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“Socorro, socorro. Me ajudem, eles vão me matar”, clamou Rubson, antes de ser levado desacordado por policiais militares. Veja trechos de depoimentos de testemunhas sobre o desaparecimento do pedreiro em Cáceres. Sumiço já completou um mês
Por Bárbara Sá, RDNews
01/03/2021 - 14:16

"Cara não pode fazer isso". Teria dito um dos policiais que estava na casa do pedreiro Rubson Farias dos Santos, em 29 de janeiro. Após essa fala, houve um silêncio de aproximadamente 10 minutos. Após cerca de 1 hora, os gritos por socorro do pedreiro cessaram e, preocupados, vizinhos questionaram um dos militares, que estava na porta impedindo a entrada deles, o que tinha ocorrido. Ele, segundo relatos que o 

 teve acesso, ficou calado.

E, em ato contínuo, um outro policial manobrou a viatura, encostou de ré em frente ao portão e, em seguida, todas as luzes da casa foram apagadas. Minutos depois, segundo testemunha, Rudson saia desmaiado e carregado da casa dele. Foi colocado no camburão da viatura. O caso ocorreu na rua União, bairro Jardim das Oliveiras em Cáceres (a 240 km da Capital). Depois disso, o pedreiro nunca mais foi visto - 

leia trechos dos depoimentos

.

A reportagem do 

 apurou que uma das linhas de investigação está ligada à compra de um carro Fiat Prêmio verde, por R$ 900, furtado em Cuiabá. Os militares queriam saber quem teria vendido o carro ao pedreiro que não tem nenhuma passagem policial a não ser esta, registrada em janeiro, por receptação.Reprodução

DEPOIMENTOS_casopedreiro_Rubson_caceres

Um inquérito policial foi aberto para apurar os crimes de violação de domicílio, tortura, abuso de autoridade, sequestro e desaparecimento. A reportagem do 

 teve acesso ao inquérito do caso em que os militares André Filipe Batista da Silva, Eliezio Francisco Ferreira dos Santos, Jeferson da Silva Leal, João Eduardo Silva, Kristian Batista Maia e Rodrigo da Silva Brandão figuram como suspeitos dos crimes. Contudo, eles ainda não foram ouvidos pela Polícia Civil. Todos integram o GAP.

Até o momento, sete pessoas foram ouvidas e afirmam que os policiais, por motivos ainda não elucidados, invadiram a residência do pedreiro e retiraram ele do local desfalecido. O laudo de perícia na viatura ainda não foi concluído. Reprodução

DEPOIMENTOS_casopedreiro_Rubson_caceres

A família de um pedreiro de 28 anos registrou uma denúncia informando que Rubson Farias dos Santos foi espancado por policiais militares do GAP e retirado de casa inconsciente no dia 29 de janeiro, no bairro Jardim das Oliveiras.

De acordo com depoimentos, os vizinhos se assustaram com os gritos da vítima. “Socorro, socorro. Me ajudem, eles vão me matar”, teria clamado Rubson, de dentro da casa na rua União. O enteado estava no banheiro e, quando saiu, se assustou com a cena. Diz que haviam quatro policiais, sendo que três deles estavam chutando o padrasto. Os militares então perguntaram para o menino, de 13 anos, o que o pedreiro era dele.

O menor explicou que era enteado dele. Eles, então perguntaram se o pedreiro “judiava” da mãe dele. O garoto respondeu que não. Questionado onde estava a mãe, ele disse que estava trabalhando. Os policiais então colocaram ele para fora de casa e ficaram com Rubson na cozinha, onde ele teria continuado a apanhar.

Assustados os vizinhos começaram a sair um a um na porta de casa, pois os gritos do pedreiro ecoavam pela rua. Todos foram para a frente da casa de Rubson e uma senhora, que o conhecia há vários anos, questionou a um dos militares. “O que está acontecendo senhor, porque estão batendo no menino? ”. O militar teria respondido: "não se meta! Não pode entrar, porque estamos aqui”. A testemunha diz que se juntou aos demais vizinhos esperando entender o que estava acontecendo no local.

Minutos depois, um militar saiu com uma lanterna procurando por algo no quintal. Enquanto isso, a vítima clamava: “ socorro Baiano, socorro Baiano”. Em seguida um militar bradou: “cara, cadê o negócio. Aqui é uma boca de fumo”.

Por volta das 00h20, um policial ligou para alguém e falou: “oh sargento, vem aqui. Estamos precisando de reforço”, disse. Cerca de 15 minutos depois, chegou uma viatura chegou com mais dois policiais. Eles entraram na casa, conforme depoimentos que o 

 teve acesso, as agressões contra o pedreiro continuaram. E, em dado momento, os gritos pararam.

Quando a esposa da vítima chegou só viu as viaturas saindo e não conseguiu ver o marido. Ao entrar em casa, relata que estava toda revirada. A geladeira estava desligada, pois o conector estava no chão cheio de água e sangue. Além disso uma bacia estava na torneira ainda ligada. A esposa então desmaiou.Reprodução

DEPOIMENTOS_casopedreiro_Rubson_caceres

O que dizem as autoridades

O caso é investigado pelo delegado Wilson Souza Santos que disse ao 

 que os moradores ouvidos confirmaram as informações de que os policiais, por motivos ainda não elucidados, invadiram a residência do pedreiro e retiraram ele do local desfalecido.

“O laudo de perícia na viatura ainda não foi encerrado, os policiais foram afastados das atividades operacionais pelo comando da PM e tenho notícias de que eles foram ouvidos no inquérito instaurado na PM, por isso, solicitei cópias", conta.

O delegado detalha que irá analisar tudo para ver se há necessidade de complementação. O inquérito policial tem prazo de 30 dias para encerramento, podendo ser prorrogado.

O delegado frisa que não há nos autos notícia do paradeiro da vítima. “Caso alguém tenha alguma informação pode ligar no 197 da Polícia Judiciária Civil, garantimos sigilo absoluto”, pontuou.

Em entrevista em visita ao 

, o secretário de Segurança do Estado, Alexandre Bustamante, afirmou que o caso está nas mãos do delegado. “Eu não interfiro em investigação, delegado está apurando lá e eu não tenho nem ideia de como tá”, se limitou a dizer.

Bustamante destaca que o caso parte do seguinte tese: foi preso, foi feito o flagrante, foi encaminhado para à Justiça, na audiência de custódia ele foi solto, foi para casa e desapareceu.

“A Polícia Civil está investigando o desaparecimento dessa pessoa para levar a critério do Ministério Público para ver se tem alguma responsabilidade”, afirmou o chefe da Segurança de Mato Grosso.

 

 

 

 

 

 

 

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