Os sonhos não precisam de asas, precisam de anjos.
Antes de tudo, sejam pescadores de sonho e acreditem em Cáceres. Se cada um que se indignou com o que aconteceu, se dedicar a mudar a vida de uma criança, tudo terá valido a pena.
Quando eu era criança, tinha vários amigos, colegas, com o dom de desenhar, de pintar. A decisão mais sensata era focar nos estudos e deixar esse dom pra lá. Eu não fui sensato, foquei nos estudos, mas, trouxe o dom “pra cá”. Hoje me orgulho da escolha que fiz, e da condição que o destino me deu. Ser cacerense. Desses orgulhos externos, além de família, humano, cristão, os meus maiores orgulhos são esses: ser artista e ser cacerense.
Quando eu pinto, eu pinto Cáceres, pinto toda a história que tem dentro de mim, além de mim. E, quando eu pinto em Cáceres, eu me completo. Porque faço o que gosto no lugar que eu mais gosto.
A gentileza dos espaços vazios me deu telas para pintar, e eu pintei. Não tinha autorização, não tinha licença. Fui lá e pintei. Apagaram. O que eu posso cobrar?
Um artista ele é o pai de uma obra, mas, assim que ela sai das suas mãos, ela ganha vida independente. O amor sempre vai existir, mas, não “mandamos mais”. Se alguém comprar uma tela minha e rasga-la, na minha frente, você acha que eu não vou chorar? Mesmo já tendo recebido pelo trabalho? Claro que vou! É uma obra, é um filho, o amor continuará por onde for. Mas, não é mais minha.
Eu prefiro acreditar que as asas da Riachuelo ganharam os céus, e as fotografias tiradas naquele lugar, de certa forma, ficaram ainda mais valiosas. Não guardo raiva ou rancor. Apenas a dor, de ter uma obra apagada.
Agradeço demais a todas as pessoas que se empenharam em me defender, aos que se indignaram, aos que sofreram comigo. Mas, já chega. Usem toda essa energia e disposição para cuidar das crianças que estão aqui em Cáceres, com seus dons para as artes, plásticas, música, dança, literária... Sejam pescadores de sonhos, usem a minha história, para fazer a história dessas crianças diferentes. Acreditem em Cáceres, porque eu acredito em Cáceres.
Rafael Jonnier Pires, artista plástico