Após inúmeras denúncias de desmandos na direção do Cacerense, o presidente do clube, Paulo Vieira, quebra o silêncio. Em contato com o site Expressão Notícias o empresário nega as irregularidades, principalmente, de trabalho escravo e falta de alimentação aos jogadores. Porém, deixa claro a falta de comando e suspeitas de desvio de recursos.
“Pegamos o time, a pedido do Clovis (Clovis dos Santos – dono da equipe) para não deixar Cáceres fora do campeonato. Tomamos, inclusive, dinheiro emprestado para pagar jogadores e comprar o que precisava. Não deixamos faltar, principalmente, alimentação. Tinha café, almoço e jantar todos os dias. Falar em trabalho escravo e que os jogadores passaram fome é mentira”, afirma.
Ao contrário do que jogadores e a maioria das pessoas que acompanharam a equipe na república afirmam, o dirigente diz que pagou “quase” todos os atletas e que o restante da dívida, com alguns jogadores e fornecedores irá pagar “a longo prazo”. Ele explica que foram pagos, durante a participação do Cacerense no campeonato, R$ 96 mil. E, que estão pendentes com fornecedores R$ 40 mil.
O dirigente, no entanto, tem dificuldade para explicar sobre os recursos adquiridos pelo clube, como por exemplo, dos patrocínios e ajuda de empresários; da campanha de doação da população via PIX do bingo da moto zero quilômetro, além do dinheiro da venda de ingressos nos dias de jogos.
Paulo assegura que as pessoas encarregadas pela realização do bingo e pela campanha de doação da população via PIX não prestaram contas. “Do PIX e do bingo não prestaram contas” diz esclarecendo que a última renda da partida contra o Cuiabá foi de R$ 35 mil. Contudo, segundo ele, foram passados para a presidência apenas R$ 21 mil.
E, que desse total, R$ 18.500 mil ele usou para pagar empréstimos – sendo um de R$ 14 mil e outro R$ 4,5 mil – que havia feito anteriormente, exatamente, para pagar jogadores e comprar o que eles precisavam. Afirma que da campanha de ajuda da população via PIX foi passado apenas R$ 1 mil. Não esclarece, no entanto, quanto e a destinação de recursos de outras fontes.
O dirigente diz que se há algum tipo de irregularidades elas foram praticadas por seus antecessores. “Se há coisas erradas foram feitas pelos meus antecessores. Contrataram 14 ou 15 jogadores de fora sem nenhuma qualidade técnica. Não jogaram nada e só ficaram as contas”.
Indícios de trabalho escravo e tráfico de pessoas
Diante das inúmeras denúncias de irregularidades, durante a participação da equipe do Cacerense, no Campeonato Mato-grossense, o clube deverá ser investigado, em razão de indícios de trabalho análogo a escravo e tráfico de pessoas para fins esportivos.
Os fatos – moradia insalubre, calote no pagamento dos salários e até falta de alimentação aos jogadores – foram relatados pelo Centro de Referência dos Direitos Humanos de Cáceres, ao Comitê Estadual de Prevenção e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Comissão Estadual para Erradicação de Trabalho Escravo.
Além disso, a Câmara Municipal, através da vereadora Mazéh Silva, irá propor a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para, além das denúncias, apurar o desaparecimento dos recursos do clube.
Durante o tempo em que defenderam o município no campeonato, conforme as denúncias, os jogadores teriam sido submetidos a tratamento desumanos. Os atletas afirmam que, havia dias que faltava, inclusive, alimentação. E, que só não passavam fome porque eram socorridos pela população.
Além de todo tipo de privações, segundo eles, os recursos do clube desapareceram e a diretoria não pagou os salários, impossibilitando que os jogadores retornassem para suas respectivas cidades.
Coordenadora do Centro de Referência de Direitos Humanos de Cáceres, Poliana de Souza Correa, disse que informou a situação ao Comitê Estadual de Prevenção e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e à Comissão Estadual para Erradicação de Trabalho Escravo.
“Eles (jogadores) foram enganados, em tudo. Informaram que havia promessa de que seriam contratados legalmente, inclusive, com carteira de trabalho assinada. Mas, isso, infelizmente, não aconteceu” diz a representante do Centro de Referência dos Direitos Humanos.
Explica a coordenadora que “informamos toda situação a esses órgãos porque há indícios de tráfico de pessoas para fins esportivos. Além da caracterização de trabalho análogo a escravo”.