Pelo momento atual que o Brasil e o mundo está passando, já é um motivo para não festejar. Mas pelo menos era para ser um dia de orgulho para todos nós Pedagogos. Mas orgulhar de que? Orgulhar por saber que em Cáceres, no dia do fechamento da folha de pagamento, foi publicado um decreto dizendo que ninguém não teria salário, e nem previsão de quando iria receber? Alegrar como?
Temos um gestor autoritário e mão de ferro. Temos uma vice que é professora e não resolve nada. Temos uma secretária de educação que é professora e não resolve nada. Temos um vereador que é professor que também não resolve nada. Penso que os profissionais da educação interinos, não tem nenhum motivo para comemorar, aliás, todos profissionais, sejam efetetivos ou interinos não tem motivo algum para comemorar.
A alegria do ingresso a universidade pública, realização de um sonho. Cada apresentação de trabalho, cada estágio concluído, cada conversa com amigos e professores, cada um desses momentos, vinha a esperança de contribuir para mundo melhor, uma sociedade mais justa e igualitária, transformar a sociedade através da educação, que sonho. Isso que dava forças para conseguir trabalhar 8 horas diárias e ir todas as noites a universidade. Sair dos estágios, engolir rapidamente alguma coisa, e ir trabalhar o restante do dia e a noite estar firmemente na universidade.
Quantas alegrias na apresentação da monografia, na festa de formatura, ainda da saudade de tudo isso, dos amigos de turmas e professores. Enfim, o primeiro seletivo, a a primeira turminha. Era pra ser o início da realização de um sonho, a oportunidades de retribuir o investimento feito pela sociedade, ajudando na construção de uma sociedade melhor.
O diagnóstico da turma, apresentou que o ano não seria fácil, teria algumas dificuldades, mas isso era o de menos para um professor que sonha em transformar a sociedade através da educação. Veio a primeira estagiária, um filme na cabeça, lembranças dos 6 estágio feito, das 6 oportunidades dada por algum professor na formação acadêmica. Porque não comemorar o encerramento do estágio da jovem estagiária? Teve Comemoração sim, tudo muito simples, alguns pães, alguns bolo e refrigerantes.
Um bom início, mesmo com uma pandemia que se alastrando mundo a fora, para um professor sonhador tudo iria ficar bem. Mas infelizmente a pandemia chegou, e o professor teve que deixar a sala de aula, teve que ir pra casa e torcer para tudo se resolver o mais breve possível. Estava aí uma oportunidade de terminar o planejamento anual, preparar alguns aulas e até de encaminhar algumas atividades para turma.
Mas em meio uma pandemia, onde os gestores do mundo todo estão dando um jeito de auxiliar a sociedade, o prefeito da cidade de Cáceres, resolveu suspender através de um decreto o salário de 311 profissionais da educação interinos. Ele concluiu que os profissionais não precisam de nenhum salário durante a pandemia. Decreto esse, que foi publicado no dia do fechamento da folha de pagamento, mas com data retroativo do início do mês. O decreto foi derrubado pela Câmara Municipal logo em seguida, mas o prefeito insiste em não obedecer.
Infelizmente, o gestor mudou a rotina e aumentou o sofrimento de 311 profissionais da educação interinos. Agora com todas as dificuldades naturais do dia a dia, os profissionais ainda tem que enfrentar as dificuldades da pandemia sem salário algum, sem direito a recorrer a nenhum auxílio do governo, pois todos estão contratados e sem salários, ninguém pode arrumar outro serviço.
"Belo gestor" que a cidade de Cáceres tem. Estamos vivenciando um início de aulas, que nem em pesadelo alguém iria imaginar. Uma crueldade por parte do nosso gestor, que nem para o pior inimigo alguém iria desejar. Contas a pagar (aluguel de casa, conta de água, luz e outras contas, gás de cozinha, boletos de carro, casa entre outros), comida para família e o leite para os filhos, afinal estamos falando de 311 família, 311 realidades diferentes, cada uma com a sua peculiaridade.
E mesmo com toda incansável luta, o prefeito ainda insiste que está certo. Conseguimos suspender o decreto do prefeito na Câmara Municipal, mas não consigiimos barrar as atrocidades do dele. Entramos com uma ação no Ministério público, e estamos na angústia da decisão judicial. Estamos a quase dois meses sem receber salário, e sem poder recorrer a nada, pois estamos contratados.
Portanto, neste dia 20.05.2020, dia do Pedagogo, depois desse triste relato, de como a educação e os profissionais da educação são tratados neste país, eu volto a pergunta, existe algo a comemorar no dia do Pedagogo?
José Carlos Gomes Brito, professor