Mesmo com a sessão marcada, pacientes oncológicos estão voltando para casa sem fazer a quimioterapia. Eles estão sendo dispensados do Hospital do Câncer de Mato Grosso, sem expectativa de retorno, com a justificativa de que o problema é a falta de dinheiro para comprar os remédios.
Conforme o balanço da unidade, o débito chega a R$ 6,8 milhões, acumulados desde junho de 2018.
No valor, estão os repasses por serviços, incentivos e ainda emendas parlamentares que caíram na conta da Prefeitura de Cuiabá, mas que não teriam sido transferidas para o hospital, que atendeu 107.326 pessoas somente no ano passado.
Responsável técnico pelo setor Hematológico, o médico André Crepaldi diz que as quimioterapias foram suspensas esta semana porque não há mais como custear o serviço.
Atualmente, 600 pacientes estão com tratamento em andamento e foram diretamente atingidos pela decisão.
“O impacto logo será sentido nos demais setores do hospital e em muitos serviços nos quais o hospital é referência, como de oncologia infantil”, avalia o profissional.
Segundo Crepaldi, os prejuízos da paralisação são incalculáveis e vão, desde a demora na cura, até a aceleração da morte, uma vez que, em casos graves, o tumor pode aumentar e a doença evoluir.
Entre os débitos da Prefeitura de Cuiabá com o Hospital do Câncer estão:
No grupo de pessoas atingidas estão incluídos pacientes de Cuiabá e também do interior. Alguns estão começando o tratamento e outros foram surpreendidos no meio do processo.
O estudante Matheus Silva Oliveira, 24, conta que chegou para fazer a terceira sessão de quimioterapia no setor de hematologia e foi informado que não haveria medicação. Na ocasião, a recepção estava repleta de pacientes, que também ficaram desesperados com a situação.
“Eu falei com a minha médica e ela disse que, dependendo do tempo de atraso, pode haver reflexos no meu tratamento. Quero apenas continuar e poder me curar”, desabafa.
Segundo o paciente, o que mais o deixou preocupado foi a falta de expectativa quanto ao retorno. Os funcionários encaminharam os pacientes para a Ouvidoria e, lá, nada de concreto foi passado.
“Disseram apenas que precisamos esperar um retorno, porém não sabemos até quando”, relembra.
Presidente do MT- Mamma, Cleuza Dias conta que a situação dos pacientes oncológicos tem piorado muito nos últimos anos. Na avaliação dela, isso aconteceu por conta de um desequilíbrio. Enquanto o número de pacientes aumenta, o serviço público diminui o número de atendimento e de leitos.
Ela explica que casos como o de Matheus foram recorrentes ao longo do ano passado. E os problemas não são apenas no Hospital do Câncer, mas sim no sistema público como um todo.
“Tivemos uma paciente que morreu porque ficou três dias acomodada no pronto-atendimento, esperando um leito de UTI. Ela faleceu sem conseguir”, relata.