Por dia, uma média de 125 mulheres sofre algum tipo de violência no Estado de Mato Grosso. Em média, a cada hora, cinco são ameaçadas, agredidas, estupradas ou vítimas de diversas outras formas de violência.
Levantamento da Secretaria de Estado de Segurança Pública, ainda não consolidado, de ocorrências, mostram que até setembro foram 30.370 casos. Em relação ao mesmo período do ano de 2015, quando foram contabilizadas 22.872 ocorrências, o aumento foi de mais de 32%.
O levantamento aponta 13.728 casos de ameaça, 6.866 de lesão corporal e 819 de “vias de fato”. No Estado, no ano passado, 150 mulheres foram estupradas, 98 vítimas de assédio sexual, 64 vítimas de homicídio doloso e 76 de maus-tratos.
Em Cuiabá, chegaram a 3.182 os casos de ameaça, 1.438 de lesão corporal e 49 de vias de fato.
Foram registrados ainda 32 estupros, 24 assédios sexuais, três homicídios dolosos e nove casos de maus-tratos. No total, foram 8.153 registros de ocorrências de violência contra a mulher na Capital.
Já na cidade de Várzea Grande, foram 1.396 registros de ameaça, 595 de lesão corporal e 36 vias de fato. E ainda 12 estupros, cinco assédio sexual e nove maus-tratos. Na Cidade Industrial foram 2.900 registros de violência contra a mulher.
Quem já foi vítima de violência sabe bem como ainda existe preconceito e falta de apoio em relação às mulheres. J.A.C., de 42 anos, é mãe de três filhos e se casou ainda adolescente, aos 15 anos.
Ela afirma que, no início do casamento, o marido era um “príncipe”, mas, na medida em que o tempo foi passando, o homem mudou totalmente o comportamento.
Ela conta que ele não a deixava visitar parentes, falar com amigas e nem sair para trabalhar. Quando o marido saía de casa, ele a trancava e levava a chave.
“Foram anos de sofrimento, eu não falava com ninguém e, quando alguém da minha família vinha me visitar, tinha que fingir que estava tudo normal. Além de me trancar, ele me batia quase todos os dias”, diz.
J.A.C. conta ainda que a dependência do marido e os filhos eram as razões por que não se separava, além do medo das ameaças feitas a ela.
“Vejo muita gente aí falando que mulher apanha porque gosta. Mas se elas soubessem realmente o que é estar na pele da gente. Falta de incentivo, falta de leis que realmente punam os agressores, a mulher não tem onde recorrer. Fora que quem é agredida sofre tanta pressão que nem tem reação”, afirmou.
J.A.C. afirma que a situação só mudou 22 anos depois, quando o marido morreu.
“Foram mais de duas décadas de sofrimento, até hoje escondo isso de muitos da minha família, porque sei que vou ser recriminada por eles. Hoje a sociedade só sabe criticar as mulheres que são vítimas de violência. No final, parece que nós, mulheres, somos culpadas por apanhar, por ser estuprada e até por morrer. A sociedade precisa mudar esta mentalidade, para que as mulheres de fato tomem coragem e denunciem a violência”, afirmou.
DADOS – Um levantamento do Atlas da Violência 2016, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), aponta que 13 mulheres são assassinadas todos os dias no Brasil.
O estudo aponta ainda que, em dez anos – 2004 a 2014 -, o número de mortes de mulheres em Mato Grosso cresceu 55,9%: de 867 em 2004, passou para 1.352 em 2014. O aumento é maior até do que o da média nacional que, em dez anos, foi de 21,9%.