A Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) concedeu seu primeiro título honorífico esta semana. O título de Doutor Honoris Causa ao Bispo Emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia Dom Pedro Casaldáliga foi aprovado pelo Conselho Universitário da Instituição. A cerimônia de entrega do diploma de concessão do título ainda será agendada. A indicação é em reconhecimento à luta pela permanência do câmpus de Luciara no Araguaia, entre tantas lutas que o religioso travou para que a população mais pobre e os indígenas da região tivessem consciência de seus direitos e que lutassem por eles.
Pere Casaldáliga i Pla nasceu em Balsareny, província de Barcelona, em 16 de fevereiro de 1928. Radicado no Brasil desde 1968, foi nomeado bispo prelado de São Felix do Araguaia pelo Papa Paulo VI e ordenado dois meses depois, no dia 23 de outubro de 1971. Em 1968, quando mudou-se para o Brasil, tinha a incubência de fundar uma missão claretiana em Mato Grosso. Em meio à ditadura militar, o então sacerdote encontrou no Araguaia uma região com alto grau de analfabetismo, marginalização social e concentração fundiária e, consequentemente, a ocorrência de inúmeros assassinatos.
Em entrevista concedida em 2011 à jornalista da Unemat, Lygia Lima, Dom Pedro reporta-se ao pedido que ouviu com maior insistência do povo do Araguaia assim que lá chegou. “Que não esquecesse a educação. Percebemos desde então que a fixação do povo no campo dependia da escola”, recordou Dom Pedro. Segundo ele, em 1991, a decisão da Unemat de se fixar em Luciara, distante 100 quilômetros de São Félix, foi de grande ajuda para tirar do esquecimento, o Vale dos Esquecidos. “O programa Parceladas foi luminoso. Educação na base, no chão. Várias pessoas deste País que passaram por aqui elogiaram muito a experiência”, memorou o bispo emérito.
Fundador da Comissão Pastoral da Terra e do Conselho Indigenista Missionário, Dom Pedro ganhou notoriedade internacional ao denunciar atos de madeireiros, policiais e grandes proprietários rurais no regime militar contra posseiros, peões e povos indígenas. Por sua permanente luta e defesa dos mais vulneráveis, Dom Pedro foi ameaçado de morte por pelo menos seis vezes, sendo a última em 2012. O octagenário tem por lema “Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar.”
Adepto da teologia da libertação e autor de inúmeros livros, Dom Pedro teve ao longo dos anos sua trajetória retratada por vários autores em obras como 'Nós, do Araguaia: Dom Pedro Casaldáliga, bispo da teimosia e liberdade', 'São Félix/Brasil: Uma Iglesia que lucha contra la injusticia' e 'Descalço sobre a terra vermelha', de Francisco Escribano, que dá origem ao filme de mesmo nome ganhador do Prêmio Gaudi em 2015.
Com a saúde bastante debilitada, em função da doença de Parkinson, responsável pela sua renúncia à Prelazia em 2005, atualmente Dom Pedro Casaldáliga vive em São Félix do Araguaia, em companhia de freis agostinianos.