Michelly Manuely Cacimiro de Almeida, 5 anos, foi diagnosticada com autismo leve
Era para ser mais um dia de fisioterapia e fonoaudiologia para quatro, das seis crianças que integram o “Projeto Cãominhar”, do Grupo Especial de Segurança na Fronteira (Gefron). Mas a quinta-feira (16) foi uma data especial aguardada com ansiedade pelos pequenos. O motivo da felicidade das crianças se resume em três nomes - Quipe, Gaia e Pink, cães do grupamento que auxiliam nas atividades de reabilitação de pacientes com autismo e paralisia cerebral.
A primeira a chegar, Michelly Manuely Cacimiro de Almeida, 5 anos, foi diagnosticada com autismo leve. A mãe conta que antes da interação com os animais, a filha falava pouco.
“Ela sempre interagiu bem, mas não conversava muito. Era uma dificuldade para ela. Mas, após a terapia com animais, ela passou a falar mais e se desenvolveu nesta parte”, avalia Erineia Aparecida Cacimiro de Almeida, moradora do município de Rio Branco (367 km a oeste de Cuiabá).
A dona de casa ressalta que toda vez que a filha participa da terapia, ela não quer ir embora. “Sempre chora na hora que temos que retornar para casa. Esse projeto proporcionou muitas coisas boas para ela. Antigamente ela tinha muito medo de animais. Agora ela perdeu o medo e ainda repete com outros animais o que faz nas aulas”.
Michelly é uma das crianças atendidas pelo Centro de Reabilitação do município de Cáceres (a 250 km de Cuiabá). O trabalho desenvolvido dentro da unidade é resultado da parceria do Gefron com a Prefeitura. Quatro cães são utilizados em sessões de fisioterapia, realizadas uma vez por mês. Quase 1.100 pessoas, entre crianças e adultos, fazem terapia na unidade de saúde.
A professora Kallen Cristina Rocha Ramos, mãe de Otávio Rocha Ramos, 10 anos, disse que o filho teve diagnóstico de autismo moderado quando tinha pouco mais de três anos de idade. Kallen é só elogios para a reabilitação da criança.
“Percebi uma evolução gigantesca com a inserção da terapia com os cães. Desde 2016 frequentamos o espaço, mas no último ano eu percebi que ele melhorou bastante. Ele dialoga mais facilmente e interage com as pessoas. Fico feliz porque enxergo que ele ficou mais independente”, diz a mãe feliz.
Uma das fisioterapeutas da unidade explica que a atividade com o animal é baseada no movimento que a criança precisa realizar. “Os circuitos que eles fazem aqui é avaliado dentro da necessidade de cada um, seja ela coordenação motora ou fala”.
Ainda segundo a profissional, a utilização do animal na fisioterapia deixa o ambiente mais animado.
“Muitas destas crianças fazem reabilitação há muitos anos, então a atividade deixa de ser prazerosa. O animal é um estímulo para a criança e o alcance de resultados é mais satisfatórios”, enfatiza.
Limitação não é empecilho
Nascido com 36 semanas e com parte do cérebro paralisado, Felipe Souza da Silva, 10 anos, não se abate com a limitação física. A mãe, Janine Aparecida de Souza, disse que o filho já adquiriu mais firmeza desde o início da atividade com o animal.
“Ele tinha a coordenação motora fraca, mas vem melhorando gradativamente”.
A primeira atividade de Felipe foi mirar uma bola para derrubar os pinos no chão, atividade de coordenação motora. Monitorado pela fisioterapeuta, a mãe comemorava cada acerto do filho.
A segunda atividade foi enfrentar um labirinto sem a cadeira de rodas e apoiado por um policial. A dinâmica era segurar a Gaia, cão labrador, pela coleira e na outra mão, levar uma lanterna. Felipe completou por duas vezes o trajeto.
O projeto
Com pouco mais de um ano da efetivação, o “Projeto Cãominhar” passará por uma reavaliação do corpo clínico do Centro de Reabilitação, que inclui fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionista e psicólogos e com os policiais do Gefron. O objetivo é conhecer os resultados já alcançados e traçar outras metas que visem ampliar as melhorias no tratamento das crianças.
Ao todo, foram realizadas 12 sessões com cães. A adestradora e policial civil, Vanessa Miranda de Paula, disse que a melhora das crianças foi notada, mas é preciso ter uma avaliação de todos que atuaram neste período.
“Notamos avanços nas crianças no dia-a-dia, seja na fala, interação e movimentos. E isso é muito bom. A inclusão dos animais é um estímulo para as crianças. Neste momento, vamos avaliar todo o trabalho feito, inclusive com o olhar do pais, e posteriormente, definir a retomada do projeto”, argumenta.
O comandante do Gefron, tenente-coronel José Nildo de Oliveira, afirma que encerra o primeiro ciclo para começar outro, com a possibilidade de ampliar o atendimento.
“Vamos começar o segundo ciclo de atendimento. A partir deste momento vamos analisar a ampliação deste projeto, de acordo com os resultados obtidos. O resultado alcançado até o momento foi satisfatório e cumpriu com o objetivo de estarmos colaborando e ajudando na reabilitação destas crianças da região de Cáceres”, ressalta.
Canil Integrado
Dez cães auxiliam as instituições de Segurança Pública na faixa de fronteira entre Brasil e Bolívia. A unidade foi criada em outubro de 2013 e regulamentada em novembro de 2014. Os cães atuam em três frentes: faro de drogas, busca e resgate e captura, abordagens de guarda. Os cães farejadores são os mais empregados nas ações policiais.