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"Marmita recheada de amor": como um gesto de bondade ajudou uma pessoa a vencer a covid
Por Clarice Helena Navarro/Diário de Cáceres
08/11/2021 - 08:53

Erli Benedita Silva, cozinheira — Foto: arquivo

Na  definição do Google, “psicologicamente, empatia é a capacidade de você sentir o que uma outra pessoa sente caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela, ou seja: procurar experimentar de forma objetiva e racional o que sente o outro a fim de tentar compreender sentimentos e emoções”...

Mas...

O que leva uma pessoa a ajudar outra?

Após ouvir o relato da Erli, eu conclui que, no caso em questão, foi a bondade. Erli transpira bondade. Tanto, que ela sente que “deve” fazer, que “tem que fazer”.

Começamos nossa história com um moça que teve Covid. Diagnosticada em meados de outubro, ela viu a situação se complicar. Isolada em casa, saindo apenas para ir receber atendimento médico, foi piorando mais e mais.

Lili Carrijo, de Cáceres, tem 41 anos e mora sozinha. Há quatro anos, perdeu a mãe. As duas tinham uma relação de muito companheirismo e essa perda ainda é muito dolorosa para ela.

                                                                                                             Lili Carrijo

 

Quando recebeu o diagnóstico de covid, teve muito medo. Há quatro meses perdeu um irmão com esse diagnóstico.

“Minhas idas ao hospital me desesperavam, pois as lembranças dele, lá, vinham mais fortes”.

Lili não conseguia se alimentar. Tudo o que comia, vomitava. Daí a necessidade de constantes atendimentos para tomar soro. Até que o médico avisou que ela tinha que ser forte e se obrigar a comer, para que conseguisse sair do quadro de debilidade física.

Antes, ela estava comendo as marmitas feitas por Erli Benedita Silva,50. O contato tinha sido repassado por amigos que também comem a marmita.

As duas não se conhecem pessoalmente.

Com a piora do quadro, Lily ligou dispensando a marmita, explicando que nada parava em seu estômago.

Orientada por uma nutricionista a fazer seis refeições diárias, Lily começou a tentar preparar sua alimentação. Não conseguiu. Durante uma tentativa, recebeu um telefonema de Erli, que queria saber como ela estava. E aí a situação começou a mudar.

Ao saber que a cliente não estava conseguindo comer, Erli disse a Lily que a partir daquele momento cuidaria da sua alimentação, de forma especial, preparando as refeições necessárias. Preocupada, a moça explicou que não teria como pagar, e ouviu que, de qualquer forma, comeria. Aceitou então as duas refeições principais, almoço e jantar.

E começou a recebê-las, levadas por Natan, de 24 anos, filho de Erli.

“Eu nunca vi tanta bondade, tanta paciência. Ela me tratou como uma mãe trata uma filha. A atitude dela mudou tudo, porque eu comecei a me esforçar para comer. Sem contar que a comida dela é muito boa”, conta Lily. Conta também sobre a paciência de Natan, esperando no portão, que ela chegasse, passo a passo, para pegar a marmita. “Tem o caráter da mãe”.

 

                                                                                    Erli com o filho Natan da Silva

“Eu sempre monto as marmitas pensando que a pessoa tem que olhar a comida e sentir vontade de comer. Capricho na montagem das saladas, de tudo. Cozinho com amor, eu gosto de cozinhar. Ela já comprava minhas marmitas e elogiava as saladas. Então comecei a montar as saladas de forma bonita, separadamente. Mandava a refeição principal e sempre uma com caldo. E a incentivava a comer”, conta Erli.

 

“Como poderia não me alimentar? Mesmo sem vontade no começo, de colherada a colherada fui me sentindo mais forte. E me curei. Ainda estou fraca. Já tive alta e assim que estiver em condições, vou conhecer esse anjo. Quero dar um abraço na Erli. Quero agradecer pessoalmente. Não há dinheiro no mundo que pague o que ela fez para mim. Ela alimentou meu corpo, com as refeições, e a minha alma, com esperança e carinho”. Após receber alta, Lili fez uma postagem em rede social agradecendo Erli, o que motivou o Diário de Cáceres a buscar as personagens e relatar a história.

 

Erli é natural de Salto do Céu e mora em Cáceres há 30 anos. Trabalhava como doméstica. Com a pandemia, começou a fazer marmitas, pois teve que ficar em casa. Ela cozinha em casa e vende na porta, ou o filho Natan faz as entregas. De pouco a pouco, de boca em boca, o sabor da sua comida foi se espalhando e hoje ela vende cerca de 40 marmitas. Tem o sonho de uma casa própria, com uma cozinha bem grande e equipada, Seu esforço, nesses dois anos, permitiu a compra de um freezer e um fogão industrial.

O filho Natan a ajuda pela manhã. Herdou da mãe o gosto pela culinária e é pizzaiolo.

A família mora no Jardim Cidade Nova. A marmita para retirar no local custa dez reais. Para falar com a Erli, o celular é o (65) 99923-3653

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