O motorista Ivanildo de Souza, morto em novembro de 2020, é filho da catadora de pedras Maria Joana Souza, 66 anos. Foi o que apontou o resultado do exame de DNA concluído na quarta-feira (10/3), três meses após as amostras terem sido colhidas e dois dias após a Defensoria Pública de Mato Grosso cobrar informações da Regional da Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec) de Alta Floresta.
O resultado do exame era aguardado com angústia e ansiedade pela idosa, pois só a partir da conclusão positiva para o vínculo filial, ela teria legitimidade legal para fazer o reconhecimento do corpo e sepultá-lo.
“Estou muito triste em ver o meu filho pela última vez e desse jeito, sem vida, numa geladeira. É muito triste isso, é muito triste. Mas ele agora vai sair dessa geladeira e vai ser enterrado, não terei tempo de velar, eles vão me mostrar ele rápido e em seguida deve ser enterrado. Esperei tanto, por três meses, e agora, será tudo tão rápido. Mas, também estou aliviada porque essa situação terminou e ele terá um sepultamento”, disse Maria aos prantos.
Ela informa que uma de suas filhas está vindo de Paragominas, no Pará, e que pedirá à Politec que transfira o reconhecimento para a sexta-feira (12/3), quando a irmã de Ivanildo poderá acompanhá-la no reconhecimento.
Maria está em Alta Floresta desde o dia 9 de dezembro de 2020, após ter sido avisada pelos amigos de Ivanildo, que ele havia falecido em decorrência de um espancamento. Ele foi encontrado no município de Bandeirantes, sem documentos e diante da impossibilidade de identificá-lo oficialmente, a Politec pediu que Maria apresentasse a certidão de nascimento do filho, o que ela não conseguiu.
Diante da situação, a Polícia Civil solicitou que fosse feita a análise do material genético de ambos, via exame de DNA. A coleta do material foi feita no dia 11 de dezembro e desde então, a idosa esperava pelo laudo, sem meios de sustento, morando de favor na casa de um casal com o qual Ivanildo morava há 22 anos.
O defensor público que atuou no caso, Moacir Gonçalves Neto, avalia que situações especiais, como a de Maria, devem ser consideradas com olhar mais humanizado pelo Poder Público, mesmo diante do número insuficiente de efetivo do órgão. Essa atenção diferenciada, acredita ele, poderia ter evitado a intensidade e permanência do sofrimento dela.
“Ela buscou a ajuda da Defensoria Pública porque a situação dela aqui, em meio a uma pandemia, sem trabalho ou formas de conseguir dinheiro é de extrema vulnerabilidade. A demora na entrega do documento, que nos foi explicada que ocorreu por falta de servidores, deixou uma mãe, idosa, por quase quatro meses, em grande sofrimento. A demora intensificou a dor da perda e criou a ansiedade e angústia de não poder reconhecer e enterrar o filho”, observou.
O defensor pontua, no entanto, que reconhece que a regional da Politec em Alta Floresta enfrenta grandes dificuldades, que vão da falta de equipe técnica até a precária estrutura para o trabalho. Ele lembra que o corpo de Ivanildo está no município de Sinop, em decorrência de problemas na câmara fria local. “Entendemos todas essas dificuldades, mas em casos específicos como o da dona Maria é importante imprimir agilidade”.
A idosa conta que não via o filho desde que ele tinha 16 anos. Ela lembra que aos 15 ele veio para Mato Grosso com outros dois irmãos trabalhar no garimpo e um ano depois, voltou para buscar os documentos. “Naquela época não era fácil tirar os documentos e ele voltou para Mato Grosso sem nada. Depois disso, por muito tempo, mantive contato por telefone com ele, mas já tinha dois anos que nem por telefone a gente se falava”.
Ivanildo chegou a ser socorrido e levado para o hospital, após o espancamento. Mas, não resistiu aos ferimentos e faleceu no dia 29 de novembro de 2020.