Acidente Vascular Cerebral (AVC), câncer de pulmão e pneumonia são as três doenças que mais matam homens e mulheres em Mato Grosso. No país, de 1,2 milhão de óbitos registrados, 340 mil são decorrentes de doenças do aparelho circulatório, o que representa 28% do total de mortes registradas. O AVC ou derrame, popularmente chamado, é o mais mortal, responsável por 107.916 óbitos no país. Os dados são do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde (MS).
O cardiologista Marcus Antônio Godoy afirma que as doenças do coração são chamadas de “doenças da modernidade” devido ao estilo de vida atual, baseado no sedentarismo, alta carga de estresse, má alimentação, tabagismo e o consumo de álcool em excesso. “Há 20 anos imaginava-se que a principal causa de morte seria o vírus HIV, mas com as pesquisas e o avanço das medicações a doença foi controlada, hoje ninguém mais morre de Aids, o que mata são as doenças oportunistas que o HIV positivo contrai. Em contrapartida, o estilo de vida moderno associado a fatores não modificáveis como genética e idade cada vez mais avançada fazem com que as doenças cardiovasculares se sobreponham”, explica o especialista.
O médico comenta que o sistema circulatório tem um papel relevante no organismo humano, sendo responsável pelo transporte de hormônios, oxigênio e nutrientes. As principais estruturas são o coração, as veias, as artérias e os vasos sanguíneos. “Se esses órgãos nobres forem atingidos comprometem a saúde geral das pessoas. Por ser um sistema complexo, as doenças do sistema circulatório são muito perigosas e, em alguns casos, podem levar a morte. A maior parte destes problemas de saúde está relacionada ao coração”, alerta.
Godoy ainda reforça a necessidade do paciente ter consciência sobre os fatores modificáveis como evitar cigarro e álcool, além de manter uma rotina de atividade física para prevenir as doenças. “As pesquisas revelam hábitos saudáveis previnem várias doenças. As do coração principalmente. É importante reduzir o sal nas refeiçoes, evitar industrializados, manter o peso corporal e passar por avaliação médica constante, principalmente quem tem doenças como diabetes e hipertensão”, reforça.
Apesar da gravidade de um AVC e de chances de sequelas, há casos de superação como o da reitora da UFMT, Myrian Serra. Ela já declarou que “renasceu” depois de ter sofrido um derrame em dezembro de 2016. Ficou 40 dias internada e em janeiro deste ano, depois de ter recebido alta hospitalar começou sessão de reabilitação em tratamento médico domiciliar, hoje está totalmente recuperada e cumprindo extensas agendas na universidade.
Câncer de pulmão está em 2º lugar
Seguindo o ranking das doenças mortais, a segunda colocação fica com o câncer, que soma 201.968 óbitos. Os tipos mais comuns são câncer de pele, pulmão, mama e próstata. O mais letal é o câncer de pulmão (25.427). O cirurgião oncológico Rafael Sodré cita a importância do estilo de vida na prevenção. “Não é garantia que a manutenção de hábitos saudáveis vá evitar a doença, mas reduz consideravelmente os riscos. O cigarro é apontado como um fator externo que desenvolve a doença por isso deve ser eliminado”, cita.
Sodré aponta que a idade avançada e o diagnóstico tardio são os principais fatores em casos morte por câncer. “Não só Mato Grosso, como em todo o Brasil, ainda temos dificuldade em ofertar exames de rastreamento para a maioria da população. Muitas vezes quando o paciente chega ao oncologista, a doença está em estágio avançado e daí o tratamento é muito mais caro e a chance de cura, menor”, alerta.
O médico afirma que as estatísticas sobre causa de morte no Brasil demoram para ser atualizadas. Os dados mais recentes do Ministério da Saúde (MS) são de 2014 e estão disponíveis no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM). Para efeito de pesquisa a tendencia de morte não é significativamente diferente dentre de um curto período de tempo, sendo assim, as informações condizem com a atual realidade.
Sodré destaca que, em países desenvolvidos, já há indicadores de que as mortes decorrentes de câncer ultrapassaram as ocasionadas pelas doenças do sistema circulatório, que ainda está na liderança mundial. “No Brasil em algumas regiões mais industrializadas já observamos esta tendencia, em pouco tempo, se nada for feito, a mortalidade por causa de câncer irá superar as doenças do sistema circulatório”, analisa. “O paciente em tratamento de câncer precisa do apoio de uma equipe multidisciplinar, com enfermeiros, médicos, nutricionista, psicólogos, fonoaudiólogos e demais profissionais capacitados para atender alguém extremamente fragilizado que sofre com intervenções agressivas como rádio e quimioterapia”.
Doenças pulmonares estão em 3ª colocação
O presidente da Sociedade Mato-grossense de Pneumologia e Tisiologia, Carlos Fernando Garcia, avalia que esta é a época do ano mais apropriada para o surgimento de doenças respiratórias, a terceira maior causa de morte entre a população. O SIM registrou 139.045 óbitos resultantes de afecções do aparelho respiratório, sendo que 70.912 casos por pneumonia, o que corresponde a 50,9% de óbitos por este tipo de doença. “Esta época do ano que você tem redução da umidade e aumento de poluente, o que pode gerar uma inflamação na via aérea e facilitar o aparecimento de uma infecção respiratória, principalmente em idosos, crianças e pacientes pneumopatas”, alerta o especialista.
A higiene ambiental e a melhora da umidade do ar, com uso de umidificadores e lenços umedecidos, podem evitar o desenvolvimento da doenças. “É claro que manter a imunidade alta, com bons hábitos alimentares ajuda na manutenção da saúde como um todo. Consulta ao médico regular e aqueles que já possui alguma doença como asma e bronquite devem ficar atentos mais ainda, em alguns casos até com uso de medicamentos prescritos pelo profissional de saúde”.
Outras causas
As mortes pelas chamadas “causas externas” tiveram 156.942 registros em 2014. A categoria inclui agressões (59.681 mortes) e acidentes de transporte, (44.823) passando por quedas (13.327), envenenamentos e afogamentos.
Afecções originadas no período perinatal (entre as 22 semanas completas de gestação e os sete primeiros dia de vida) levaram a óbito 22.482 brasileiros.
Segundo dados do Ministério da Saúde, o perfil nacional da mortalidade modificou-se durante as últimos décadas, nos anos 30, as doenças infecciosas e parasitárias (tuberculose, diarreias, malária, entre outras) correspondiam a aproximadamente 46% das mortes em capitais do país. De lá para cá, verificou-se significativa redução de mortes por ocorrência dessas doenças, sendo que em 2014 essas doenças correspondiam a 52.174 casos de morte no Brasil.