Diario de Cáceres | Compromisso com a informação
A Saga das aves migratórias: do inverno Americano ao paraíso Pantaneiro
Por João Arruda
04/05/2025 - 19:55

Foto: Talha Mar | Foto: Marcos Bergamasco

Duas espécies de aves migratórias, Trinta Réis e Talha Mar, viajam milhares de quilômetros do Hemisfério Norte ao Pantanal de Mato Grosso em busca de reprodução e refúgio climático.

Todos os anos, com a chegada do inverno rigoroso no Hemisfério Norte, diversas aves migratórias alçam voo em busca de climas mais amenos e locais propícios para a reprodução. Dentre os destinos escolhidos, o Brasil se destaca, e duas espécies em particular chamam a atenção: o Trinta Réis (Phaetusa simplex) e o Talha Mar (Rynchops niger).

Foto: Valdeci Queiroz

Essas aves percorrem impressionantes 6.500 quilômetros desde Suffolk, Nova York (EUA), até o Pantanal Mato-Grossense, em Cáceres ( a 210 km de Cuiabá). Durante o período de vazante, quando as águas recuam, as aves iniciam a postura de seus ovos nas praias de água doce, formando bandos com centenas de indivíduos da mesma espécie.

A reportagem do Portal Mato Grosso acompanhou de perto a rotina dessas aves, testemunhando seus voos acrobáticos e grasnidos constantes. Na Praia do Iate, um dos locais de reprodução do Talha Mar, a construção de quadras de esportes do “Arena Beach” invadiu o espaço natural das aves, impactando seu ciclo reprodutivo.

Foto: Valdeci Queiroz

Em contrapartida, os Trinta Réis encontraram refúgio nas instalações da extinta sede estatal Portobras, onde se alinham como em uma formação militar. O cinegrafista Waldeci Queiroz registrou imagens das aves em um dos piers de sustentação, um local inusitado que serve de abrigo para a espécie.

Navegação aérea e mistérios desvendados

As gaivotas, originárias dos Estados Unidos, desaparecem no final do outono, impulsionadas por um instinto natural de sobrevivência. Percorrendo até 1.500 quilômetros por dia, as aves utilizam o campo magnético da Terra para se orientarem durante o dia e as constelações para navegação noturna.

O “sumiço” dessas aves no outono intrigou pensadores por séculos. Enquanto Sócrates acreditava que hibernavam, Charles Morton, de Harvard, defendia a teoria de que se escondiam na Lua. O enigma foi desvendado em 1822, quando uma gaivota atingida por uma flecha na África Central chegou ao norte da Alemanha, comprovando a migração transcontinental.

Helen Hays e a luta pela preservação

A bióloga Helen Hays, do American Museum of Natural History, dedicou sua vida ao monitoramento das aves Trinta Réis e Talha Mar. Ao observar o retorno de aves mutiladas, Helen rastreou a rota migratória até Aracati, no Ceará. Lá, descobriu que pescadores utilizavam anilhas das aves como adornos, mutilando-as.

Em parceria com os biólogos cearenses Fábio Nunes, Alberto Campos e Vinicius Geauça, da ONG Aquassis, Helen iniciou um trabalho de conscientização e proteção das aves. Graças ao esforço conjunto, as aves migratórias não são mais vítimas de maus tratos e são vistas como indicadoras de cardumes pelos pescadores.

Legado e homenagem

Em Cáceres, o guia turístico Antônio Pouso Costaldi compartilha a história das aves migratórias com os visitantes.

A ex-prefeita Ana Maria da Costa Faria, a Nana, homenageou o Talha Mar ao nomear uma importante via pública da cidade em sua homenagem.

As aves Trinta Réis e Talha Mar representam a beleza e a importância da migração, um fenômeno natural que conecta diferentes ecossistemas e culturas. A luta pela preservação dessas espécies é um exemplo de como a ciência e a colaboração podem garantir a proteção da biodiversidade e o equilíbrio do meio ambiente.

 

 

Carregando comentarios...

Artigos

Bodas de Cacau

30/04/2025 - 18:19