A Diretoria de Comunicação da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) republica, neste sábado (15.11), data em que se despede de um dos seus fundadores, a entrevista concedida por ele, professor João Porto Rodrigues, à jornalista Hemília Maia.
A entrevista foi publicada originalmente em julho de 2018, para a Edição Especial dos 40 anos da Instituição.
“Começamos essa faculdade com a cara e a coragem. Fizemos nosso primeiro vestibular, na marra. Hoje a família mato-grossense não tem preocupação com a continuidade do ensino dos seus filhos. Terminou o 2º grau, vai lá e faz o vestibular.”
João Porto Rodrigues (10.07.1944 – 15.11.2025)
Unemat Comunica - Qual era o significado de Ensino Superior no interior de MT e do Brasil em 1978?
João Porto Rodrigues - Dificuldade. Em 1978 Cáceres oferecia apenas o segundo grau. Tinha o curso técnico de Contabilidade e o curso Normal para formação de professores de primeiro grau. Os que sonhavam ter curso superior tinham que se deslocar para um grande centro. Os filhos daquelas famílias que tinham um poder aquisitivo maior geralmente viajavam para estudar no Rio de Janeiro ou Campinas. Pouquíssimos voltavam e Cáceres continuava deficiente.
UC - Como se deu o encontro dos fundantes do IESC? Em que circunstâncias surge a ideia de Ensino Superior em Cáceres?
JPR - No meu retorno, recém-formado como Economista, fui dar aula na Escola Técnica de Comércio e lá encontrei o professor Edival, que era o diretor, e ficamos amigos. Ele me convidou para ser o vice-diretor. Um dia, conversando sobre a dificuldade de estudar em Cáceres, surgiu aquela vontade e interesse de ajudar o pessoal menos favorecido a fazer um curso superior, independente da situação financeira. Convidamos a Miriam, a Neuza e o Luttgards. Criada a ideia, saímos à procura das pessoas que iriam proporcionar as condições. Começamos essa faculdade com a cara e a coragem. Fizemos nosso primeiro vestibular, na marra.
UC - Existiu o "tal" encontro da criação debaixo da árvore, à beira do rio?
JPR - Existiu. (Risos). Esse encontro era basicamente meu e do Edival. A gente terminava a aula no Raimundo Cândido dos Reis e ia prá lá (Society Lanches) comer e terminar as conversas que começávamos na escola. Depois a gente repassava a conversa para os outros. Esse lugar ficou na nossa mente como um ponto de troca de ideias.
UC - Como foi assistir às transformações de Iesc, para FCUC, FCESC, Fesmat, até Unemat?

JPR - (Emocionado e com a voz embargada) O maior orgulho que tenho foi de ter participado disso e ver o que é a faculdade hoje funcionando e beneficiando o povo. O bem que essa faculdade faz para toda população de MT. Pra nós, pra mim, em memória do professor Edival, é um sonho realizado. Satisfação maior é impossível.
UC - A realidade 40 anos após a ideia original chegou a passar pela cabeça dos mais otimistas?
JPR - O sonho era esse. Mas, lógico que a gente não esperava um crescimento como é hoje. Isso se deu também pelos administradores que nos sucederam.
UC - A Unemat é uma história que faz parte de muitas outras. Onde a sua história de vida se funde com a da Unemat?
JPR - Nunca fui reitor, eu era substituto imediato do Edival. Depois que ele saiu ajudei a Miriam e a Olga. Fiquei 10 anos trabalhando no Iesc. Depois que a Fundação Centro Universitário de Cáceres (FCUC) foi criada, e os diretores passaram a vir de Cuiabá, a filosofia deles era muito diferente, então me afastei.
UC - Qual é o significado de Ensino Superior no interior de MT e do Brasil em 2018?
JPR - Satisfação. Meu sentimento é de sonho realizado, de projeto que atingiu seu objetivo com sucesso. Ter a universidade praticamente dentro de Mato Grosso inteirinho. Hoje a família mato-grossense não tem preocupação com a continuidade do ensino dos seus filhos. Terminou o segundo grau, vai lá e faz o vestibular.
UC - Na atual conjuntura, se os "professores fundantes" se reunissem, qual seria a semente a ser plantada para frutificar o futuro?
JPR - Hoje a semente seria desenvolvimento. Em outra época criei uma frase: O Iesc é uma pequena semente que foi semeada num solo fértil, que adubada, criada com carinho, cresceu e hoje dá bons frutos para Cáceres, para Mato Grosso e para o Brasil.
Nota de Pesar