Com o sucesso do filme “Ainda Estou Aqui”, do diretor Walter Sales, discussões a respeito da memória de pessoas que atuaram contra a ditadura militar ganharam maior evidência. A obra, lançada em novembro de 2024, acompanha a história de Eunice Paiva e a família, após seu marido, e ex-deputado Marcelo Rubens Paiva, ser levado por militares e desaparecer.
No sábado (15), foi celebrado os 40 anos do fim do regime militar. A data foi escolhida por ser o dia em que o vice-presidente da época, José Sarney, foi empossado após uma eleição indireta, encerrando os 20 anos de governos ditatoriais.
Para o professor doutor do Departamento de História da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Edvaldo Corrêa Sotana, a data vem acompanhada de uma série de discussões não concluídas.
“Apesar de celebrarmos 40 anos do processo de redemocratização, ainda é extremamente urgente refletir sobre as arbitrariedades cometidas no período da ditadura, explicitar as ações violentas empreendidas por agentes do Estado Brasileiro e pelos civis”, avalia o historiador.
O especialista aponta que, durante a ditadura militar, em Mato Grosso, algumas pessoas se tornaram símbolo de resistência e luta, assim como grandes personagens nacionais.
Dentre as figuras públicas, destaca-se o padre Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia (1.053,0 km de Cuiabá). O espanhol se opôs ao regime, tornando-se referência na luta dos direitos humanos, em especial a reforma agrária a favor de indígenas. Durante o período, o religioso foi ameaçado 5 vezes para deixar o país.
A jornalista e ativista política Jane Vanini, natural de Cáceres (225 km ao oeste de Cuiabá), cursou Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP) e participou na fundação do Movimento de Libertação Popular (Molipo), formado por estudantes universitários durante 1970 e 1971.
Segundo o Portal Memórias de Ditadura, Vanini foi assassinada em sua casa no Chile pelas forças repressoras durante a ditadura do militar Augusto Pinochet em 1974. Antes de chegar ao país, ela havia passado por Cuba, Uruguai e Europa para fugir da ditadura.
Assim, relembrar histórias de pessoas assassinadas pelo Estado e também a trajetória de ativistas que lutaram pelo direito democrático dos brasileiros se mantém de extrema relevância.
“Estudar história e discutir o período deve ser prática constante contra o revisionismo negacionista que figura nas postagens de redes sociais e alimenta uma cultura autoritária que deve ser enfrentada em nome do fortalecimento da nossa democracia”, finaliza o doutor.
Diretas já
Em 1983, o deputado cuiabano Dante de Oliveira apresentou uma emenda constitucional para promover eleições diretas para o presidente da República. A emenda daria origem ao movimento conhecido como “Diretas já”, em que a população manifestava-se na rua pelo voto direto.
Apesar da emenda ter sido rejeitada em sessão do Congresso Nacional, em 25 de abril de 1984, o movimento foi essencial para demonstrar manifestação popular e, portanto, o enfraquecimento contra o regime autoritário.