Público pode votar pelas redes sociais do Sesc Brasil e Sesc Pantanal com sugestões de nomes que têm referências na etnia Bororo, elementos da natureza e expressões do linguajar pantaneiro
Uma onça-pintada descansa enquanto olha diretamente na direção de uma câmera escondida. Depois, aparece brincando com seus dois filhotes, e também os amamentando.
As três onças, todas fêmeas, estão entre as 39 identificadas pelos pesquisadores da RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) Sesc Pantanal, a 145 km de Cuiabá. Os registros foram feitos do fim de 2020 ao final de 2023, em mais de 300 mil vídeos.
Na segunda-feira (22), o Sesc lançou uma campanha de votação para a escolha dos seus nomes.
Para cada uma, há duas opções, inspiradas na língua indígena bororo, falada na terra indígena Perigara —que faz divisa com a reserva e fica próxima ao lugar onde as três onças foram avistadas, camufladas em área coberta por folhas secas.
Para a mãe, as opções são Borora, em referência ao povo Bororo, e Aurora, alusão ao amanhecer, horário em que os animais foram vistos.
Já para as filhotes, as alternativas trazem referências culturais e ambientais da região.
A primeira pode se chamar Celeste, ligado ao céu, ou Rosa, inspirado no apelido de Poconé, onde fica a reserva, conhecida como "Cidade Rosa". Para a segunda, os nomes propostos são Piúva, como é conhecido popularmente o ipê-roxo, árvore de destaque no pantanal, ou Tchuva, que significa "chuva" no sotaque poconeano, marcado pela influência indígena.
As onças são diferenciadas pelos padrões na pelagem, que incluem as formas das rosetas —manchas ou pintas que cada uma carrega. Os pesquisadores começaram a nomeá-las para entender melhor como elas ocupam o espaço da reserva.
"Convidar brasileiros de todo o país a escolher os nomes das onças avistadas na reserva é uma forma de envolvê-los no trabalho de conservação do bioma", diz Cristina Cuiabália, bióloga e gerente-geral do Polo Socioambiental Sesc Pantanal.
O pantanal, diz o pesquisador Guilherme Servi, tem sofrido nos últimos anos perda de habitat em função do agronegócio e modelos de produção que não são tradicionais na região, o que prejudica a biodiversidade.
O bioma também foi vítima de períodos de seca cada vez mais longos e incêndios nos últimos anos. Durante os incêndios de 2020, os pesquisadores estimaram uma perda de ao menos 20 mil animais apenas na reserva particular.
A onça-pintada, um dos animais mais simbólicos da fauna brasileira e ameaçada de extinção, necessita de extensas áreas naturais bem conservadas para sobreviver. Por isso, sua presença em uma região é um indicador de qualidade ambiental. Como predadora no topo da cadeia alimentar, também mantém o equilíbrio ecológico dos ecossistemas onde vive.
A partir do seu monitoramento, explica Servi, é possível saber mais sobre a preservação das áreas, da espécie, e entender até mesmo como ela é afetada pela crise climática e pelas mudanças entre os períodos de cheias e secas no pantanal.
"As pesquisas têm revelado a grande rede de conexões que mantém o bioma funcionando, os efeitos das mudanças nos territórios e fornecem insumos indispensáveis à sensibilização das pessoas", diz Cuiabália.
Em novembro, aliada às câmeras fotográficas, os pesquisadores tentarão colocar colares com GPS em três onças para compreender melhor seus padrões de movimentação.
A pesquisa é feita em parceria entre o Polo Socioambiental Sesc Pantanal, o Museu Nacional, as universidades federais do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul e o Grupo de Estudos em Vida Silvestre.