente de filhos em todas as idades.
Chegam perplexos, desnorteados buscando algum tipo de aconchego. Aí, nós que estamos nessa estrada há mais tempo, como Nara e Zécarlos, cujo filho Marco partiu há quase 20 anos, e tantos outros pais, ouvimos e, do modo possível em cada caso, tentamos mostrar pelo exemplo, que é possível superar e sobreviver ao trauma de ver um filho partir antes de nós.
Comparo a nossa vida depois disso, com um pássaro de asa quebrada. Recupera, pode voar, mas quando o tempo muda, quando o vento assopra forte, quando esfria, a asa dói. Para esses novos pais que chegam a cada mês, ficam ou apenas passam por lá, a certeza de que se pode manter a vida é muito importante, porque os primeiros tempos são extremamente dolorosos.
Tudo lembra o filho ou filha. Roupas, manias, costumes, lembranças. Lembranças são as sensações mais doloridas. Mas dá pra administrá-las e tocar a vida em frente.
O artigo deste dezembro de 2013, é muito mais maduro e sereno do que aquele de dezembro de 2004, quando o mundo desabou. O tempo é o grande remédio pra superar experiências dolorosas.
Este artigo, infelizmente, será lido por pais que num momento desses, poderão, como todos nós, os milhares que já vivenciamos a experiência, receber um telefonema com a notícia: “não sei como lhe dizer, mas seu filho morreu!”. Saibam que a morte é só numa contingência do viver.
Todos estamos sujeitos, embora a ordem natural, nesse caso, se inverta. O desespero, a tristeza, atos extremos, deixar-se deprimir, não ajudam, porque outros filhos e outras pessoas continuarão dependendo emocionalmente de nós.
Queria deixar a todos os pais, essa certeza de esperança. É possível superar o trauma e continuar voando, mesmo com a asa doendo quando o tempo muda.
ONOFRE RIBEIRO é jornalista em Mato Grosso - onofreribeiro@terra.com.br / www.onofreribeiro.com.br