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Meu corpo, minha moda
Por por Cristhiane Ortiz
18/08/2020 - 18:59

Foto: arquivo
Hoje resolvi usar minhas roupas que não ficam bem em mim!
Decidi que de agora em diante colocarei as roupas que tenho guardadas para usar quando emagreça. Optei pela decisão de utilizá-las ainda que não me caiam bem ! Ainda que sinta olhares desaprovadores,  apesar de constar que meu corpo não esteja tão adequado a essa vestimenta. E que o modelito não valorize o que tenho de melhor! Primeiro, porque a moda não acompanha o meu gosto, a indústria da moda não depende de minha aprovação, e as tendências de moda não me consultem antes de lançá-las. A não ser que eu pertença a esse cenário e seja especialista nesse quesito. Desse modo, é melhor usar minhas roupas ou então doá-las para  quem melhor faça uso delas . O que não posso é deixar de utilizá-las por achar que são inadequadas por não ter conseguido emagrecer  e ficar bem como gostaria!  O curioso é que percebemos que a vestimenta ficou  apertada ou larga demais, mas com o tempo, imperdoável, aprendemos a aceitar que podemos nos sentir confortáveis, mesmo que não sedutores ao vestí-las. Ao contrário, podemos nos sentir bem, mesmo sabendo que a silhueta não está perfeita e que ficou parecendo demais a barriga, ou o culote avantajado, afinal sabemos, o espelho há tempos nos mostrou as nossas imperfeições! Mas o que parece, é o incômodo maior talvez seja exatamente o do outro,  por perceber as nossas imperfeições e desejar remediar, ou diminuí-las. É constrangedor quando usamos uma roupa que talvez levamos muito tempo para termos coragem de usá-la e notamos que isso incomoda, o outro. Porque a nós há muito já superamos o fato de que o nosso corpo não mudará, nunca, ou  até que uma cirurgia plástica não atenue ou extinga o incômodo que sentimos mediante nossas imperfeições físicas. Basta observar:  se você está acima do peso e usa uma roupa que acentue isso, é uma gatilho para que surja na roda o assunto de dietas milagrosas, ou a necessidade de atividade física! É por isso que as pessoas que não se enquadram nos padrões estipulados pela indústria da moda usem roupas largas que escondem o seu corpo, é por esse motivo que acabem vestindo roupas desconfortáveis para evitar os olhares indiscretos do tipo: Nossa, tá parecendo a celulite! Hum, porque não usa uma cinta modeladora para apertar a sua barriga? É igual ao cabelo crespo, eu mesma , apesar de tê-los já sugeri a uma amiga que fizesse como eu, os alisasse! A gente acaba cometendo esses deslizes! Infelizmente, estamos a todo momento idealizando e reproduzindo comportamentos que são no mínimo castradores. Já saí de casa me sentindo a Vera Fischer e ouvi comentários maldosos em relação a cor do cabelo que me paralisaram na hora, apesar de constatar que a autora do impropério não era assim tão majestosa, pelo contrário! Deixava muito a desejar tanto na beleza, como no quesito educação. Sim, porque a boa educação consiste exatamente em não (super)valorizar os defeitos de quem está ao lado. E depois a pessoa que se acha bonita, pelo menos deveria estar de bem com a vida e não gostar de espezinhar a vida de ninguém! Mas como disse Manoel de Barros :  “gente besta e pau seco, nunca acaba no mundo.” E talvez elas existam, justamente para servir de exemplo, de que como não devemos nos comportar. Já que espelho, a maioria possui dentro de casa, ao passo que uma boa dose de empatia e tolerância são coisas que vêm de berço e não encontram-se embaladas com papéis de presentes e laços de fita nas melhores conveniências das sofisticadas lojas da Oscar Freire.
crisortiz
 
Cristhiane Ortiz é graduada em Letras na UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO

E Mestre em Linguística pela UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO

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