Acordei pensando nas inúmeras ciladas do destino, será que o acaso existe? Ou nós o provocamos? Será que nascemos destinados à sorte e ao azar? Ou simplesmente navegantes a bordo desta imensa nave nos contemplada ao nascermos. Portanto, responsáveis por todos os acasos e infortúnios que somos incitados a viver. O fato é que somos animais (ir)racionais, ora sim, ora não, equilibrando em posições (des)favoráveis, displicentes com nossas falhas e atentos ao comportamento do outro. Complacentes aos nossos erros, e intolerantes com o do próximo, obstinados em apontar dedos e deslizes, aprendemos desde cedo a julgar e depois retroceder. Selecionamos a certeza do ambíguo, nos transformamos em mestres de veredictos, e iniciantes nas ponderações.
Nos interessamos pelo supérfluo e deslembramos o que nos é essencial, eventualmente somos solícito a estranhos, e indispostos ao consanguíneo. Efeito ressaca, é menos trabalhoso lidar com opiniões que concordam do que conviver com o que diverge e nos provoca. Assim permanecemos na zona de conforto escravizados a nós mesmos, não nos permitindo à liberdade de pensar diferente daquilo que consideramos análogos ao que julgamos perfeito e conexos ao nosso modo de atuar e pensar diante das coisas do mundo.
É muito complexo diminuir a diferença do que dizemos e do que realmente conseguimos fazer, pois ao final nos perdemos no percurso, e meramente comportamos como predador e caça alternadamente. Mas ninguém é tão inocente que não sinta a inquietação da dúvida: posso fazer? e ao mesmo tempo não tenha o impulso de realizar. O que nos difere não é a resposta, e sim a pergunta, esta sim nos elucida e nos abstém, as perguntas quase sempre expressam o que sentimos, e afinal, as perguntas servem para isso, mostrar aquilo que nos inquieta, como também manipular a verdade. É muito difícil pensar com imparcialidade, com justiça, estamos sempre vertendo pesos e medidas na balança de julgamentos que se equilibram conforme nossa medida.
O fato é que devemos tomar o cuidado de não se auto boicotar ou buscar compensações que trazem o conforto instantâneo, sair procurando a infelicidade e se surpreender ao encontrá-la. Apesar que, não podemos controlar nem a nossa própria vida, e tampouco a nossa morte. Afinal, ninguém idealiza uma doença, ou um mal. O ideal talvez seria encontrar a assimetria com nossos sentimentos, sem nos supervalorizarmos, e nem tampouco nos subestimarmos, aceitarmos a ajuda de quem se propõe a outorgar acréscimos à nossas experiências sem contudo nos fazer refém de nossas vaidades.
O certo é que não existem fórmulas mágicas, nem antídotos que forneça milagres coletivos, ninguém é igual, podemos nos aproximar por afinidades, mas somos distintos por natureza. As receitas nem sempre são infalíveis, o que surte efeito numa pessoa pode falhar em outra, isso vale tanto para curar amores como para melhorar ressaca, os efeitos colaterais nem sempre são precisos. Pode ser que a dor diminua ao sorver uma música, ou uma bebida, e tem quem escolha se vingar, e viver com dignidade antes que a compaixão seja necessária, degustando a vida aos goles, não sôfrego como o alcoólatra, mas paciente como quem sabe que aquele pode ser o último gole. E quando surgir a dúvida, sobre ir e ficar, estático, vá, colha os frutos que estão à mão, porém se equilibre para poder alcançar aquele que distante. “Não podemos mudar o passado. Somente o agora, que nos dará uma nova perspectiva do futuro. Então, o que tiver de fazer, faça agora. Não ligue pro que irão dizer, de uma forma ou de outra, irão dizer. Seja porque fez ou deixou de fazer. So, just do it.”(então: faça)
Cristhiane Ortiz Lima é graduada em Letras e mestre em Linguística pela UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO.