“Limite” de Mário Peixoto é escolhido o melhor filme brasileiro de todos os tempos
O complexo de vira-lata do brasileiro se manifesta com muita força na hora de falar da produção nacional de cinema. O filme brasileiro é sempre alvo de críticas, havendo muitos que garantem que não perdem tempo indo ao cinema para ver filme nacional. Taí um preconceito cultural que será preciso muitos e muitos anos para vencermos.
Como parte desse esforço, identifico a iniciativa da Abraccine - Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine), que consultou 100 críticos de cinema e jornalistas especializados do país para definir um ranking dos 100 melhores filmes produzidos aqui no Brasil, desde que o cinema foi inventado. Na minha opinião, a lista é um demonstrativo de que cineastas brasileiros já produziram obras marcantes. Suficientes para justificar os crescentes investimentos que se fazem na produção cinematográfica em nosso País.
Único longa-metragem dirigido por Mario Peixoto e apresentado pela primeira vez em 1931, ‘Limite” ficou consagrado como o melhor filme brasileiro de todos os tempos, de acordo com o ranking da Abraccine. Quem ainda não o viu, que trata de suprir esta sua carência cultural e perceba que a arte cinematográfica é exercitada com criatividade, entre nós, há muito tempo.
Em segundo lugar aparece “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964), de Glauber Rocha, um dos filmes mais importantes do movimento do Cinema Novo. “Vidas Secas”, de Nelson Pereira dos Santos, baseado no livro homônimo de Graciliano Ramos, lançado em 1963, fecha o G3 do cinema nacional, na terceira posição.
A lista não se limitou aos longas, com o impactante “Ilha das Flores” (1989), de Jorge Furtado, aparecendo muito bem na lista, ocupando a 13ª colocação. Também não houve distinção entre ficção e documentário, gênero que tem em “Cabra Marcado para Morrer” (1984), de Eduardo Coutinho, o seu representante melhor ranqueado, no quarto posto.
Já está definido que o levantamento da Abraccine é o ponto de partida do livro “Os 100 Melhores Filmes Brasileiros”, que será lançado em 2016, pela editora Letramento, primeiro de uma série de publicações coordenada pela entidade. O livro reunirá ensaios sobre cada um dos filmes mais votados, escritos pelos principais críticos de cinema do país. Eis ai um livro para se aguardar com boa expectativa.
“Foram citados 379 filmes, número surpreendente para uma cinematografia construída sobre ciclos. Mesmo os que ficaram de fora dos 100 melhores têm a sua contribuição na história do cinema do país, o que nos ajuda a perceber a grandeza de nossa produção”, observa Paulo Henrique Silva, presidente da Abraccine.
Ele registra que os principais movimentos estão representados no ranking, dos diretores pioneiros como Humberto Mauro e Mario Peixoto e da chanchada à fase de retomada da produção nacional, passando pelo Cinema Novo e pelo Udigrudi. Também não foram esquecidos diretores que tiveram uma carreira singular no cinema brasileiro.
É o caso de José Mojica Marins, o criador do personagem Zé do Caixão, durante muitos anos o único realizador a trabalhar com o terror. Marins aparece três vezes na lista, com À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964), 46º posto, O Despertar da Besta (1969), 55º, e Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (1966), 90º.
Glauber Rocha é o diretor com maior número de citações: cinco. Foram lembrados Deus e o Diabo na Terra do Sol (2º), Terra em Transe (5º), O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (33º), A Idade da Terra (57º) e Di (88º).
OS 10 MELHORES FILMES BRASILEIROS DE TODOS OS TEMPOS
Limite (1931), de Mario Peixoto
Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha
Vidas Secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos
Cabra Marcado para Morrer (1984), de Eduardo Coutinho
Terra em Transe (1967), de Glauber Rocha
O Bandido da Luz Vermelha (1968), de Rogério Sganzerla
São Paulo S/A (1965), de Luís Sérgio Person
Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles
O Pagador de Promessas (1962), de Anselmo Duarte
Macunaíma (1969), de Joaquim Pedro de Andrade
Central do Brasil (1998), de Walter Salles
Pixote, a Lei do Mais Fraco (1981), de Hector Babenco
Ilha das Flores (1989), de Jorge Furtado
Eles Não Usam Black-Tie (1981), de Leon Hirszman
O Som ao Redor (2012), de Kleber Mendonça Filho
Lavoura Arcaica (2001), de Luiz Fernando Carvalho
Jogo de Cena (2007), de Eduardo Coutinho
Bye Bye, Brasil (1979), de Carlos Diegues
Assalto ao Trem Pagador (1962), de Roberto Farias
São Bernardo (1974), de Leon Hirszman
Iracema, uma Transa Amazônica (1975), de Jorge Bodansky e Orlando Senna
Noite Vazia (1964), de Walter Hugo Khouri
Os Fuzis (1964), de Ruy Guerra
Ganga Bruta (1933), de Humberto Mauro
Bang Bang (1971), de Andrea Tonacci
A Hora e a Vez de Augusto Matraga (1968), de Roberto Santos
Rio, 40 Graus (1955), de Nelson Pereira dos Santos
Edifício Master (2002), de Eduardo Coutinho
Memórias do Cárcere (1984), de Nelson Pereira dos Santos
Tropa de Elite (2007), de José Padilha
O Padre e a Moça (1965), de Joaquim Pedro de Andrade
Serras da Desordem (2006), de Andrea Tonacci
Santiago (2007), de João Moreira Salles
O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (1969), de Glauber Rocha
Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro (2010), de José Padilha
O Invasor (2002), de Beto Brant
Todas as Mulheres do Mundo (1967), de Domingos Oliveira
Matou a Família e Foi ao Cinema (1969), de Julio Bressane
Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), de Bruno Barreto
Os Cafajestes (1962), de Ruy Guerra
O Homem do Sputnik (1959), de Carlos Manga
A Hora da Estrela (1985), de Suzana Amaral
Sem Essa Aranha (1970), de Rogério Sganzerla
SuperOutro (1989), de Edgard Navarro
Filme Demência (1986), de Carlos Reichenbach
À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964), de José Mojica Marins
Terra Estrangeira (1996), de Walter Salles e Daniela Thomas
A Mulher de Todos (1969), de Rogério Sganzerla
Rio, Zona Norte (1957), de Nelson Pereira dos Santos
Alma Corsária (1993), de Carlos Reichenbach
A Margem (1967), de Ozualdo Candeias
Toda Nudez Será Castigada (1973), de Arnaldo Jabor
Madame Satã (2000), de Karim Ainouz
A Falecida (1965), de Leon Hirzman
O Despertar da Besta – Ritual dos Sádicos (1969), de José Mojica Marins
Tudo Bem (1978), de Arnaldo Jabor (1978)
A Idade da Terra (1980), de Glauber Rocha
Abril Despedaçado (2001), de Walter Salles
O Grande Momento (1958), de Roberto Santos
O Lobo Atrás da Porta (2014), de Fernando Coimbra
O Beijo da Mulher-Aranha (1985), de Hector Babenco
O Homem que Virou Suco (1980), de João Batista de Andrade
O Auto da Compadecida (1999), de Guel Arraes
O Cangaceiro (1953), de Lima Barreto
A Lira do Delírio (1978), de Walter Lima Junior
O Caso dos Irmãos Naves (1967), de Luís Sérgio Person
Ônibus 174 (2002), de José Padilha
O Anjo Nasceu (1969), de Julio Bressane
Meu Nome é... Tonho (1969), de Ozualdo Candeias
O Céu de Suely (2006), de Karim Ainouz
Que Horas Ela Volta? (2015), de Anna Muylaert
Bicho de Sete Cabeças (2001), de Laís Bondanzky
Tatuagem (2013), de Hilton Lacerda
Estômago (2010), de Marcos Jorge
Cinema, Aspirinas e Urubus (2005), de Marcelo Gomes
Baile Perfumado (1997), de Paulo Caldas e Lírio Ferreira
Pra Frente, Brasil (1982), de Roberto Farias
Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (1976), de Hector Babenco
O Viajante (1999), de Paulo Cezar Saraceni
Anjos do Arrabalde (1987), de Carlos Reichenbach
Mar de Rosas (1977), de Ana Carolina
O País de São Saruê (1971), de Vladimir Carvalho
A Marvada Carne (1985), de André Klotzel
Sargento Getúlio (1983), de Hermano Penna
Inocência (1983), de Walter Lima Jr.
Amarelo Manga (2002), de Cláudio Assis
Os Saltimbancos Trapalhões (1981), de J.B. Tanko
Di (1977), de Glauber Rocha
Os Inconfidentes (1972), de Joaquim Pedro de Andrade
Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (1966), de José Mojica Marins
Cabaret Mineiro (1980), de Carlos Alberto Prates Correia
Chuvas de Verão (1977), de Carlos Diegues
Dois Córregos (1999), de Carlos Reichenbach
Aruanda (1960), de Linduarte Noronha
Carandiru (2003), de Hector Babenco
Blá Blá Blá (1968), de Andrea Tonacci
O Signo do Caos (2003), de Rogério Sganzerla
O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (2006), de Cao Hamburger
Meteorango Kid, Herói Intergalactico (1969), de Andre Luis Oliveira
Guerra Conjugal (1975), de Joaquim Pedro de Andrade*
Bar Esperança, o Último que Fecha (1983), de Hugo Carvana*
*Empatados na última colocação, com o mesmo número de pontos