Às vezes perguntamos se o ódio é necessário como parte integrante da vida. Ou se quem inventou o amor, também criou a medida de sua intensidade, o ódio. Ou, ainda, se o ódio é somente a ausência de amor.
Coloquemos a questão de outra maneira, talvez mais didática. Se amássemos, somente, objetivamente teríamos consciência de seu valor? Quais seriam as consequências desse amor singular, único e universal, como inato? As do ódio, ao que parece, racionalmente conseguimos enxergá-las, deduzi-las empiricamente até de forma visual.
Continuemos, então. O que nos move ao debate, somente amor ou certo grau de ódio e indignação? Se o amor fosse o único a inspirar as ideias, somente com ele discutiríamos os vários pontos de vista acerca da vida? Acaso afirmativa a resposta, haveria violência no ato de convencimento? Convencer é tentativa de imposição, ou não? E a imposição, é ato de amar?
A condenação de um ser, em essência e representação, por outro ser, é ato de amor ou de ódio? O juízo negativo, o descortinar da culpa, a caçada pelos fatos, a perseguição, ainda que do Estado, é amor ou ódio? Ou somente o Estado detém o monopólio do ódio? E se assim o é, estamos desculpados, libertos, para só amar?
A religiosidade indica caminhos, e neles não se vê lugar para o ódio. Certo? Pois bem. Os fariseus crucificaram, movidos por amor ou por ódio? A ignorância, esta figura antagônica que a todos absolve, existe muito mais como defesa ou como acusação? A afirmação do ‘nada sei’, é predicado da humildade ou da esperteza, evitando-se um peso a mais na consciência?
Agora, temos o ódio como integrante da vida. Ele, em si, existe racionalmente ou é mera ausência de amor? O ser o carrega em sua essência ou o maquiniza como sentimento necessário às adversidades? O ódio seria uma espécie de fita métrica em que medimos a intensidade de seu emprego, de forma consciente ou não, em determinadas situações? Ou, ao contrário, concorre com o amor em intensidade e grau?
As relações da vida, de poder, portanto, são de duas ordens: fundamentadas no amor ou no ódio, incluídos neste o interesse casuístico, que não o entendo como outra categoria. A vida é binária, em apertada síntese: bem e mal, bom e mau, bonito e feio, corajoso e covarde etc.
Em sendo com amor, ou com ódio, as leis são feitas. Inclusive as da razão, assim o foram. Seu cumprimento, também, ensejam amor ou ódio. E o Estado? O Estado é somente o cabo do chicote, manuseado por esse ser, que ama e odeia.
E a jurisprudência? Tem de todo tipo, com mais ou menos amor, com mais ou menos ódio, mas de todo tipo. Aliás, de todo tipo somos nós, não é mesmo?
É por aí...
GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO escreve aos domingos em A Gazeta (email:antunesdebarros@hotmail.com).