Mais de 50 pistas clandestinas de pouso e decolagens foram identificadas pela Polícia Federal, em Mato Grosso, dentro de fazendas particulares e em áreas de difícil acesso, somente neste ano. Elas são utilizadas por quadrilhas especializadas no tráfico de drogas, que têm usado aeronaves de pequeno porte para transportar o entorpecente.
Segundo o delegado federal Marco Aurélio Faveri, que atua no setor de combate ao tráfico, os casos foram registrados na região de fronteira com a Bolívia, e também no pantanal mato-grossense. Ele ressalta que o uso dos aviões para esse tipo de crime tem se intensificado, mas detalhes sobre mapeamento das áreas e as cidades tidas como alvo dos traficantes não foram divulgadas.
“Nota-se que nos últimos meses houve um crescente número dessa modalidade de crime, em que os assaltantes obtêm aeronaves para trazer a droga, e não apenas em Mato Grosso, como também em diversos estados”, frisa Faveri. O delegado disse também que as aeronaves, em grande parte, são roubadas e ainda adquiridas pelas organizações criminosas por valores que chegam até R$ 700 mil.
“Antes, eles praticavam o crime com aviões próprios, o que facilitava na identificação e fiscalização. Atualmente roubam de vítimas que estão próximas à fronteira, até mesmo para facilitar a fuga e o deslocamento para o país vizinho. Aí retornam com a droga para vender no Brasil”, explica.
Marco Faveri destaca ainda a dificuldade de combater o tráfico internacional na fronteira, porém, aponta que atualmente a Polícia Federal detém de equipamentos que têm auxiliado no combate às organizações e na identificação das pistas clandestinas.
Casos
No mês de maio, um policial federal morreu em Sinop, distante 503 km de Cuiabá, durante uma operação contra uma quadrilha que tentou roubar um avião em um aeródromo, localizado na zona rural. Mário de Almeida Mattos, de 33 anos, morreu depois de ser baleado no tórax. Cinco pessoas foram presas pelo crime, inclusive, o piloto da aeronave.
Conforme a PF, um dos integrantes do grupo revelou que receberia o valor de R$ 281 mil pela aeronave e que ela seria entregue para um traficante, na Bolívia, onde outra quadrilha atua na intermediação de compra e venda, na fronteira. Os fatos são investigados pela Polícia Federal no inquérito aberto para apurar o crime.
Traficantes do país vizinho também teriam comprado um avião Cessna, roubado no dia 15 de abril, segundo a PF, do hangar de um aeroclube em Sinop, pelo valor de R$ 190 mil. A mesma quadrilha teria agido nos dois casos.
Em junho, um avião de pequeno porte foi encontrado em uma plantação de algodão de uma fazenda, em Rondonópolis, a 218 km de Cuiabá. De acordo com a Polícia Militar, havia marcas de tiros no avião e sinais de sangue. O avião estava na Reserva Ambiental Carimã, a mais de 50 km de Rondonópolis, após supostamente ter caído no local. Inicialmente, a PM suspeita que três pessoas estivessem à bordo na aeronave, porém, ninguém foi encontrado no local e nem procurou a polícia ou pediu socorro.
Os policiais não descartam a possibilidade de que o avião era usado para o transporte de droga e que o piloto possa ter feito um pouso forçado no local.