Pecuaristas de Cáceres, município com maior produção bovina de Mato Grosso, estão apostando na integração com a agricultura para tentar minimizar custos e aumentar a receita. A importação de fertilizantes da Bolívia tem sido uma das estratégicas, com destaque para a ureia.
O município é referência na pecuária mato-grossense. São mais de 1,341 milhão de animais. Na última década a agricultura tem ajudado, conforme os produtores, a compor a renda de muitas fazendas.
O presidente do Sindicato Rural, Aury Paulo Rodrigues, comenta que a pecuária estava vivendo um momento de pastagem degradada, necessitando a realização de algum tipo de reforma e se viu na agricultura tal alternativa.
“Cada hectare de transformada em uma pastagem no período da seca ele vai conseguir receber talvez cinco, seis vezes mais o número de cabeças que anteriormente tinha lá”.
Aury salienta ainda que a integração com a lavoura “vai trazer uma renda adicional para o produtor rural”, uma vez que “a pecuária está enfrentando uma de suas piores fases”.
Foto: Pedro Silvestre/Canal Rural Mato Grosso
Dedicação e manejo de fertilidade de solo
A dobradinha entre a pecuária e a agricultura, ao mesmo tempo em que é benefíca, ela exige uma dedicação maior e um rigor de fertilidade de solo. O que, de acordo com o Sindicato Rural, tem sido seguido à risca da porteira para dentro.
“O produtor rural já tem bastante assessoria de técnicos. Ele usa muito os pesquisadores e isso leva justamente à essa melhoria do solo, a esse uso dos fertilizantes”, pontua Aury.
Produtor na região, Guilherme de Arruda Cruz revela estar sempre em busca de alternativas para tentar garantir a rentabilidade nas três propriedades dele. A importação de fertilizante da Bolívia, comenta ele, tem sido uma das estratégias para amenizar o bolso, especialmente quando o assunto se trata da compra de ureia.
“É um preço 30% menor que no mercado brasileiro, no caso a ureia que vem dos portos de Paranaguá, São Francisco. Está sendo até viável. Está reduzindo significativamente os custos, principalmente na cultura do milho”.
Foto: Israel Baumann/Canal Rural Mato Grosso
Importação gera oportunidade de negócio
Além de reduzir custos, Guilherme frisa que também encontrou uma oportunidade de negócio com a importação, beneficiando quem enfrentava dificuldade para adquirir baixos volumes do insumo na região.
“Os pequenos e médios pecuaristas e produtores eles tinham muitas dificuldades de comprar oito toneladas, 10 toneladas, 15 toneladas. Hoje não. Hoje eles compram duas toneladas, três toneladas, 30 toneladas, 50 toneladas, o que a gente consegue atender”.
O insumo agrícola é extraído de dois poços de gás de petróleo boliviano, localizados a aproximadamente 800 quilômetros da fronteira com Cáceres. De acordo com o setor produtivos, tais poços são totalmente legalizados e com estoque suficiente para atender toda a demanda agropecuária da região.
“A capacidade da planta Petroquímica de Bulo Bulo ela chega em torno de 2,3 mil toneladas por dia e entre 160 a 200 mil toneladas por ano. O gás que é necessário tem o suficiente, porque essa é uma pergunta de todo produtor rural brasileiro e do pessoal que comercializa ureia, nós somos uma prova que sim”, diz o Ricardo Queiroz Mejía, representante comercial de uma empresa que importa insumo para o Brasil.
Sócio proprietário de uma revenda, Gutemberg de Carvalho Nogueira, pontua que, além de comercializar, o que se quer é fomentar a parceria entre Bolívia e Brasil.
“Aqui na região de Cáceres e San Matias tem algo que muitas fronteiras tem vontade de ter e não conseguem que é a Receita Federal instalada fisicamente na fronteira. A forma administrativa para fazer esse desembaraço, essa nacionalização, é muito boa, rápida e eficiente”.
Os primeiros embarques de fertilizantes oriundos da Bolívia para Mato Grosso ocorreram em 2018, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Só no ano passado, o estado importou cerca de 44,5 mil toneladas do insumo produzido no país vizinho, movimentando quase US$ 14,8 milhões.
“O frete de uma ureia para chegar aqui era em torno de uns R$ 500 por tonelada. Então, se a ureia está entrando aqui no município a R$ 500 por tonelada, um caminhão de 36 toneladas são R$ 18 mil reais. Se economizar R$ 9 mil já sobrou muito dinheiro”, afirma o presidente do Sindicato Rural de Cáceres, Aury Paulo Rodrigues.