Quem passou ou está perto dos 60 anos e foi aluno de grupo escolar no Brasil, se tiver o mínimo de memória se lembrará do leite em pó que a “Aliança para o progresso” nos mandava para garantir a merenda escolar no nosso país gigante, mas então importador de arroz, feijão, carne, lácteos e frutas. Essa Aliança foi um tratado de colaboração social firmado pelos Estados Unidos com o Brasil.
Em Alpercata, Minas, fui aluno do Grupo Escolar São José, onde entrava na fila com uma caneca branca, grande, esmaltada, para receber minha merenda Made in USA. O tempo é mestre na arte de sepultar o passado, mas nem ele consegue impedir que nossa memória, quando provocada, ressuscite fatos com riqueza de detalhes.
Na quinta-feira, 25, em Cuiabá, cobrindo um seminário promovido pelo Banco Santander, sobre agronegócio, ouvi atentamente a palestra proferida pelo ministro da Agricultura Blairo Maggi, que focalizou o Brasil importador na década de 1960 e o gigante agrícola de agora.
Para exemplificar o Brasil dos anos 1960 Blairo disse que foi aluno de escola pública em São Miguel do Iguaçu (PR), onde a merenda era feita com o leite em pó da Aliança para o progresso, porque a pecuária leiteira do Paraná não conseguia atender à demanda da rede escolar; o ministro acrescentou que tão logo a notícia do assassinato do presidente americano John Kennedy chegou àquela cidade, a escola inteira temeu que aquele crime pudesse resultar na suspensão da doação por parte daquele tratado de colaboração social.
Saltando para o momento atual o palestrante detalhou que seu país colhe mais de 220 milhões de toneladas de grãos.
O salto de 1960 para 2017 na área de produção de alimentos foi grande graças ao agronegócio. Com isso nosso país desponta no cenário internacional como estratégico à política de segurança alimentar mundial. Mais: sem necessidade de expandir territorialmente sua fronteira agrícola o Brasil pode praticamente dobrar sua safra.
Mesmo diante da realidade agrícola nacional vejo figuras ditas formadoras de opinião satanizando o agronegócio e em alguns casos até mesmo tentando provocar uma luta de classe botando de um lado os produtores e, de outro, o grupo que sabe e tem solução para tudo, desde que isso não exija algum tipo de trabalho na acepção da palavra.
Sou do tempo do leite em pó da Aliança para o progresso distribuído gratuitamente nas escolas, e da manzana argentina, do aceite espanhol, do macarrão e do arroz italianos, todos caríssimos, porque não tinham similares nacionais em escala para disputarem o mercado com eles.
Sofro o efeito do tempo, é inevitável, por isso às vezes esqueço algo, mas esse mesmo tempo é paciente conselheiro, mestre educador e sábio magistrado a mostrar a diferença entre o real e o radical, e entre o ontem e o hoje da minha trajetória de vida. Produza sempre mais, Brasil!
Eduardo Gomes de Andrade é jornalista