Sempre na busca de aprendizado e, também, de sermos úteis nos diversos setores em que nos movimentamos, conversávamos com a amiga Inês Stranieri que é profissional da saúde há décadas, tendo prestado relevante trabalho preventivo para a população de Mato Grosso, acerca do elevado número de óbitos de mulheres gestantes e sua relação com a pandemia pela qual estamos passando. Infelizmente, a maioria dessas mortes decorrem de doenças facilmente detectáveis e que, com tratamento adequado, são plenamente evitáveis.
Com um acompanhamento técnico adequado a ser prestado pelo SUS às gestantes, tanto na fase pré-natal, quanto no parto e logo após o nascimento do bebê, com economicidade, é possível evitar essas mortes, tendo-se em vistas os inúmeros estudos que apontam como causas principais dessas ocorrências as infecções que muitas vezes levam a prematuridade, a diabetes gestacional, a hipertensão, a malformação congênita, mas também a sífilis; doenças derivadas do HIV; complicações na placenta; dentre outras doenças que podem ser diagnosticadas com os exames adequados durante o acompanhamento pré-natal e o monitoramento da gestante por uma equipe de profissionais capacitados e atualizados.
Aliás, em muitos estados rede existente para a coleta de sangue para o Teste do Pezinho se utiliza da mesma tecnologia para a realização dos exames sorológicos que compõem os protocolos do pré-natal com custo bastante reduzido e que poderão ser ofertados pelo SUS, dando maior agilidade e possibilitando o acompanhamento e monitoramento de muitas patologias que representam riscos de óbito fetal.
Outro significativo fator que contribuiria sensivelmente para evitar as mortes das gestantes, conforme concluem, frisamos, vários estudos técnicos que podemos encontrar sem muito esforço na internet, seria a realização de acompanhamento precoce das mulheres em gestação, com a aplicação de exames periódicos e de investigação sobre os costumes sociais da gestante, tais como o uso de álcool, tabaco e outras drogas lícitas ou ilícitas, com o fito de melhor orientação em cada caso, haja vista que durante a gestação o corpo da mulher sofre com diversas mudanças de ordem psicológica, hormonal, dentre outras, fatores estes que podem agravar a preexistência de alguma doença até então desconhecida.
No ano de 2011 foi criado em âmbito nacional a Rede Cegonha, como uma estratégia do Ministério da Saúde para se implementar uma rede de cuidados e assegurar às mulheres o direito ao planejamento reprodutivo e a atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério, bem como assegurar às crianças o direito ao nascimento seguro e ao crescimento e desenvolvimento saudáveis.
Tal estratégia tem a finalidade de estruturar e organizar a atenção à saúde materno-infantil em todo o país, todavia Mato Grosso aderiu parcialmente a este programa, contemplando apenas os municípios de Cuiabá, Várzea Grande e Rondonópolis. Nos
demais estados nos quais a adesão foi mais abrangente e se reconheceu a importância da Rede Cegonha, mesmo com tantas desigualdades regionais existentes nos diversos locais de cada estado, restou evidenciado o salto de qualidade alcançado no cuidado obstétrico e neonatal, como se verifica no Nordeste do país, onde as dificuldades de uma forma geral são mais presentes.
De igual modo, os estudos nos dão conta de que a diminuição da aplicação ou implantação da Rede Cegonha gera, automaticamente, um crescimento no número de óbitos evitáveis de gestantes.
Com base nessas informações que recebemos em uma conversa informal com uma amiga e que, depois, acabamos por confirmar por meio de pesquisas, tomamos algumas providências para não cair em mera lamentação e críticas infrutíferas.
Considerando que o secretário de estado de Saúde estava passando por momento de grave tratamento de saúde em decorrência de ter sido infectado pelo Covid-19, buscamos o vice-governador de Mato Grosso para falar do assunto, eis que se trata de pessoa reconhecida pela seriedade e alto grau de resolutividade naquilo com o que se compromete. Já a referida amiga Inês Stranieri deverá entrar em contato nos próximos dias com seus superiores hierárquicos na Secretaria de Estado de Saúde para iniciar um diálogo e, quiçá, poder apresentar uma proposta de trabalho em parceria com os municípios interessados, porquanto vemos como imperioso o entendimento da situação e o engajamento de pessoas ocupadas em fazer o bem.
É importante registrar que foi realizada a recomposição do grupo condutor estadual da Rede Cegonha – linha cuidado materno infantil no âmbito do SUS de Mato Grosso, renovado em julho de 2020 pela resolução CIB/MT Nº 056 DE 09/07/20 e que representa uma nova perspectiva para os cuidados obstétricos e neonatais. Porém, torna-se essencial a adesão por parte dos municípios e suas respectivas secretarias municipais de Saúde para que alcancemos os resultados positivos que são possíveis.
Defendemos a tese de que a qualificação permanente em serviço oferecida gratuitamente aos profissionais de saúde pelo portal de Boas Práticas IFF/FIOCRUZ/MS, pelos Programas de Telemedicina da UFMT, pelas capacitações oferecidas pelo Telesaúde e pela Escola de Saúde Pública de Mato Grosso, deveria requisito indispensável para a avaliação de desempenho dos servidores públicos de saúde, a fim de que efetivamente haja um melhor acompanhamento e monitoramento das gestantes, principalmente àquelas que são portadoras de diabetes gestacional, hipertensão e infecções urinárias que representam a maior incidência dentre os fatores de risco para a mortalidade materna em nosso estado.
Assim, Mato Grosso, se entender ser tecnicamente conveniente, poderá aderir com maior amplitude ao programa federal que vem evitando mortes de gestantes em outros estados. E o nosso estado e os municípios mato-grossenses, inclusive por meio dos consórcios intermunicipais de saúde, poderão celebrar cooperações técnicas de modo que, com isso, um forneça material e treinamento, e os outros façam coletas e remetam
para um centro de referência, diminuindo os custos atualmente gastos, além de prevenir futuras e eventuais internações (mais gastos com saúde pública).
Enfim, é possível salvar mais vidas! E a esperança, sempre renovada a cada início de ano, alicerçada em dados técnicos, bem como a intenção de colaborar, nos motiva a continuar aprendendo e servindo da forma que nos seja possível.
Nestor Fidelis