A proibição da pesca extrativa, decretada durante o período da piracema e fundamental para a renovação dos estoques de nossas bacias, já não é mais sinônimo de escassez de peixe, para consumo, no mercado regional, principalmente entre as espécies tradicionais, como o pintado e o pacu.
Atualmente a pesca representa apenas 10% das 60 mil toneladas de peixes previstas para este ano em Mato Grosso. Ou seja, a cada 10 kg apenas 1 kg é pescado. O restante é produzido pelos mais de 1.100 piscicultores espalhados pelo Estado.
Esta relação acontece em Mato Grosso, talvez por ser um estado estritamente continental. Na média, a pesca no Brasil ainda se sobrepõe, ainda que por pouco, à piscicultura, sobretudo por causa da atividade marítima.
Embora o setor esteja crescendo – no Estado e no país – e tenha potencial para ser mais uma estrela do agronegócio, o ritmo ainda é lento e não consegue acompanhar o consumo, bem mais rápido.
O Brasil produz cerca de 1,5 milhão de toneladas (entre pesca e piscicultura), mas consome mais dois milhões (de toneladas) anualmente. Mesmo assim, o consumo de 10,6 kg por pessoa, estimado em 2012, ainda está abaixo do mínimo de 12 kg recomendado pela Organização Mundial de Saúde.
Até outubro deste ano, o país importou 304,8 mil toneladas de pescado, no valor de US$ 1,17 bilhão, contra US$ 153,48 milhões (22,3 mil toneladas) exportadas, segundo o Aliceweb (Sistema de Análise de Informações do Comércio Exterior), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
A tendência é manter ou ultrapassar o déficit de US$ 1,2 bilhão registrado ano passado, por causa do aumento do preço por kg que pulou de US$ 3,476 para US$ 3,852.
Por outro lado, a produção brasileira sequer se destaca nos números mundiais – para se ter uma ideia, a China produz, entre pesca e aquicultura, 57,2 milhões de toneladas de um total 157,9 milhões produzidos em todo o mundo em 2012.
A boa notícia é a oportunidade que esta realidade propicia aos empreendedores/investidores mato-grossenses e brasileiros. Os dois últimos eventos sobre a cadeia produtiva que participei em Cuiabá – Feira Nacional de Peixes Nativos em Água Doce e 1º WorkFish do Centro-Oeste – reforçaram esta certeza, desde que, obviamente, encaremos a atividade profissionalmente.
Para isso, é preciso informação, conhecimento e estímulo. O Canal do Piscicultor (www.canaldopiscicultor.com), no ar há menos de um mês, nasceu com esta missão, a de contribuir para a profissionalização do setor.
A ferramenta possibilita que a cadeia produtiva do peixe tenha acesso, de forma centralizada, a notícias, entrevistas, vídeos, cursos e artigos técnicos, entre outros.
Fazendo o dever de casa, as chances de sucesso na atividade são bem mais amplas.
(*) Alan Barros é administrador de empresas com pós-graduação em marketing. Investe na piscicultura por acreditar no seu potencial em Mato Grosso.