Mato Grosso – 35 anos (pós-divisão), parabéns!
Por por Márcio Lacerda
02/01/2013 - 09:28
Completa 35 anos, a instalação do Estado de Mato Grosso do Sul, criado pela Lei Complementar de 31/11/1997, instalado em 1°/01/1979, desmembrado do Estado de Mato Grosso. Havia à época, um certo sentimento generalizado, aqui no norte, de que a divisão inviabilizaria Mato Grosso, pois, o Estado de MS, pós-divisão passou a responder por 1/3 da área territorial, contudo, levava praticamente 70% do PIB, e praticamente toda infraestrutura do Estado. Isto porque, a Ferrovia, a energia elétrica de Itaipu, as maiores cidades, o maior rebanho, enfim, quase toda atividade econômica se situava em MS.
Os anos seguintes à divisão, para MT foram, como era previsível, extremamente difíceis, tanto para os governos como para a população. O Governo Federal não cumpria integralmente as transferências de recursos previstos na Lei. O Estado remanescente permaneceu com maior parte dos custos e a capacidade de gerar tributos era mínima.
Começara, como se sabe, alguns anos antes da divisão, um intenso fluxo migratório de todo o Brasil, em direção ao Centro-Oeste motivado pelas políticas de estímulo do Governo Federal (Polo Amazônia, PRODECER, SUDAM, etc.), pela a construção das estradas Cuiabá-Santarém e Cuiabá-PortoVelho, mais principalmente, pela vontade de crescer, de melhorar de vida, uma vez que as pequenas propriedades principalmente de MG, SP, RS, SC e PR, já não comportavam o crescimento das famílias e de sua força de trabalho.
Mato Grosso, à época era um grande vazio demográfico, portanto, o baixo preço das terras, e até mesmo a possibilidade de acessá-las via algum programa de governo (assentamentos), motivaram que o grande destino das migrações fosse para cá. Esse fenômeno aconteceu com tal velocidade que atropelou a já precária e insuficiente infra-estrutura do Estado, isso por parte do poder público. Por sua vez, o setor privado independentemente do tamanho, desde os médios e pequenos produtores até os pequenos e aqueles que seriam clientes de políticas públicas (assentamentos) tiveram suas dificuldades multiplicadas por fatores como: desconhecimento das terras e regime de chuvas, falta de armazéns, de estradas, de financiamento, de escolas, doenças endêmicas, principalmente a malária em várias regiões. Tudo isso acumulado com a inexistência de um mercado local motivou a perda de milhões de toneladas de grãos por anos seguidos, muitas das vezes, até sem serem colhidos. Foi uma época de grandes dolorosos e até sangrentos conflitos.
Os governos federal e estadual não conseguiam atender as demandas, os produtores não tinham como se sustentar sem comercializar suas safras. Era praticamente o prenúncio do caos. A capacidade de trabalho, de luta e a persistência alinhados à impossibilidade de retornar às origens, levou ao povo à criação de alternativas não programadas.
O crescimento indiscriminado de Cuiabá e Várzea Grande e das cidades polo como Cáceres, Rondonópolis, Barra do Garças e pouco depois, Sinop e Tangará da Serra, entre outras, geraram os conflitos urbanos. Muitos certamente se lembram de grandes ocupações como Santa Isabel, Barro Duro, Canjica, Barbado, Quarta-feira e outros, apenas em Cuiabá, com registros inclusive de mortes violentas como de Antonio Valentim, no Barbado (atual região da Carmindo de Campos), Cristóvão da Santa Isabel, entre outros.
A explosão dos garimpos de ouro geraram também conflitos violentos com o despejo na região de Alta Floresta que ficou tristemente conhecida com a Taca do Paranaíta, conflito tão violento e tão grande que os despejados se instalaram e criaram de imediato uma vila que hoje é a cidade de Peixoto de Azevedo. Na zona rural, inúmeros outros, alguns deles hoje florescentes municípios como Colíder, São Domingos, Nova Lacerda, Curvelândia, Ribeirão Cascalheira, Comodoro e Campos de Júlio, entre outros.
Outra atividade alternativa de subsistência foi extração de madeira com a instalação de centenas e centenas de serrarias. O sangue, as lágrimas, o suor e o sofrimento desses heróis anônimos são certamente o adubo, o fermento, a seiva que alimenta este novo Mato Grosso, mas não só o daqueles envolvidos nos conflitos que citamos como exemplo, mas de tantos que apesar dos trancos e tombos, não perderam a fé e resistiram. Aqui, registra-se nomes como os de Norberto Schwants, Ariosto da Riva, Enio Pipino, João Carlos Meirelles, Paulo Mendonça, Antenor Nelson da Mota, entre os colonizadores privados, além de outros visionários como Antonio Mamana e a sua fixação com o algodão no cerrado. O próprio Clóvis Vetorato, pioneiro da suinocultura, André Maggi e muitos outros. Prometo que ainda conto mais sobre essa e outras Histórias e/ou estórias.
Tive a honra e o privilégio de participar ativamente desde a primeira hora, como Deputado Estadual, na primeira legislatura pós-divisão e, em seguida, como Deputado Federal, Senador Constituinte, Vice-governador e Governador desta verdadeira epopeia que foi e continua sendo a História deste Estado, que é sem dúvida, uma das mais eloquentes demonstrações da capacidade de se superar, de enfrentar desafios, de capacidade criativa do povo brasileiro.
Na construção da nossa historicidade, nesses 35 anos, estão brasileiros de todos os quadrantes, de todas as cores, de todos os credos irmanados em um imenso abraço e imensa e inquebrantável vontade. Traço estes breves registros de memória, apenas como reflexão acerca experiência vivenciada. Se fomos capazes de fazer o que fizemos, nas condições em que fizemos, somos, com certeza, capazes de fazer muito mais.
Estas palavras querem, dentro da crise em que atravessam os municípios do Brasil, no qual Mato Grosso não é diferente, dizer a todos os prefeitos e vereadores que hora se empossam e que seguramente foram escolhidos pela credibilidade que despertaram nos seus eleitores, para que se mirem no exemplo dos seus antecessores, exemplos vivos de nossa historicidade recente e saibam que os seus desafios são para serem enfrentados e vencidos, e certamente terão sucesso nos seus novos encargos e responsabilidades.
Parabéns, Mato Grosso pelos 35 anos de luta e sucesso!
Marcio Lacerda
Ex-deputado estadual(1979-1982), deputado federal)1983-1096), senador constituinte(1987-1994),vice-governador e governador do estado de Mato Grosso (1995-1998). Atualmente vice-presidente do Diretório Regional do PMDB.