Para especialistas como Michel Desmurget, doutor em neurociência e autor da obra ‘TV Lobotomie: la verité scientifique sur les effeets de la télévision’, em português, TV Lobotomia: a verdade científica sobre os efeitos da televisão, não há mais dúvidas: a televisão é um flagelo. Quem também corrobora com o autor é a professora e pesquisadora da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), Rosely Aparecida Romanelli, que coordena uma equipe de pesquisadores membros do Grupo de Pesquisa em Pedagogia Waldorf cadastrado junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
“Minha tese primordial a esse respeito é que o excesso de TV gera a lobotomia que Michel Desmurget traz em seu livro”. Para o autor a TV exerce uma influência profundamente negativa no desenvolvimento intelectual, desempenho acadêmico, linguagem, atenção, imaginação, criatividade, violência, sono, tabagismo, alcoolismo, sexualidade, imagem corporal, comportamento alimentar, obesidade e expectativa de vida. Resumindo cria pessoas mais passivas, dóceis, controláveis e menos inteligentes.
Romanelli e sua equipe vêm desenvolvendo a pesquisa ‘A influência da mídia no imaginário e no desenvolvimento cognitivo de crianças e jovens’ desde 2019, no entanto “a pesquisa vem sendo gestada desde 2016” quando a pesquisadora iniciou uma orientação sobre os riscos representados no uso do Facebook por estudantes da escola pública em Alto Garças, Mato Grosso.
A proposta do grupo é entender o que acontece quando crianças e jovens são expostos a todo tipo de programas televisivos, vídeos, redes sociais, youtube e outros aplicativos que podem ser acessados nas mais diversas telas como tablets, computadores de mesa, TVs, celulares. “A pesquisa vem tentando compreender o que é saudável e o que é prejudicial nessa exposição com a finalidade de usar a compreensão destas consequências para preservar a saúde física e o processo mental de percepção, memória, juízo e raciocínio, de nossas crianças e jovens”, contou Romanelli.
A pesquisa está sendo desenvolvida por meio de estudos bibliográficos seguindo uma linha pedagógica que recomenda que se evite o excesso de tecnologia midiática na vida infanto-juvenil com a utilização da metodologia Fenomenologia Hermenêutica. “Até o momento temos resultados parciais que apontam efeitos causados pela televisão, computador e diversas mídias utilizadas em casa e nas escolas. Longe de significar uma ferramenta ou recurso de ensino, elas podem estar causando prejuízos ao desenvolvimento cognitivo”, alertou a professora que é doutora em Educação, pedagoga e jornalista.
“O assunto é por demais extenso e importante para eu prever um final, por enquanto eu vejo desdobramentos. São diversos recortes.”, mencionou Romanelli que já se inseriu em um Programa Nacional de Cooperação Acadêmica (Procad) dos programas de pós-graduação da Unemat, aprovado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para dar continuidade a temática com a variante a ser desenvolvida junto a comunidades indígenas.
Para a professora a importância desse trabalho está na busca por uma educação que proporcione criatividade e criticidade. “Incomoda-me que grande parte da sociedade esteja a mercê da mídia sem discernimento ou defesa do que é verdadeiro ou fake news. A grosso modo, podemos dizer que falta às pessoas preparo para ler notícias, escolher filmes ou programas porque seu discernimento, seu desenvolvimento cognitivo não lhes permite ver que as mídias servem aqueles que as financiam”.