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Pesquisadores da Unemat emitem nota técnica sobre impactos das queimadas na saúde da população do Pantanal
Por Danielle Tavares
13/09/2024 - 12:56

Foto: Jédson Alves | Agência Brasil

Pesquisadores da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) alertam sobre os impactos das queimadas na saúde da população de Cáceres, cidade situada no Pantanal de Mato Grosso. “A intensidade dos incêndios em 2024 é alarmante, e seus impactos sobre a saúde da população e o meio ambiente são gravíssimos a curto e longo prazo”, advertem os cientistas.

Nota Técnica Conjunta nº 04/2024, assinada por pesquisadores ligados ao Laboratório de Ictiologia do Pantanal Norte (Lipan), pode ser lida na íntegra aqui

Os incêndios são cada vez mais comuns durante o período de seca, quando a combinação de alta temperatura, baixa umidade do ar e falta de chuvas cria condições ideais para a propagação de focos de incêndio.

 

IMPACTOS NA REGIÃO

Os focos de incêndio refletem diretamente na qualidade do ar. Desde o dia 4 de setembro, os dados de material particulado 2,5 (MP 2,5) demonstram valores maiores do que aqueles preconizados pela Organização Mundial de Saúde, Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos e Resolução Conama 491/2018.

Os números são mais alarmantes quando considerados somente as últimas 24 horas, em que a concentração de material particulado atingiu 903,2 µg/m³ (Figura 3), ou seja, 15 vezes a mais do que o que é esperado pela Resolução Conama.

Além disso, de acordo com os dados obtidos e o guia de monitoramento da qualidade do ar, com os valores apresentados (04/09 a 10/09/24): "Toda a população pode apresentar sérios riscos de manifestações de doenças respiratórias e cardiovasculares. Aumento de mortes prematuras em pessoas de grupos sensíveis."

 

IMPACTOS NA SAÚDE HUMANA

Em Cáceres, os efeitos da fumaça já são evidentes, com relatos de dificuldades respiratórias, aumento de atendimentos em unidades de saúde e agravamento de condições como asma, bronquite e pneumonias.

Crianças e idosos são os mais afetados. A vulnerabilidade desses grupos é acentuada devido a fatores fisiológicos: as crianças possuem maior taxa de ventilação por massa corporal, o que as torna mais suscetíveis à inalação de poluentes, enquanto os idosos, com seu sistema imunológico enfraquecido e menor capacidade respiratória, apresentam maior risco de complicações graves.

Além disso, a exposição prolongada a esses poluentes pode desencadear efeitos a longo prazo, como o desenvolvimento de doenças crônicas e autoimunes. Estudos apontam que a exposição ao material particulado fino pode estar associada ao aumento de risco de doenças cardiovasculares, respiratórias e redução de expectativa de vida, que em regiões amazônicas pode chegar até 3,2 anos a menos.

 

MEDIÇÃO

A Concentração de Material Particulado 2,5 (MP 2,5), na região de Cáceres, do dia 04 de setembro a 10 de setembro, considera valores a cada minuto coletados com aparelho TEMTOP M2000 air quality 2ª geração, localizado na Cidade Universitária da Universidade do Estado de Mato Grosso.

 

 

 

RECOMENDAÇÕES PARA MINIMIZAR IMPACTOS

Recomendações e Medidas de Mitigação Recomendações para ações contínuas de acordo com a Organização Mundial de Saúde:

1. Implementar sistemas de alerta precoce e emitir avisos sobre saúde e qualidade do ar;

2. Conter a liberação de materiais perigosos;

3. Avaliar as necessidades de saúde da comunidade e os danos à infraestrutura;

4. Restaurar os serviços de atenção primária, como imunização, saúde infantil e materna, e saúde mental;

5. Fortalecer os recursos humanos para a gestão de desastres;

6. Coletar, analisar e disseminar informações relacionadas a emergências e desastres que provavelmente ocorrerão em uma região;

7. Estabelecer e gerenciar estoques de suprimentos e equipamentos de socorro;

8. Solicitar financiamento emergencial para apoiar ações de saúde; 9. Desenvolver políticas municipais, estaduais e nacionais, recomendações e planos de resposta a emergências nacionais.

 

 

 

RECOMENDAÇÕES PARA AÇÕES URGENTES

1. Evitar trabalhos extenuantes ou prolongados;

2. Reforçar a hidratação para proteção das vias respiratórias;

3. Se for necessário aconselhar o paciente a permanecer em ambientes fechados, o ar interno deve ser mantido o mais limpo possível;

4. Se sistemas de ar-condicionado forem usados em casa, mantenha a entrada de ar fresco fechada e o filtro limpo para evitar que partículas adicionais contaminem o ar interno;

5. Se não houver sistemas de ar-condicionado em casa, ficar em ambientes fechados com as janelas fechadas em clima extremamente quente pode ser perigoso; recomenda-se o uso de abrigos alternativos, como permanecer na casa de um parente ou amigo, ou em um abrigo com ar mais limpo;

6. Se for necessário dirigir, ligue o ar condicionado do carro no modo de recirculação para evitar que o ar com fumaça entre no veículo, embora a capacidade desses filtros seja limitada;

7. Evitar atividades que aumentem a poluição interna, como o uso de qualquer coisa que queime (lareiras a lenha, fogões a gás, velas, incensos, dispositivos repelentes de mosquitos, entre outros);

8. Os pacientes devem ser incentivados a parar de fumar, pois o fumo aumenta a quantidade de poluentes nos pulmões dos fumantes e daqueles ao seu redor;

9. Aconselhar pacientes a visitar uma unidade de saúde de referência ao apresentar novos sintomas cardiovasculares ou respiratórios, ou se outros problemas de saúde existentes piorarem;

10. Recomendamos que escolas públicas e privadas, bem como Instituições de Ensino Superior, suspendam atividades ao ar livre e atividades físicas, devido a risco à saúde do alunado e insalubridade dos profissionais de educação;

11. Adequação da parametrização de risco associado a inalação de MP 2,5, uma vez que o limite nacional para o mesmo é maior que o recomendado pela OMS e outros órgãos.

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