Cáceres anárquica
Por por Domingos Sávio da Cunha Garcia
21/10/2013 - 21:13
Todo cacerense que se preza sabe que Cáceres é uma cidade histórica (tem 235 anos), com um passado que remonta o período colonial, com um desenvolvimento acelerado no período entre 1850 e 1920 e com uma retomada em seu crescimento entre 1960 e 1990, quando começou a atual estagnação. É portanto um cidade histórica, que faz com que tenha um perfil diferente da esmagadora maioria das cidades de Mato Grosso. Isso faz de Cáceres uma cidade diferente, que precisa ser tratada como tal, porque o nosso passado nos valoriza, e nos dá identidade própria. Cuidar do patrimônio histórico da cidade é cuidar de nós mesmos; é identificar de onde viemos, para que possamos construir o nosso futuro no presente. Ignorar isso é sinônimo de perda de identidade, é não saber quem somos e cada perda do patrimônio material (as casas de famílias, as casas comercias, a antiga Ponte Branca, o cais enterrado da praça Barão do Rio Branco, as colagens no Marco do Jaurú) ou imaterial (a música da fronteira, que nos liga historicamente aos países platinos, como Bolívia, Argentina e Paraguai; a dança, o tomar guaraná ralado, a cesta feita depois do almoço, enfim) perdemos mais a nossa identidade e nos tornamos \"mais uma cidade\". Não somos \"mais uma cidade\", somos Cáceres, que não nasceu ontem, que se reafirma em sua história e que precisa ser valorizada por isso. O tombamento do centro histórico pelo IPHAN é o reconhecimento de nossa história, é nos tratar de modo diferente e não é um peso como querem alguns. O que precisamos fazer é nos valorizar mais e não ficar olhando outras cidades, cujo desenvolvimento recente as fez crescer mais que Cáceres (até por responsabilidade direta de muitos cacerenses), como modelo. Meu modelo de cidade é aquela que tem orgulho e quer preservar o seu passado, para construir um futuro digno para sua população, uma cidade que tenha regras, que tenha quem faça cumprir as regras e que tenha um povo consciente disso. Não é possível continuar como está hoje, uma terra de ninguém, onde o espaço público é apropriado por particulares, que fazem o que bem entendem, onde as construções são feitas sem qualquer regra, onde se dirige na contramão e não aceita qualquer questionamento, e por ai vai... Uma cidade onde cada um faz o que quer é a Cáceres anárquica que temos hoje e que precisa mudar; e mudar com urgência! *Domingos Sávio da Cunha Garcia, cacerense e professor da Unemat