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Enem:Concorrentes têm realidades diferentes
Por Diário de Cuiabá/Alecy Alvex
09/06/2013 - 08:59

Foto: arquivo
Apesar de caminharem na mesma direção, estudantes de escolas públicas e particulares vivem realidades diferentes na preparação para o ingresso no ensino superior. Enquanto os alunos da rede privada estudam em condições ambientais confortáveis e dispõem dos meios tecnológicos mais avançados, muitos até em tempo integral, os das escolas públicas precisam superar barreiras sociais para chegar à sala de aula onde, na maioria das vezes, não dispõem da infraestrutura mínima necessária. No país, - aqui em Mato Grosso não seria diferente -, as famílias de maior poder aquisitivo, ou na base de sacrifício orçamentário mesmo, mantém os filhos em escolas particulares até o ensino médio com o objetivo de proporcionar maiores chances de ingresso em um bom curso em faculdades públicas. Isso acontece porque, ao contrário do ensino público básico e médio, que não têm boa avaliação, com algumas exceções, no nível superior são as instituições públicas que se destacam em qualidade. Alysson Correia, 17 anos, Amanda Kariny Paula de Andrade, 17, Shayenne Paula Vidal de Matos, 16, e Ana Paula Rodrigues Moraes, 18, estão entre os 176 mil inscritos no Exame Nacional do Ensino Médio(Enem). Alunos de escola privada, Alysson e Amanda se dedicam em tempo integral aos estudos, enquanto Shayenne e Ana Paula, estudantes da rede pública, precisam conciliar estudo e trabalho. Filha de uma ex-cobradora de ônibus que agora é secretária em uma pequena empresa, desde os 15 anos Shayenne trabalha como menor aprendiz para ajudar no orçamento da casa. O sonho dela é ser Psicóloga, profissão para a qual acredita ter vocação de sobra. “Sou o colo que as amigas procuram”, diz. Todos os dias ela sai de casa pouco depois das 6hs para o trabalho, de onde segue direto para a escola. E em casa, onde mora com a mãe, avó e dois irmãos menores (de 11 e 12 anos), tem que ajudar nos afazeres domésticos. Pouco tempo lhe sobre para os estudos, mas nem por isso ela reclama da vida. A expectativa dele é ingressar na faculdade pelo sistema de cotas para alunos de escolas públicas. Ana Paula tem uma rotina ainda mais puxada que a colega Shayenne. Além de trabalhar pela manhã e frenquentar o “terceirão” à tarde, faz cursinho preparatório público(Cuiabá-Vest) no período noturno. Ela deixa a casa, no bairro Pedra-90, por volta das 6h30 e só retorna perto das 23hs. ESCOLA PRIVADA - Com o objetivo de cursar Medicina, Alysson, de 17 anos, estuda em tempo integral em uma escola privada(Cin-Colégio Isac Newton) com uma carga superior a 40 horas/aulas semanais. Faz o terceiro ano do ensino médio junto com a preparação para o Enem e outros vestibulares durante o dia. À noite, duas vezes por semana, faz um preparatório para a prova de redação. Alyssom, que estudou em escola pública por quatro anos no ensino básico, acha que o ritmo atual de estudos não é exagerado para quem, como ele, desde a infância sonha em ser médico. Ele acha que tem que dar valor ao sacrifício que a mãe, Alessandra, que trabalha como vendedora autônoma de roupas, vem fazendo para custear seus estudos. Também foi ideia dele, diz, frequentar escola em tempo integral. “Quero estudar, mas preciso ser cobrado; até peço para minha mãe me cobrar”, completa. Alysson diz que a família não tem como pagar a faculdade de Medicina em instituição privada. Além do Enem, ele fará provas em diversas faculdades públicas que ainda mantém o modelo tradicional de vestibular. Ele já fez a da Unemat e aguarda o resultado. Com Amanda, 17, a diferença é que não ela estuda em tempo integral na escola. Faz o “terceirão” à tarde e dedica suas manhãs, em casa, à revisão dos exercícios feito em sala de aula, tenta resolver provas anteriores do Enem e analisar as redações com as maiores pontuação. Amanda, contrariando a maioria das adolescentes de sua idade, sequer tem facebook. Ela acha que bater papo nas redes sociais poderia desviar seu foco dos estudos. E diz que usa o e-mail para estudar online em grupo e trocar conteúdos com colegas do cursinho. Amanda diz que seus pais não são ricos, trabalham como uma microempresa de refrigeração, mas pelo menos ela não precisa trabalhar para ajudar a família. Tanto Amanda como Alysson reconhecem quem uma grande parcela dos estudantes das escolas públicas não tem a possibilidades de dedicação exclusiva aos estudos. Por causa disso ambos se dizem favoráveis ao sistema de cota.
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