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As canções e as paixões de Elis
Por GIOVANNI RIZZO
06/01/2017 - 13:33

Foto: divulgação

A cinebiografia é um dos gêneros que mais funciona no cinema nacional. A aproximação entre o ficcional e a realidade de uma vida pública é um dos temas mais atrativos por aqui, Cazuza – O Tempo Não Para, Tim Maia e 2 Filhos de Francisco são exemplos do sucesso que esse tipo de longa possui. A dramatização da vida de alguém que conquistou o público outrora conecta facilmente espectador e filme. É evidente que a maior cantora do Brasil também teria sua biografia nos cinema, e até surpreende como esse momento demorou a chegar. 

Dessa maneira, o filme Elis faz uma série de recortes de importantes momentos da vida e carreira de Elis Regina, desde sua chegada ao Rio de Janeiro em 1964 até sua morte em 1982. Com isso, o longa carrega certa pretensão de dar conta de tudo o que cercou Elis em sua vida, numa sensação de que o projeto exclui qualquer tipo de recorte, a fim de possibilitar a citação de tudo o que cercou aquela personagem tão presente no imaginário cultural do Brasil. 

Sendo assim, Elis é um filme de elipses, que salta de um tempo a outro numa relação quase arbitrária, que seleciona seus momentos por sua importância extra-filme, ou seja, pelo que já se sabe a respeito de Elis Regina e não pelo que está contido no longa. Com isso, Elis passa uma sensação que é uma mera ilustração de fatos já sabidos, como se fosse fotos de uma revista que recapitula, através de uma narrativa saudosista, a vida da pimentinha. 

Esse fato gera uma sensação de que o longa é incapaz de conseguir adentrar no mundo particular ou psicológico da cantora. O que Elis mostra é apenas um retrato realizado através da correção de cor proveniente do processo digital. Dessa forma, o filme é impecável em sua construção cênica do momento em que a cantora viveu, na sua direção de fotografia e de arte reside o preciosismo dessa reconstituição de época. No entanto, Elis é um filme que consegue captar muito pouco do espírito daquele tempo. 

Mesmo que o longa traga uma série de figuras conhecidas do meio artístico, como Luís Carlos Miele ou Nelson Mota que aprecem como figuras extremamente comuns, Elis não se dá o trabalho de se aprofundar no imaginário coletivo daquele momento, período importantíssimo para o Brasil, de incertezas políticas e efervescência artística. O longa de Hugo prata não consegue nem ser estudo psicológico de sua protagonista e muito menos retrato de um tempo histórico. 

Muito disso se dá pelo fato de que o filme é uma extensa costura de citações, uma obra em que se fala sobre todas as coisas, mas mostra-se pouco e, sobre tudo, sente-se quase nada. Se a voz de Elis reverberava em emoção, seu filme faz com que isso seja apenas verbalizado. Todas as situações e relações são primeiro faladas para depois serem mostradas, distanciando-se de qualquer envolvimento sentimental com o longa. Elis parece, na verdade, estar num constante tom informativo sobre sua protagonista. Isso ocorre, por exemplo, quando Elis Regina dá uma famosa entrevista na França, onde diz que o Brasil estava sendo governado por gorilas, até aquele momento da projeção mal havia se falado da ditadura, muito menos mostrado algo que fizesse referência a isso. O longa não consegue construir seus assuntos sem empregá-los em algum diálogo. 

Nessa verborragia e elipses constantes o que se vê na tela são momentos interessantes sendo desperdiçados. Após essa atabalhoada apresentação a respeito da ditadura, o longa constrói algumas sequências mostrando a relação de Elis Regina com o regime militar, é nesse ponto que o filme possui seus momentos mais fortes, os dois encontros entre Elis e o cartunista Henfil, culminando na entrega da letra de O Bêbado e o Equilibrista, dedicada ao irmão do desenhista, situação de extrema força dramática. No entanto, mesmo em seus pontos altos, o longa parece estar sempre se apressando, querendo chegar logo a outra cena ao próximo momento. 

No longa, é curioso como Elis pede para que ela possa cantar de forma livre e é isso que permite um interesse pelo longa. A pequena linha condutora de Elis são as músicas da incrível interprete e isso é algo que encanta por natureza, a forma como a cantora sai da bossa para ajudar a criar a MPB, e depois abraçar a guitarra elétrica para remodelar sua carreira, e evidenciar suas canções entre o lirismo e o protesto, assim por diante. O filme, dessa forma, é um faixa a faixa de Elis Regina com uma interprete que se esforça muito para se aproximar do personagem real. 

Assim, Andreia Horta dá corpo à Pimentinha, numa atuação baseada na imitação dos trejeitos daquela cantora, algo que na maior parte do filme dá certo, chega a ter momentos que realmente parece que houve uma metamorfose e Horta se transformou em Elis. Atuação convincente de Horta e a narrativa musical de Elis são os fatores que seguram esse filme até o fim. 
 

 

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