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Queimado durante incêndios no Pantanal, cateto volta à natureza após 6 meses de tratamento
Por Sesc Pantanal
03/05/2021 - 15:33

Foto: Gabriela Sant'Ana Sesc Pantanal

Resgatado com queimaduras dos incêndios no Pantanal mato-grossense, o cateto tratado durante seis meses pela ONG AMPARA Silvestre, foi solto na última quinta-feira (29/4), na Transpantaneira. A fêmea foi encontrada em outubro de 2020 no Parque Sesc Baía das Pedras, localizado na Estrada Parque Porto Cercado, em Poconé, e no próprio local recebeu o tratamento num recinto em meio à mata. 

 

O cateto fêmea, que recebeu o nome de Pururuca, foi encontrado com as quatro patas e o peito queimados. Ela estava prenha quando foi resgatada, mas perdeu o filhote devido ao estresse, relembra a veterinária voluntária da AMPARA Silvestre, Laís Picanço. 

 

“Logo que ela chegou, os veterinários da AMPARA deram início ao tratamento com analgésicos, antibióticos e anti-inflamatórios. Para as queimaduras, foi usado pele de tilápia e óleo ozonizado. A troca de curativo era feita uma vez por semana, devido à sedação, já que era inviável a aproximação. Ela respondeu muito bem ao tratamento e está 100% recuperada, pronta para voltar à natureza. Vê-la saudável e recuperada é muito gratificante”, destaca a veterinária. 

 

O ecólogo e gestor do Parque Sesc Baía das Pedras, Alexandre Enout, conta que o apoio aos resgates da fauna fez parte da atuação do Sesc Pantanal no período após o fogo, em parceria com a AMPARA Silvestre, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema-MT) e o núcleo de fauna do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). 

 

“Este é um dia especial. Após seis meses de tratamento e ganho de peso, a Pururuca volta à natureza. Ficamos felizes com a conclusão desse trabalho, principalmente porque tudo isso está alinhado com a atuação do Sesc Pantanal, que é trabalhar para a conservação da natureza. Ela está sendo solta, mas representa, simbolicamente, todo o trabalho pela fauna durante esses meses”, ressalta o ecólogo. 

 

O parque, que faz parte do Polo Socioambiental Sesc Pantanal, teve 10% dos cinco mil hectares atingidos em 2020, e abriga uma variedade de espécies, dentre elas a onça pintada e outros nove animais que estão na lista de extinção. Na área, há dois recintos, onde seguem em tratamento duas antas com menos de um ano. Os espaços integrados à natureza favorecem a recuperação dos animais por estarem inseridos em seu habitat. 


 

Em 2020, 4,350 milhões de hectares foram incendiados no Pantanal de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, o que representa 30% do bioma, conforme o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA). 

 

A soltura 

 

Para poder voltar a viver livre pelo Pantanal e aumentar as chances de sobrevivência do animal, a estratégia pensada pelas equipes foi soltá-la onde houvesse um bando de catetos. Neste momento da soltura, não foi encontrado um bando no parque do Sesc Pantanal. Com as chuvas, a vegetação cresceu e o avistamento dos bandos ficou mais difícil, diferente da Transpantaneira, onde os animais estão habituados a cruzar a estrada. 

 

O puçá, instrumento de contenção, foi utilizado para retirá-la do recinto pelo veterinário da Sema-MT, Eder Toledo. Ele implantou um microchip abaixo da pele do cateto, que permitirá o monitoramento do animal. Colocada na caixa de transporte, a Pururuca percorreu 70 quilômetros entre a Estrada Parque Porto Cercado e a Transpantaneira, onde fica a base do Posto de Atendimento Emergencial a Animais Silvestres (PAEAS), que é rota de um grupo de catetos. 

 

O primeiro contato com o bando foi a distância, no dia 28, e no dia 29 ela seguiu com ele. “A Pururuca passou muito tempo sozinha e a soltura dela envolve essa socialização, por isso, não é algo que acontece rápido. E, somente hoje ela se aproximou e seguiu com o bando. Nosso trabalho termina e a vida dela recomeça”, diz o ecólogo do Sesc Pantanal. 

 

Para a presidente da AMPARA Animal, Juliana Camargo, a recuperação e soltura representam que o ciclo dela foi cumprido. “Graças a união de forças foi possível tratá-la. O espaço cedido pelo Sesc Pantanal, toda a atenção dos colaboradores, as pessoas que doaram pela vaquinha e os voluntários que estão em campo até hoje fazem parte disso. Ver um animal recuperado tendo a chance de ter uma vida nova, no seu habitat, de onde não deveria ter saído, é emocionante, é um grande presente e nos dá forças para continuar”, completa. 

 

Conheça o cateto 

 

O cateto está presente em todos os biomas brasileiros, exceto no extremo sul do país, e, devido à sua grande semelhança com o javali, a queixada e o porco, é comumente chamado de porco-do-mato. Mede de 84 a 106 cm de comprimento, com a cauda medindo em torno de 10 cm. Tem entre 30 e 50 cm de altura e pode pesar de 15 a 30 kg. O corpo é castanho-acinzentado, com faixa branca no pescoço, diferente do queixada, cuja mancha branca vai da mandíbula até a parte de cima do focinho. Tem ótimo olfato, usado para encontrar alimentos, o cateto emite várias vocalizações, incluindo batidas de mandíbulas, que inibe predadores. 


 

Escondem-se em buracos no chão ou em troncos ocos. São onívoros e comem diversas plantas verdes, raízes, frutos e sementes, além de pequenos vertebrados e invertebrados. São importantes dispersores de sementes, além de controlarem a diversidade de espécies de plantas. 

 

AMPARA Silvestre 

 

A AMPARA Silvestre foi criada em 2016, como uma nova frente da AMPARA Animal, com foco em conservação ao reabilitar animais que possam ser devolvidos à natureza e também oferecer bem-estar aos animais condenados ao cativeiro. A entidade defende a união de forças entre primeiro, segundo e terceiro setores como o caminho para minimizar e até solucionar o problema em sua raiz. 

 

Parque Sesc Baía das Pedras 

 

A unidade de conservação possui cavalos pantaneiros para passeios, áreas para convivência, lagos, quioques, trilhas para caminhadas e cavalgadas, abertas aos turistas do Hotel Sesc Porto Cercado. No parque está localizado o Aeródromo, onde foi instalado o Posto de Comando da Operação Pantanal II de combate aos incêndios de 2020. O local abriga, ainda, a Base Avançada de Pesquisas no Pantanal da Universidade Federal de Mato Grosso. 

 

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